A cheia que assola o Vale do Taquari no mês de maio trouxe inúmeros prejuízos financeiros para as cidades. Em um levantamento preliminar feito pela Secretaria de Agricultura de Estrela aponta que o prejuízo chega próximo aos R$ 280 milhões.
Um desses produtores que teve perdas milionárias foi Jorge Dienstmann, 52 anos, morador da comunidade de Chá da Índia, interior de Estrela. Na propriedade de 16 hectares estima ter um prejuízo de R$ 2,5 milhões, entre animais, estrutura física e lavoura.
Dienstmann, que já enfrentou duas enchentes anteriores, conseguiu salvar apenas as vacas desta vez, mas não sem um enorme prejuízo. “Dessa vez foi tranquilo. Passou-se duas outras enchentes e na primeira se perdeu animais. E com isso a gente aprendeu na antecipação de tirá-los e colocar eles num lugar mais seguro”, relatou.
Preparação e surpresa
Na segunda-feira, 29 de abril, Dienstmann percebeu, com base em informações meteorológicas, que uma nova enchente estava a caminho. Ele esperava um nível de 28 a 29 metros de água, mas a realidade foi muito mais severa, com o rio atingindo 34 metros. “A gente estava trabalhando em uma cota menor. Então com 26,8 metros, já começa atingir aviário, dá um problema. Tem problema nas vacas, então a gente já retira os animais”, explicou Dienstmann. No entanto, a enchente ultrapassou todas as previsões, resultando em vasta destruição.
Prejuízos acumulados
Essa foi a terceira enchente em apenas oito meses, acumulando perdas significativas para Dienstmann. “Na primeira teve imóveis, alguma coisa de estrutura, e na segunda então só a perda de frangos, e agora então foi perda de frango e toda a estrutura física, todos os aviários foram atingidos, o tambo de leite, tudo foi atingido e destruído”, detalhou o agricultor.
Os prejuízos financeiros são enormes. Dienstmann estimou perdas de aproximadamente R$ 950 mil na primeira enchente, R$ 450 mil na segunda, e agora, com a destruição completa dos aviários, do tambo de leite e da lavoura, o custo de reestruturação passa de R$ 2,5 milhões.
Futuro incerto
Diante de tamanha adversidade, Dienstmann decidiu que não continuará com a produção de leite e frangos na propriedade. Cita que por ano integravam em torno de 450 mil aves e entregavam cerca 400 mil litros de leite. “Isso não vai existir mais nessa propriedade”, lamentou.
As vacas que foram salvas estão em processo de venda, pois não há mais condições de mantê-las. “Os animais em lactação vão ser vendidos, já tá nesse processo de venda porque não tem aonde alocar elas pra ordenhar, dependo hoje de um vizinho que cedeu um espaço para essa finalidade”, explica.
Ele também destaca o impacto econômico mais amplo que essa enchente vai ter, afetando empregos e a economia local. “Eu não vou ter a produção, logo a empresa que dependia de mim, pra venda dos insumos ou para compra do leite, vão sentir essa para e isso vai se estender por outras propriedades da cidade.”
Quanto à moradia, Dienstmann e sua família estão temporariamente realocados em outra casa, mas planeja recuperar parte da residência para continuar vivendo na propriedade e se concentrar na lavoura, possivelmente plantando soja e milho. No entanto, ele não pretende recomeçar com a pecuária ou avicultura, especialmente porque suas filhas não têm intenção de continuar no negócio agrícola.