Próximo da Avenida Rio Branco, em Estrela, um homem sai de dentro de uma loja ao meio-dia, vestido como Jesus Cristo. Um outro homem, mais novo, vai entrar em seu carro, que está estacionado em frente, e o cumprimenta. Ele responde, já dentro do personagem: “A paz do meu Pai pra ti!” O rapaz abre a porta do carro e sorri, divertido. O “Jesus” continua a falar: “E bota esse cinto que eu não vou te salvar.” Ambos riem. O cabeludo bem-humorado é Floydy Mattje.
De trás de um balcão em uma loja de implementos agrícolas, Floydy é categórico sobre a forma como ganha a vida. “Tenho quatro trabalhos, e nenhum emprego. Sou feliz com todas as coisas que faço”, aponta. Além de estar regularmente no atendimento do comércio, ele faz animação e sonorização de festas, tem uma marca de camisetas e também atua com a comédia.
Floydy é conhecido nas redes sociais por seu bom humor, em especial pelas fotos que faz nas ruas. Nelas, está trajado com vestes similares às de Jesus Cristo, o que começou a fazer desde o sucesso com a roupa na Festa à Fantasia de Lajeado, em 2022. Carrega também cartazes com frases curiosas. Dentre elas: “Para bom entendedor, minha cara fechada basta”. Ou: “Tá solteiro(a) porque briga até com ficante”. Apesar de morar em Estrela há 15 anos, as fotos são tiradas em outras partes do Vale, como o centro de Lajeado, onde aproveita o movimento para chamar a atenção para suas mensagens.
Nomes e origens
O nome de Floydy não é artístico. “O pessoal às vezes acha que é mentira. Teve um evento em Poço das Antas em que eu fui trabalhar e disse que meu nome verdadeiro era Onívio. Se eu chegar lá hoje vão me chamar assim”, gargalha. Além disso, em alguns momentos o comediante simplesmente mente a idade só para ver a reação das pessoas. “Eu tenho 33, e digo que tenho 45. Quem mente a idade para mais, além do adolescente que quer dizer que já tem 18? O problema é quando as pessoas acreditam”, aponta.
As histórias e brincadeiras inventadas remontam à infância de Floydy. Cresceu em sua cidade natal, Bom Retiro do Sul, no bairro São Francisco. Criado pela mãe solteira, junto com três irmãs, sempre usou o humor para se divertir. A mãe, Jussara Mattje, lembra que ele muitas vezes tirava inspiração dos jornais que lia todo dia. “Ele pegava as notícias sobre o Osama Bin Laden e inventava que era filho dele, acredita? Se metia em cada uma, às vezes levava uns tapas. Mas nunca deixava de brincar”, recorda.
Criatividade e cancelamento
Apesar de críticas que várias vezes surgem em seus conteúdos, Floydy se cuida, mas não tem medo de ser “cancelado” nas redes sociais. “Tem gente que se ofende com algumas coisas, mas aí é por conta do que a pessoa tem dentro dela, não comigo”, explica. “Eu faço muito do meu humor baseado nas coisas que eu vejo por aí, nos meus amigos, etc. Aí tem horas que alguém pega e acha ruim porque para ela aquilo quer dizer outra coisa. Ela entendeu de outro jeito.”
Em uma de suas contas nas redes sociais, Floydy publica mensagens engraçadas de “bom dia”. Essas mensagens, assim como as fotos em que se veste de Jesus, são feitas com mensagem genéricas para que possam ser feitas em maior quantidade de postadas aos poucos, sem pressa.
Tudo isso permite que Floydy e as pessoas que o auxiliam possam planejar melhor a produção por trás do trabalho dele na internet. O co-produtor e melhor amigo de Floydy, Chanderley Soares, assiste a muitos conteúdos de comédia junto do amigo como inspiração. “Tem muitos canais que geram entretenimento. Salvo muitas dessas coisas, sentamos e adaptamos para a nossa realidade”, diz.
As fotos do comediante como Jesus Cristo são feitas pelo casal Rodrigo Huff e Laura Bruxel, que têm um estúdio de fotografia. “Conversar com Jesus no meio da rua já se tornou natural para mim”, brinca Rodrigo. “A gente acredita um no outro para crescer.”
Floydy ainda conta com o apoio da figurinista Liege Schieck Severo, de Lajeado, e da equipe da loja onde trabalha, em Estrela. “Eu só tenho coisas boas a falar dos meus colegas e do meu gerente, o Adriano Schneider. Graças a compreensão de todos eu consigo fazer às vezes horários diferentes para poder atuar em tudo o que eu faço por aí”, assegura o comediante.