Jornal Nova Geração

IMIGRAÇÃO ALEMÃ

Dois séculos de memória e cultura presentes

Há 200 anos, os primeiros imigrantes alemães chegavam ao Brasil e buscavam melhores oportunidades para prosperar. Como herança, deixaram tradições até hoje enraizadas na comunidade Educação, cultura e história são aspectos vivenciados na comunidade

Crédito da imagem: Divulgação/Fred Sehn

Bicentenário da Imigração – Há 200 anos, os primeiros imigrantes alemães chegavam ao Brasil. As famílias vindas da Alemanha buscavam qualidade de vida diante das difíceis condições vivenciadas no país de origem. A partir do desembarque no Rio Grande do Sul, na cidade de São Leopoldo, em 25 de julho de 1824, os colonos iniciaram uma trajetória rica em aspectos sociais, econômicos e culturais até hoje existentes nas comunidades.

Ainda que os alemães tenham se domiciliado em diversas partes do país durante a chegada, a região sul foi atrativa pela oferta de lotes e pela necessidade de gente para colonizar as terras. Segundo o professor de História, Joel Mallmann, o superpovoamento nos reinos germânicos e a instabilidade na Alemanha fizeram com que o Brasil, uma pátria recém libertada, fosse o caminho ideal ao povo germânico.

A vinda dos colonizadores ocorre em três ciclos migratórios, explica Mallmann. De 5 milhões de pessoas que chegaram ao Brasil, cerca de 250 mil eram da Alemanha. Na região do Vale dos Sinos, as famílias somavam cerca de 5,5 mil imigrantes, que receberam terras de 80 hectares para cultivo.

A partir deste momento, foram se criando as “picadas”, divisa de cada localidade. Diante do crescimento da população, os colonos começaram a buscar novas terras. Por volta de 1850, as primeiras famílias chegaram ao Vale do Taquari.

Chegada em Estrela

As primeiras localidades ocupadas pelos colonos foram as picadas do Arroio do Ouro, Boa União e Novo Paraíso. O historiador Airton Engster dos Santos ressalta que este movimento ocorreu em 1856. Ele destaca que a comunidade de Novo Paraíso, por exemplo, é mais antiga que o município de Estrela, emancipado em 1876.

“Temos na atualidade fortes traços da cultura alemã, como determinação em enfrentar as dificuldades. Chegaram ao Brasil com o desafio de construir e prosperar. Um povo que se organizava na construção de igrejas e prezava pela educação com construção de escolas”, comenta Engster.
Da cultura alemã vivenciada no Brasil, os descendentes criaram os próprios costumes. “Diversos aspectos passaram por adaptação, como o idioma. Surgiram novas palavras, e disso, os dialetos. Outro exemplo é a cerveja, que teve a receita adaptada para ser servida nos bailes de kerb”, explica Mallmann.

Outra característica citada pelo professor de História é a capacidade de conviver de forma próspera em comunidades. “Cada localidade se empenhava em construir uma igreja, um salão comunitário e uma escola. A educação sempre foi uma prioridade”, ressalta. Outras heranças deixadas pelos descendentes estão presentes na religiosidade, na arquitetura, na culinária e na vivência do campo.

Na dança, o amor pelo folclore

Criado em maio de 1964, os Grupos de Danças Folclóricas de Estrela preparam uma grande celebração para celebrar os 60 anos em que vivenciam a cultura alemã. Com mais de 450 integrantes, o conjunto é considerado o maior do mundo e o mais antigo do Brasil. A missão do conjunto de dançarinos é manter vivo o folclore e espalhar a cultura germânica por onde passam. Para os próximos meses, os grupos planejam diversas apresentações com novos trajes.

Vozes que guardam a história
Crédito da imagem: Karine Pinheiro

Cerca de 250 pessoas, entre nove e 90 anos, divididas entre 18 grupos e comunidades, mantêm viva a história dos corais em Estrela, também herança dos alemães. Além disso, o município guarda a trajetória de um dos corais mais antigos do Brasil. O Coral Santa Cecília, fundado em 25 de abril de 1876, tem a possibilidade de ser o coral mais antigo do país em atividades ininterruptas. O primeiro estatuto, registrado em alemão gótico, relata a chegada dos imigrantes alemães na região. Os documentos apontam que o professor Nicolau Mussnich foi um dos grandes regentes do coro.

Da culinária, um dos maiores festivais do estado

A história do Festival do Chucrute, um dos maiores festivais da cultura germânica no estado, se confunde com a história dos Grupos Folclóricos de Estrela. Da ideia de criar um evento que resgatasse os costumes alemães, como a culinária e dança, os organizadores do Baile do Coro, criaram o Baile do Chucrut em 1996. Até hoje, são mantidas as características originais dos primeiros eventos, como servir o chucrute e demais itens da culinária alemã.

Idioma vivo

Ao circular pelas ruas de Estrela é possível perceber a utilização da língua alemã, sobretudo pelas pessoas mais velhas. Com a vinda para o Brasil, por quase dois séculos os imigrantes sobreviveram utilizando apenas o idioma originário. As mudanças e exigências ao longo de quase 200 anos provocaram o “aportuguesamento” da língua. Como consequência, a formação de palavras formadas com partes em português e partes em alemão. Atualmente, existem cerca de 250 dialetos variados da língua alemã. A linguagem utilizada na microrregião de Estrela é o Hunsrik, originária do sudoeste da Alemanha, na região de Hunsrück.

 

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