Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as abelhas e outros polinizadores desempenham um papel vital na manutenção dos ecossistemas terrestres. Cerca de 85% das plantas com flores presentes nas matas e florestas nativas e mais de 3/4 das espécies cultivadas dependem da polinização para uma produção de qualidade e quantidade signifi cativas. Na Mata Atlântica, por exemplo, 90% das espécies vegetais são polinizados por abelhas. “Nesse sentido, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a presença de polinizadores é imprescindível para o sucesso da reprodução das plantas em qualquer ecossistema, incluindo os agrícolas”, destaca a engenheira agrônoma, Juçara Ferri.
Embora algumas culturas sejam totalmente independentes da polinização promovida por insetos, ou seja, são autoférteis, em torno de 75% das espécies vegetais existentes são dependentes de agentes polinizadores (água, vento, animais, etc). “Nesse contexto, as abelhas, além de serem importantes polinizadores, são ainda consideradas um grande bioindicador da qualidade do meio ambiente”, completa Juçara.
Este serviço de polinização, de transporte de pólen, permite a fertilização das plantas e sua reprodução e é um processo fundamental para a perpetuação das mais variadas espécies vegetais.
“As abelhas, além de serem importantes polinizadores, são ainda consideradas um grande bioindicador da qualidade do meio ambiente”
Perigos
Devido à soma de diferentes fatores, como a redução das fontes de alimento e locais de nidificação (construir seu ninho), ocupação intensiva das terras e uso indevido de defensivos agrícolas, as populações de abelhas nativas têm sido reduzidas, colocando em risco todo o bioma em que vivem.
A engenheira agrônoma relata que um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, vincula o uso dos inseticidas neonicotinoides (de origem na molécula de nicotina) com o desaparecimento das colônias de abelhas durante o inverno. “De modo semelhante, um estudo brasileiro identificou que um dos agrotóxicos mais comuns no Brasil, o neonicotinoide imidacloprido, pode estar colocando em risco as abelhas nativas”, relata.
De acordo com a Embrapa, nas regiões tropicais, as abelhas sociais (Meliponina, Bombina e Apina) estão entre os visitantes florais mais abundantes. No Brasil, as abelhas sem ferrão (Meliponina) são responsáveis pela polinização de 40 a 90% das espécies arbóreas. “Portanto, o uso racional e adequado de agrotóxicos conforme recomendações técnicas das bulas dos respectivos produtos, bem como a preservação das matas nativas, são fatores que estão diretamente ligados a preservação dessas espécies”, ressalta Juçara.
O Vale do Taquari tem 1,7 mil apicultores, segundo o engenheiro agrônomo Cezar Burille. Ele é supervisor regional da Emater RS-Ascar e assistente técnico em apicultura e erva-mate. Com base no escritório de Encantado, Burille destaca que a região é boa produtora de mel. “O Vale do Taquari tem uma característica importante para produção de mel, que é ter mata nativa e de eucalipto, além de uva-do-japão, por exemplo.” Além disso, não há grandes lavouras de grãos, que geralmente utilizam agrotóxicos.
A estimativa de produção regional anual é 380 toneladas. Boa parte é exportada, além da distribuição para outros estados e consumo interno. “Temos bons profissionais e estruturas, como Casa do Mel – unidade de beneficiamento de produtos de abelhas em Encantado, em Roca Sales, que é nova e melhor da região”, destaca Burille. Em breve, entrará em operação a unidade de Doutor Ricardo.
Entreposto beneficia produtores da região
O engenheiro agrônomo Eduardo Mariottti Gonçalves destaca que a Emater/RS-Ascar, onde trabalha, dá apoio técnico, com cursos de formação, além de viabilizar a participação dos apicultores em feiras.
Outro ponto que considera importante é o processo de extração do mel. “A Associação de Apicultores de Encantado mantém a unidade de beneficiamento e segue todos os protocolos de boas práticas, o que garante o selo de qualidade.” A Casa do Mel dispõe de todos os equipamentos e áreas físicas necessárias para que os associados tenham em seus produtos o selo Susaf-RS – Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte.
O presidente da associação, criada em 2012, Valdir Dalla Vechia, 70, destaca a importância da certificação, já que com ela é possível ter a rastreabilidade do produto. Além disso, diferencia do produto feito e distribuído na informalidade.
O apicultor Josué Bigliardi, 42, relata que os primeiros anos de produção não foram fáceis. Entretanto, hoje ele só produz mel, diferente de outros produtores que se dedicam a outras culturas concomitantemente. Ele orgulha-se de oferecer ao mercado consumidor um produto orgânico, extraído de 200 colmeias, com uma produção acima da média na nacional, que é 30 kg por florada. “Em torno de 50 kg.”