Jornal Nova Geração

IMPACTO ECONÔMICO

Antiga Cervejaria Polar carrega a história de Estrela ao longo de 110 anos

Fábrica foi grande geradora de empregos e impulsionou a economia local durante décadas. Hoje, o município gerencia parte do prédio. Objetivo é ocupar área ociosa com restaurantes e espaço de trabalho compartilhado

Foto: Karine Pinheiro

“Durante 27 anos fiz o mesmo percurso de bicicleta, entre o Costão e a Polar. Vi muita coisa mudar em Estrela”. Romeu Bazanella iniciou sua trajetória profissional na Cervejaria Polar em 27 de maio de 1970. Até então, seu único trabalho era na roça. O primeiro e único emprego fixo permitiu acompanhar as transformações que a instalação da do complexo, que completou 110 anos nessa terça-feira, 10, gerou na cidade.

O senhor que durante anos pedalou abaixo de sol e chuva, frio e calor, relata que participou da construção de uma parte do prédio. “No levantamento da fábrica mesmo”, diz ele. Conta que na parte em frente à praça Menna Barreto, foi erguido o refeitório do complexo. “Naquela época não tinha muitos prédios ali. A rádio Alto Taquari funcionava na praça”, relembra. Ele também trabalhou durante anos na cozinha da fábrica, até 1997.

Da estrada de chão até o asfaltamento das vias, Bazanella trocou os trajetos durante muito tempo. Viu prédios, mercados, farmácias e escolas surgirem no meio do caminho. “Muita gente de fora veio morar aqui. Primeiro para trabalhar na fábrica. Depois o comércio se fortaleceu”. Em 1910, a população estimada de Estrela já ultrapassava mais de 25 mil habitantes, de acordo com o Atlas Socioeconômico do RS. Em seu auge, a fábrica contava com quase 1 mil funcionários.

Romeu Bazanella guarda lembranças da época em que trabalhou na fábrica (Foto: Karine Pinheiro)

Legado da cerveja

O presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais (Acerva) de Estrela, Márcio Braun, destaca a possibilidade de construir um Museu da Cerveja no Complexo. Segundo ele, além de retratar a história da Cervejaria Polar, o objetivo é destacar a linha do tempo da bebida e falar sobre o legado deixado pela fábrica.

“Assim como fez eu continuar no ramo, hoje o Vale do Taquari como um todo carrega isso. A região é forte na produção de cervejas artesanais”, aponta. Parte da família de Braun trabalhou na antiga fábrica. Seu pai era mecânico e seu tio-avô era cervejeiro.

Com essa inspiração, carrega o legado deixado pela família. “Isso sempre me causou curiosidade e carrego comigo essa inspiração de ter visto meu pai e meu tio lá. Busco sempre produzir cerveja com qualidade”. Hoje, além de arquiteto, Braun fabrica cerveja artesanal como herança.

Reformas no complexo estão nos planos do Executivo (Foto: Arquivo/Jhon Willian Tedeschi)

Cervejaria fecha portas em 2006

Após gerar empregos e impulsioar a economia do município, a fabrica passou a avistar o fechamento. A reestruturação do Polar iniciou em 1992, quando o grupo iniciou o processo de na mudança produtiva nas unidades do RS. Em agosto de 1993, segundo o historiador Airton Engster dos Santos, uma nova crise atinge a Antarctica/Polar no RS, devido à alta tributação que incidiu sobre o ramo de bebidas.

Embora o lucro da Polar tenha triplicado entre 1994 e 1995, a fusão entre a Brahma e Antártica, com o surgimento da AmBev em 1999, gera uma mobilização popular com o slogan “Pô Polar, Estrela é teu lar”. A partir deste momento, os cervejeiros esperam o desemprego.

Em 2001, iniciam as demissões em massa na unidade de Estrela. O historiador destaca que a justificativa da AmBev era promover uma reestruturação nas áreas de produção e logística nas áreas de distribuição de cerveja no estado do RS. Em 2002, sobram 83 cervejeiros em Estrela e partir desta disto, a filial fica restrita ao envasamento e distribuição da bebida.

Em 2005, Estrela perde a fábrica de cervejas, mas fica com um grande distribuidor regional dos produtos da AmBev. Já em 2006, segundo Engster, a capacidade ociosa elevada gera alto custo operacional e a decisão é encerrar as atividades de Estrela e Montenegro.

O prefeito Elmar Schneider ressalta que a diversificação econômica é fundamental para que não aconteça outro impacto negativo como foi o fechamento da fábrica. “A Polar foi adquirida por um grupo já com uma visão muito lucrativa. Se retiraram da cidade e geraram esse baque econômico e nas famílias, porque praticamente toda a família tinha um familiar que atuava, prestava serviço direto ou indiretamente para o complexo da cervejaria Polar”, lembra.

Futuro da Polar

Hoje, boa parte da estrutura é administrada pelo Executivo. No prédio fica instalada a Secretaria de Desenvolvimento, Inovação e Sustentabilidade (Sedis), Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), parte da área foi doada ao Foro Trabalhista de Estrela e outras áreas pertencem a empresas privadas.

Em matéria do Jornal Nova Geração, em 29 de abril, o governo municipal anunciou que estava em busca de parcerias para investir no complexo. O prefeito Elmar Schneider destaca alguns espaços do prédio já contam com alguns investimentos. Reformas na estrutura também estão previstas.
“Até o final do ano estaremos colocando restaurantes. Estamos trabalhando em outros investimentos e logo teremos novidades sobre a ocupação da estrutura do Complexo”, adianta o chefe do Executivo.

Relembre

Matéria do Jornal Nova Geração, publicada em 29 de abril deste ano, destaca a procura do Executivo por parcerias para recuprar atividades no Complexo da Polar. Na época, governo anunciou destinação de espaço compartilhado para startups. Também era avaliada a possibilidade da instalação de praça de alimentão e mirante.

Linha do tempo

  • 1912 – A cervejaria em Estrela foi fundada em 10 de outubro com o nome de “Sociedade em Comandita Júlio Diehl & Cia”.
  • 1914 – A empresa Júlio Diehl & Cia foi oficialmente registrada em 16 de abril de 1914. A cerveja Aurora foi uma das primeiras marcas da empresa.
  • 1925 – A cervejaria passou a denominar-se Kortz, Dexheimer & Cia, e teve como sucessor Luiz I. Mussnich. Após seu falecimento passou a denominar-se Viúva Luiz I. Mussnich em 1935.
  • 1945 – Com o nome de Cervejaria Estrela S/A, a empresa foi incorporada por um grupo de santa-cruzenses. Neste ano, a cervejaria passa a denominar-se Polar S/A.
  • 1962 – No ano de seu cinquentenário, a empresa produzia as cervejas Polar Chopp e Casco Escuro, bem como Guaraná Frisante, Água Estrela, Soda Laranja, Gasosa Cristal e Água Tônica.
  • 1972 – A Polar S/A é adquirida pelo Grupo Antarctica Paulista e a partir desta data recebe grandes incentivos do município como doação de áreas de terras em 1973 e 1987. Empregava em torno de 800 cervejeiros.
  • 1995 – Em 1995 triplica o lucro da Antarctica/Polar no Rio Grande do Sul a R$ 46,8 mil. Neste ano, os cervejeiros receberam participação nos lucros da empresa.
  • 1997 – Aprofunda o processo de reestruturação produtiva iniciado em 1992. Em 2 de julho de 1999 eclode a notícia da Mega-Fusão das maiores cervejarias do Brasil, ou seja, Brahma e Antarctica, efetivada em 19 de abril de 2000. Em 2001 a empresa fecha aos poucos em Estrela.
  • 2002 – Demissão em massa de cervejeiros. Em 2004 a Ambev noticia aliança Global com Interbrew de Bruxelas.
  • 2006 – Em 20 de abril, a multinacional Ambev anunciou a desativação da fábrica de cervejas de Estrela.
  • 2007 – O Legislativo autorizou o Executivo a comprar os imóveis, pertencentes à Ambev, com o complexo onde funcionava a Cervejaria Polar pelo preço final de R$1,4 milhão, em 36 parcelas, em conjunto com o Grupo Conpasul.
  • 2008 – As ruas Arnaldo J. Diel e Coronel Flores, que faziam parte da antiga fábrica de cerveja Polar foram devolvidas para comunidade de Estrela após ficarem fechadas por 34 anos.
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