Após um mês abrigada no ginásio Ito Snel em decorrência da cheia do Rio Taquari, Andressa Muller, de 32 anos, é a primeira pessoa a assinar o contrato de locação por meio do Aluguel Social. Junto dos três filhos, ela deixou o abrigo em direção à nova residência na tarde dessa quinta-feira, 5. A iniciativa faz parte do Programa Renasce Estrela, lançado pelo governo municipal para minimizar os estragos deixados pela enchente.
Antes moradora do bairro Oriental, ela relata que precisou ser retirada de casa por embarcação no dia 5 de setembro. “Nunca foi água lá. Faz exatamente um mês que eu e meus filhos perdemos tudo e estamos abrigados”, conta. Agora, ela destaca o alívio por poder estar em um espaço com privacidade e planeja a retomada da rotina. Assim como ela, cerca de 30 famílias no local também aguardam aguardam soluções sobre moradias.
Cerca de 200 núcleos familiares foram contemplados com o Aluguel Social. As solicitações passam pela análise do Conselho Municipal de Habitação antes de avançar para ao setor jurídico. Por meio da iniciativa, o governo municipal se propõe a custear o valor da locação para pessoas que perderam casas. O valor é R$ 700 por moradia pelo período de seis mês. O investimento nesta área é de R$ 1,6 milhão.
Busca por casas
Fator que trava o andamento das locações, é a busca por casas disponíveis no município. Desde o lançamento do programa, Andressa aponta a dificuldade de encontrar residências que tenham infraestrutura urbana a volta e que caibam no valor disponibilizado pelo governo municipal. “Tem muitas pessoas que ainda procuram. Encontrei um local, mas meus filhos vão precisar trocar de escola”, explica.
Como alternativa para as famílias que seguem abrigadas, a administração municipal viabiliza a instalação de casas temporárias. Em uma parceria com a Secretaria Estadual de Habitação e Regularização Fundiário e Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon), cerca de 40 casas devem ser colocadas em Estrela.
Conforme a secretária de Desenvolvimento Social e Habitação, Renata Cherini, a área no bairro Pinheiros já foi vistoriada e aprovada pela equipe do governo estadual. A expectativa é que a construção das residências, como 18 metros quadrados, sejam inicie na próxima semana. A prioridade de moradia será para as famílias que seguem abrigadas no ginásio.
População focada na reconstrução
Morador da rua Frederico Sulzbach, uma das mais afetadas no bairro das Indústrias, Pedro Elis Amaral Rodrigues diariamente trabalha na reconstrução da casa que foi parcialmente destruída pela força da água.
Desde que retornou à residência, o foco está na obra das paredes e telhado. Aos 72 anos, ele relata que o processo ocorre de forma lenta e que faz as as tarefas “como pode”.
Com a ajuda do filho, Rodrigues terminou de reformar o telhado. “Tivemos que comprar telhas, portas, tijolos, tudo com recursos próprios. Não podemos esperar a liberação dos recursos anunciados. Do contrário, ainda estaria fora de casa. Não paramos de trabalhar desde que voltamos”, afirma. Com duas casas no pátio, a primeira foi completamente destruída e será desmanchada.
Assim como o idoso, muitas pessoas investem na recuperação das residências e estabelecimentos comerciais. No entanto, chama a atenção a quantidade de casas vazias e destruídas pelas força da enchente. Levantamento feito pelo setor de engenharia da prefeitura aponta que cerca de 860 casas levadas pelas águas, destruídas ou condenadas, a maior parte delas concentrada nos bairros Moinhos e Indústrias.
Recursos e auxílios
Desde o lançamento em 15 setembro, alcançou a marca dos R$ 2,2 milhões liberados em créditos para Micro e Pequenas Empresas, MEIs, autônomos e agricultores. Os créditos são acessados por meio da iniciativa com juros subsidiados pelo governo municipal e um prazo de carência de seis meses para início do pagamento.
Segundo o coordenador do setor de Trabalho, Daniel da Silva, o Renasce Estrela ultrapassa as 300 solicitações de recurso, sendo que para 102 empresariais e 37 agricultores os valores já foram liberados. Outros 20 encontram-se em processo de aprovação.
Diante das burocracias para liberação dos auxílios estaduais e federais, o prefeito Elmar Schneider destaca que estes são os primeiros recursos a chegar na mão da população.“Gente que perdeu seus materiais de trabalho e precisam desse incentivo para recomeçar”, enfatiza.
Circulação pela cidade
Uma das grandes frentes de trabalho durante o mês pós cheia foi a limpeza das vias urbanas. Com diversos bairros atingidos, a grande quantidade de entulhos em frente às casas e empreendimentos atrapalhou a circulação em alguns locais. Levantamento da Secretaria de Infraestrutura Urbana detalha que o investimento na liberação das ruas custou cerca de R$ 11 milhões aos cofres públicos.
Ao todo, foram 44 quilômetros afetados. Para auxiliar nos trabalhos, equipes da prefeitura contaram com o apoio dos governos de Porto Alegre e Esteio para limpeza, bem como mão de obra de empresas privadas. A pasta também atua na reconstrução de praças e parque, com investimentos de mais de R$ 7 milhões e desobstrução de boeiros.
Na beira do rio
Em Colinas, Flademir Saling, de 61 anos, possui um galpão às margens do Rio Taquari. Há um mês ele trabalha na reconstrução do espaço. Sem muitos recursos, ele compra o material necessário e reaproveita alguns itens que se encontram em bom estado. “Cada um está fazendo o que pode. A administração municipal ajuda um pouco, mas estamos fazendo do jeito que dá”, comenta.
Nascido e criado na localidade, o aposentado afirma nunca ter vivenciado algo parecido. Em frente ao galpão, ele registrar o nível das enchentes em um poste. Após a enchente de 2020, a marca era de 38,30 metros. Neste ano ele precisou fazer uma nova marcação, com registro de 40,67 metros. “Sempre convivemos com as enchentes, mas tememos o que pode acontecer daqui pra frente”, conclui.