Nirce Terezinha Ferri trabalhou em várias ocupações antes de se tornar a única motorista no transporte público de Estrela. Dentre elas operadora de máquina, empregada doméstica, costureira e em restaurantes. Chegou a fazer Pedagogia, mas sentiu que não era aquilo que queria para a sua vida profissional. Se tornou então frentista às margens da BR-386, e começou a se maravilhar pelos ônibus e caminhões.
“Eu olhava e pensava: será que um dia eu posso?”, relata. Nirce hoje tem 15 anos de experiência na função, e a cinco faz parte da rotina dos que usam os serviços de micro-ônibus em Estrela. Além disso, galgou posições e chegou ao posto de supervisora, no que passou a liderar uma equipe de homens.
Ela lembra que, apesar de ainda existir, o preconceito contra mulheres em profissões com predominância de pessoas do sexo masculino ainda existe. Entretanto, para Nirce, o bom atendimento e o cuidado com clientes e colegas fizeram com que ela evoluísse na carreira. “Acho que meus colegas têm mais coragem, se arriscam mais do que eu. Mas nós mulheres temos mais cuidado e mais paciência, uma estratégia diferente para fazer as coisas”, aponta.
Atenção aos detalhes
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, mais de 200 mil mulheres já trabalham nas mais diversas áreas ligadas ao ramo da construção civil no Brasil. Isso representa cerca de 20% dos trabalhadores do setor.
As ocupações femininas mais comuns em obras são as ligadas ao acabamento das obras, tais como a pintura. Janete Texeira da Rosa foi criada no Vale, mas descobriu a profissão ao ir para Florianópolis, há 13 anos atrás. Desde então, ela atua para dar uma nova aparência às casas dos clientes. “A maior satisfação é ver o cliente feliz com o resultado. A gente transforma um espaço e a relação da pessoa com esse espaço”, afirma.
Além da realização, Janete já busca passar a profissão adiante para outras mulheres. Em um curso na igreja evangélica que frequenta, ela pode falar e mostrar a prática também às meninas. “Elas não devem se apegar mais a esse preconceito sobre trabalho. Eu conquistei o respeito dos colegas e dos clientes. Hoje, trabalho praticamente apenas por indicação”, explica.
O apoio de Janete, entretanto, começou dentro de casa. Isso porque foi o marido, Paulo Ricardo dos Santos, que já estava no ramo, quem a chamou para atuar na pintura.
Paixão e persistência
Cibele Machado Stürmer se sente livre e realizada quando está na boleia do caminhão. Ela atua no setor de transporte de cargas há cinco anos. “A gente sente aquela saudade de casa, da família. Mas em casa eu também sinto saudade da estrada, mesmo que tenha grandes desafios”, diz.
Para Cibele, saber se impor diante de situações de desrespeito é vital para as mulheres que ingressam na carreira. “Vale a pena. É preciso persistência para lidar com o preconceito que a gente ainda sofre. Acumular conhecimento e botar em prática na estrada”, atesta.
Mulheres ao resgate
A comandante Caroline Hauschild atua nos Bombeiros Voluntários de Imigrante e Colinas desde 2020. Até ir para a linha de frente no combate ao fogo e para o resgate em acidentes, seu projeto era o de estudar Medicina. A pandemia de covid-19 despertou nela a vontade de fazer diferente. “Resolvi que era a hora de ir ajudar na linha de frente. Me alistei no curso dos Bombeiros e comecei a atuar”, lembra.
Caroline é uma entre dez bombeiras que atuam na associação de voluntários entre as duas cidades. São quatro no operacional e seis na diretoria, incluindo a comandante. Segundo ela, não há preconceito de forma direta à atuação dela ou de suas colegas. “O que mais vemos ainda é no atendimento das ocorrências. Fomos ajudar um grupo de homens em um carro que caiu numa valeta, ao lado da rodovia. Num primeiro momento eles acharam um absurdo receber ajuda de mulheres”, aponta.
Segundo a comandante, dentro da entidade a situação é tranquila, e quem é atendido acaba por entender o valor das mulheres nos serviços dos bombeiros. “Esse grupo que eu falei nunca vai esquecer e nem subestimar as gurias”, garante.