Só conseguiremos mudar estes índices se houver conscientização e atuação de todos.” A frase do promotor titular da Promotoria de Justiça Regional da Bacia Taquari-Antas, Sérgio da Fonseca Diefenbach, traduz a necessidade de engajamento para melhorar os índices de qualidade dos mananciais da região.
Trabalho de pesquisa do Laboratório Unianálises, contratado pelo Grupo A Hora, revelou o grau de poluição de dois rios e 12 arroios do Vale do Taquari. Os dados foram revelados ontem, no suplemento Viver Cidades. Pela segunda vez, amostras de 23 pontos foram analisadas, dentro do projeto de monitoramento que prevê quatro etapas de análise, em março e outubro deste ano e de 2023.
O grau de poluição não variou muito de um semestre para o outro, porque todos os mananciais continuaram nas faixas “péssima” e “ruim”, conforme o Índice de Qualidade de Água (IQA). No parâmetro coliformes termotolerantes – classificado em classe 1 (ótimo), 2, 3, 4 e acima do limite da pior faixa – houve melhora, mesmo assim, quatro pontos estão acima da pior classe.
Para Diefenbach, os levantamentos sobre a qualidade da água são fundamentais, ao passo que chamam a atenção da comunidade, das empresas, poder público, do próprio MP e dos órgãos de fiscalização. “O maior patrimônio natural do Vale do Taquari é o rio Taquari, que está sendo, agora, nos últimos meses, mais olhado e frequentado. Portanto, é um grande momento para refletirmos sobre a saúde desse enorme recurso que temos à disposição.”
Importante, na visão do promotor, que todas as empresas geradoras de efluentes tenham licença ambiental e lancem conforme os limites estabelecidos, a comunidade observe como é feito o tratamento de esgoto da sua casa e os órgãos de fiscalização estejam atentos. “Temos uma tarefa muito linda por vários anos pela frente, que é controlar o que estamos gerando e controlar os geradores de resíduos, que são as empresas, pessoas física e cada município que está perto do rio Taquari.”
O Marco Regulatório do Saneamento Básico exige 90% do esgoto sanitário coletado e tratado até 2033. Na visão do presidente do Conselho do Meio Ambiente de Lajeado, Lucas Engler, este é um dos maiores desafios da atualidade, tanto em âmbito municipal, estadual quanto federal. “Quando se fala de falta de tratamento de esgoto não é a atitude inadequada de uma pessoa, mas o crescimento da cidade sem planejamento a longo prazo.” Ele observa que casas com mais de 20 anos não têm sequer tratamento adequado com fossas sépticas.
Os novos loteamentos, destaca o secretário do Planejamento, Urbanismo e Mobilidade de Lajeado, Giancarlo Bervian, devem preparar toda a rede e conexões para, futuramente, ligar às estações de tratamento de esgoto (ETE), o que ainda não é exigido pela legislação. “Imagino que o maior entrave seja onde e como vão ser instaladas as estações de tratamento e fazer as conexões em locais que não têm rede de esgoto, como a parte mais antiga da cidade.”
Além disso, não há definição de quem vai gerir o sistema. “Será a iniciativa privada, o governo por meio da Corsan ou o município? Estas indefinições são os principais entraves para cumprir com o Marco Regulatório do Saneamento Básico e chegarmos em 2030 com, pelo menos , um mínimo necessário de esgoto tratado na nossa cidade.”
Nas organizações
Para a engenheira ambiental Bruna Dadalt, ainda é um desafio fortalecer o assunto meio ambiente nas análises e nos processos de tomada de decisão na sociedade e nas organizações. “Existe uma parcela da população que compreende a importância da busca pelo desenvolvimento sustentável e coloca em prática ações coerentes com suas responsabilidades, mas infelizmente ainda temos um grande grupo de pessoas que consideram os custos envolvidos com questões ambientais como “um gasto que não se paga” e não buscam pelo equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.”
Para Bruna, a conscientização deve começar nas residências, na periodicidade de limpezas de fossas e caixas de gordura, até o tratamento de efluente nas grandes empresas geradoras.
O mais poluído
As análises de água apontaram que o arroio Lambari, em Encantado, tem o pior índice de qualidade entre os 23 pontos monitorados. Entretanto, muitos estão na mesma faixa de poluição, a “péssima”.
De acordo com a informações da Secretaria de Saúde, Meio Ambiente e Assistência Social de Encantado, o motivo é “antrópico”. O arroio passa no meio da cidade e a urbanização acompanha grande parte do curso. “O lançamento inadequado de esgoto e carga orgânica são, segundo a secretaria, os principais responsáveis pelas condições do manancial. “Como medida paliativa, todos os moradores deveriam limpar suas fossas e verificar se seu sistema de sumidouro está adequado”, diz a engenheira ambiental Marina Agostini.