Oferecer atividade esportiva, convívio social e proporcionar uma qualidade de vida melhor agora e no futuro. Esses são os objetivos de Paulo Roberto Xavier Dias, 59. Há três meses, iniciou um trabalho voluntário no Bairro Nova Morada, em Estrela. Ele e outros colaboradores mantêm uma escolinha de futebol para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos residentes no Nova Morada.
Dias é natural de Santana do Livramento e veio morar em Estrela graças ao futebol profissional. Com passagem por clubes da fronteira e do Uruguai, teve um curto período no FC Estrela, mas o suficiente para criar raízes e permanecer no Vale.
Alcoolista sóbrio há mais de 20 anos, o ex-jogador trabalha em uma empresa de transportes no turno da noite. Durante o dia, vive o projeto. “O vício me fez muito mal, hoje estou recuperado e quero passar para as crianças sobre as minhas experiências.” Apoiado pela filha Paula Roberta Dias, que é atleta de futsal e futebol de campo, e também pela nora Dara Vitória da Silva, a Escola de Futebol Nova Morada FC atende mais de 40 crianças. “Somos uma boa turma que pega junto. Cada um se responsabiliza por uma parte, e o projeto dá certo.”
Ele cita que após iniciar as atividades não se vê mais crianças jogando futebol nas ruas do bairro. Porém, o maior objetivo do projeto é auxiliar na formação dos jovens. “Quero que eles não se percam e entrem nas porcarias (sic) ou façam coisas erradas, quero que elas aprendam a ser cidadãos com o esporte.”
O projeto no Nova Morada só se iniciou após a chegada de Dias ao bairro, no fim de 2023. Antes, o coordenador morava no bairro Moinhos, também em Estrela, onde desde o início dos anos 2000 tinha uma proposta semelhante à de agora. Com a mudança de casa, as atividades seguem, mas agora sob a coordenação do professor Jairo.
Falta estrutura
Totalmente gratuita, a atividade ocorre sempre aos sábados a partir das 16h. Para participar, a criança tem que residir na comunidade.
Dias lamenta o pouco apoio para terminar algumas obras como o gramado de futebol sete. Hoje, a estrutura está pela metade, faltando materiais para terraplanagem e a grama. Além disso, surgiu a possibilidade de construir um vestiário e uma sede para a escolinha, porém o material que chegou é insuficiente. Os tijolos estão colocados ao lado da praça do bairro. “
Outra demanda é por materiais esportivos. Cinco bolas foram adquiridas com apoio da comunidade. Dessas, uma furou e outras duas estão bastante desgastadas. A equipe não possui fardamento. Para jogar uma competição em Colinas no início do ano, pediram emprestado um jogo de uniformes, além de promover uma vaquinha para custear o transporte.
Porém, apesar das dificuldades financeiras e de estrutura, o professor não pensa em desistir. “Faço tudo por amor, essas crianças são a continuidade da minha família”, destaca. Segundo a presidente do time, Dara Vitória da Silva, a administração municipal vai repassar R$ 5 mil para colaborar na confecção de uniformes e na compra de alguns materiais, porém o valor é insuficiente para demanda. Cita que muitos atletas sequer tem calçado adequado para prática esportiva.
Para complementar o valor, o Nova Esperança FC vai promover um galeto. Os cartões estão à venda por R$ 25 e dão direito a três coxas, três sobrecoxas e pão. Os interessados devem procurar membros da diretoria da equipe ou entrar em contato com presidente Dara pelo (51) p9601-8610. A ação de entrega será em 19 de maio, no Nova Morada, a partir das 11h30min.
Cedência de espaços
Para colaborar com o projeto, a diretoria da escolinha conseguiu a cedência do gramado da comunidade Novo Paraíso, distantes cerca de três quilômetros do bairro. “De vez em quando vamos com a gurizada para lá”, destaca Dara.
Ela relata que recebeu a oferta para utilizar o ginásio de uma instituição nas sextas-feiras das 21h às 23h, porém o horário é inviável. “Agradecemos muito à instituição, pois toda ajuda é bem-vinda, mas fica difícil em relação ao horário. Não temos dinheiro para locar transporte, além disso, de noite não tem como caminhar pela rodovia para ir e voltar, fica muito ruim.”
“Representa uma segurança”
Mãe do aluno Kauã Becker, Camila Becker destaca que a escolinha coordenada pelo ex-jogador Paulo Dias representa segurança para os pais, pois sabem onde encontrar as crianças. “Eles aprendem a conviver, a se relacionar em grupo, respeitar regras e viver em sociedade.”
Cita que o trabalho desenvolvido ajuda a moldar o caráter das crianças. “Além da atividade física, ele (Dias) passa valores para as crianças. Ele é um pai de família e entende o que as crianças precisam dentro do esporte, ajudando no desenvolvimento social das crianças.”
A mãe comenta que fora das quatro linhas, a escolinha também tem ajudado no desenvolvimento familiar do bairro. “Além da escola de futebol, é feito um trabalho social, um ajuda o outro, cada um ajuda como pode, como consegue”, destaca.