Após quatro décadas, o aeródromo de Estrela volta a ser de propriedade do município. O governo estadual confirmou a transferência definitiva do espaço de 24 hectares que estava cedido desde 1985. Com o Executivo municipal em posse da área, o impasse para investimentos no local e exploração de grandes empresas deve ser solucionado.
Conquista celebrada pelo governo municipal, a decisão partiu de uma longa negociação junto ao Estado. A Empresa Pública de Logística Estrela (E-Log) buscava a posse da área com objetivo de tornar a estrutura para o transporte aeroviário mais eficiente, além de poder viabilizar investimentos no local. Com gerenciamento do espaço, a autarquia possui maior autonomia para viabilizar melhorias.
O aeródromo regional fica localizado na Linha São José, interior de Estrela, às margens do Rio Taquari. Mesmo com estrutura no município, fica à disposição da região. A diretora-presidente da E-Log, Elaine Strehl, celebra a posse do imóvel diante da grande procura de empresários com interesse de utilizar o espaço. Segundo ela, novas empresas, até de fora do RS, possuem o objetivo de se instalar na região mediante a facilidade logística.
Atualmente, há uma média de três voos diários. Na avaliação de Elaine, uma frequência assídua, mas com possibilidades de ser expandida. “Com a área em posse do município, conseguimos levar uma tranquilidade maior para quem deseja investir no espaço. Agora temos liberdade para avançar em assuntos que antes dependiam de autorização do Estado”, afirma.
Com o aumento da movimentação no espaço, a diretora administrativa Andressa Traesel também aponta o retorno econômico que a iniciativa deve trazer ao Vale do Taquari. “Com a possibilidade de investimentos, se tornou prioridade que o município tivesse a estrutura aeroportuária. Somos o único entroncamento rodo-aero-hidro-ferroviário da região”, aponta.
A localização estratégica permite fácil circulação pelas cidades do Vale do Taquari e também acesso a outras regiões do estado. Com estrutura próxima a ERS-129, possui saída para a BR-386, em sentido capital e interior, e também fica próximo a vias que levam à Serra Gaúcha. “Pessoas que utilizam o aeródromo relatam a facilidade de pousar e decolar na área”, afirma Andressa.
Melhorias
De acordo com o documento publicado no Diário Oficial do Estado, não há necessidade de indenização por parte de Estrela. Conforme as avaliações feitas no local, foi verificado que benfeitorias na área foram custeadas pelo próprio município e por particulares, por meio de concessões e contratos, o que embasa a decisão de repasse sem ressarcimento ao Estado.
O prefeito Elmar Schneider, responsável pelas negociações junto ao Estado, aponta que se trata de uma conquista significativa. “Tínhamos a gestão do meio, mas ela estava limitada, pois a estrutura física não nos pertencia. Negociações visando investimentos e até mesmo a necessária ampliação da pista, acabavam esbarrando em entraves comuns quando se tem diferentes interessados”, comenta.
Enquanto ocorreram as negociações para municipalização do espaço, a E-Log buscou formas de viabilizar melhorias na estrutura, como ampliação da pista e pavimentação. Atualmente, são 570 metros homologados, o que limita a capacidade de recebimento de aviões no aeródromo.
Um projeto para que a pista tenha 1000 metros de comprimento foi encaminhado junto ao Ministério de Portos e Aeroportos. A expectativa é que se tenha definições sobre o assunto até o mês de maio. Em comparação, Schneider cita a pista do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com 1260 metros.
A empresa pública também avança para o serviço de recuperação da pista e sinalização das torres no aeródromo. Com o desenvolvimento da infraestrutura, a E-Log cogita a transformação do espaço em aeroporto. “Temos área suficiente para isso. É um processo lento, mas temos possibilidade de avançar”, comenta Elaine. Quanto às diferenças entre os espaços, ela cita a presença de esteiras e raio-x nos aeroportos.
A cada etapa nas benfeitorias, o espaço fica apto a receber diferentes aeronaves. Diante disso, a empresa também projeta a ampliação de hangares. Hoje, a área conta quatro, sendo dois ocupados. O objetivo é construir mais seis. Com isso, também se projeta o triplo de voos diários.
História do aeródromo
1940 – Início da história da aviação em Estrela com a inauguração do Aeroclube Alto Taquari. A trajetória do aeroclube foi interrompida em 1975, quando a área foi cedida para a construção do Porto de Estrela.
1984 – A construção do Aeroporto de Estrela era uma prioridade do governo estadual.
Neste ano o Estado aguardava a liberação da área por parte do município.
1985 – Inauguração da área do Aeródromo Regional. O espaço foi adquirido pelo município e cedido ao Estado para construção. Em fevereiro, a escritura foi assinada e meses depois disponibilizada ao governo estadual.
1986 – Município entrega oficialmente a área ao governo estadual. Governo de Estrela afirma que cumpriu “a sua parte, restanto ao Estado a construção do tão almejado aeroporto.”
2006 – Com a administração cedida ao município, irregularidades no funcionamento do espaço encaminharam a interdição do aeródromo. Impasse foi gerado entre usuários dos hangares e governo municipal devido à liberação de obras no local. Administrarão do município apontou, na época, que eram necessários R$ 700 mil para melhorias no espaço, não sendo uma prioridade naquele momento.
2013 – Iniciam as negociações entre Estado e administração municipal para retomada das atividades.
2015 – Reformas no aeródromo são iniciadas. Obras foram custeadas com recursos municipais.
2017 – O espaço foi inaugurado em 21 de novembro. Foram necessárias uma série de adequações e autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para funcionamento.
2024 – A gestão municipal reassume a responsabilidade sobre o aeródromo, após um processo coordenado pela Empresa Pública de Logística Estrela (E-Log)