A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi alvo de críticas essa semana, após afirmar que as tragédias ocorridas no Rio de Janeiro, devido as fortes chuvas, são fruto de racismo ambiental e climático. Ela explicou que o termo é usado para se referir a situações em que as pessoas mais pobres, em sua maioria pardos e negros, são os mais atingidos por tragédias climáticas em razão de sua vulnerabilidade social, já que devido à falta de recursos financeiros para garantirem moradia em locais mais seguros, acabam se instalando em áreas inadequadas para habitação. Logo, seriam vítimas de racismo climático. Será mesmo? Existe uma verdade e dois problemas nessa afirmação.
A primeira coisa que precisamos abordar é a própria definição de racismo. Conforme a Lei 7.716/1989, racismo é o crime de discriminação ou preconceito por raça, cor, etnia, religião e procedência nacional. É uma ação consciente e intencional, por isso deve ser punida. Agora reflitam, associar o racismo a uma tragédia climática é o mesmo que dizer que uma catástrofe da natureza é capaz de prejudicar, intencionalmente, um determinado grupo de pessoas. Te pergunto: a tempestade atingiu somente pretos e pardos? Quem deve ser responsabilizado por esse crime, São Pedro?
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% das pessoas pobres no Brasil são pardas e pretas, e 21% são brancas, então é verdade, sim, que pardos e pretos acabam sofrendo mais diante de uma tragédia climática, mas relacionar o racismo a uma situação que nada tem a ver com cor de pele ou com a intenção de prejudicar alguém, só ridiculariza a causa e banaliza o verdadeiro crime. Esse é o primeiro problema: se tudo é racismo, então nada é racismo! A narrativa irracional por detrás desses discursos acaba saturando e dessensibilizando as pessoas, que deixam de dar a devida importância quando o racismo, de fato, acontece.
Outro grande problema é que enquanto os líderes de governo insistem na tecla do racismo ambiental, eles ignoram – propositalmente – o verdadeiro problema da vulnerabilidade social dessas pessoas, a pobreza. Percebam um dado simples da realidade: as pessoas mais pobres são aquelas que convivem com altos índices de violência, precariedade da educação, falta de acesso à saúde, à saneamento básico e moradia digna, sejam elas brancas, pardas, amarelas, indígenas ou negras. E quem é o maior causador da pobreza? O Estado.
A maioria das pessoas não faz ideia de quanto do seu salário fica nas mãos do governo. Dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostram que 40,82% do rendimento médio do brasileiro é destinado a pagar os tributos sobre a renda, patrimônio e consumo, o que equivale a cinco meses de trabalho apenas para pagar impostos! Se essa fatia do salário ficasse no bolso do trabalhador, ele poderia investir em uma moradia melhor, não acha? Ao invés do brasileiro ter a liberdade de investir na aquisição de um imóvel em local menos atingido por eventos climáticos, ele é obrigado a bancar o luxo da elite política.
Quanto pior for a situação da população, maior a dependência do estado, terreno fértil para a manipulação. Discursos ideológicos, como o da Anielle, distorcem a realidade e promovem uma cegueira coletiva. Racismo ambiental não existe, é apenas uma desculpa perfeita para se eximir da responsabilidade de prover medidas de melhoria à população mais carente. Convenhamos, São Pedro deve ter costas largas.