Sob influência da pandemia e guerra na Ucrânia, desde 2021 o mercado global eleva o preço das commodities e por consequência os custos no segmento de proteína animal. A permanência desta condição compromete o resultado das cooperativas, empresas integradoras e produtores independentes.
Sem a perspectiva de redução no valor dos grãos, as indústrias buscam alternativas para manter as atividades. A diminuição de plantéis e quadro de funcionários estão entre medidas implementadas, a exemplo da Languiru. Em paralelo, líderes do setor defendem a necessidade do apoio por parte do governo para melhorar a competitividade do produto frente a outros estados.
O impacto sobre a proteína animal também reflete no desempenho das gigantes do setor. A BRF registrou prejuízo líquido de R$ 137 milhões no terceiro trimestre, conforme balanço divulgado no início do mês. A companhia de alimentos atribui o resultado a um cenário adverso para o consumo no mercado interno e necessidade de ajustes operacionais.
Na mesma linha, a JBS teve queda anual de 47,1% no lucro em comparação ao mesmo período do ano passado. Ainda assim, a empresa melhorou o resultado em relação ao trimestre anterior. Caso as condições de mercado não melhorem, há temor de reflexos na renda dos integrados.
Articulação regional
Representantes das indústrias também atribuem as dificuldades à falta de apoio do governo gaúcho. De acordo com o presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos, Gilberto Antônio Piccinini, a retirada de crédito presumido desde o início do ano reduz a competitividade com empresas de outros estados.
Em entrevista à Rádio A Hora 102.9 ele reforçou a necessidade da região se unir e defender o setor, uma das principais forças econômicas do Vale. “A retirada do benefício até pode incrementar a receita do governo em um primeiro momento. Mas a médio e longo prazo fará com que a produção industrial recue”, alerta Piccinini.
O presidente da Dália enfatiza ainda a importância dos prefeitos, por meio da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), defenderem esse pedido de socorro das agroindústrias. “A crise não é de apenas de uma cooperativa ou empresa, é de toda a cadeia produtiva”, reforça Piccinini.
ENTREVISTA – VALDECIR FOLADOR • PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES DE SUÍNOS DO RS
“A crise no setor deve se estender em 2023”
As dificuldades enfrentadas pelas cooperativas na região retratam uma realidade em todo o país?
Valdecir Folador – Sim, é uma situação nacional e até mesmo internacional. A atividade da proteína animal enfrenta problemas desde o ano passado com alta nos custos e recuo no valor das carnes. O poder de compra da população está comprometido e com isso sobra produto no mercado. Ao mesmo tempo, registramos um aumento de 6% na produção de carne suína. Essa situação complica as operações das empresas e dos produtores.
Qual o tamanho do prejuízo e como estancar essa crise?
Folador – No caso do suíno estimamos um prejuízo médio de R$ 110 por animal ao considerar o período de janeiro até agora. Esse número se refere ao produtor independente. No sistema integrado pode ser um pouco menos. Para retomar os lucros e sair desse cenário precisamos ampliar vendas, buscar mercado e reduzir custos com a nutrição animal.
Quais são as projeções para o setor de proteína animal em 2023?
Folador – Não consigo perceber alguma mudança no primeiro semestre do próximo ano. A tendência é seguir com as dificuldades enfrentadas até agora. A demanda global por grãos permanece elevada e pressiona os preços. Embora isso seja bom para o produtor de commodities, para a indústria representa prejuízo ainda maior. Diante disso, a tendência das integradoras é reduzir o plantel. Isso não será tão perceptível nas grandes companhias, como é o caso da BRF e JBS. Elas têm operações nos quatro continentes e conseguem manter o equilíbrio a partir de outra atividade mais rentável.