Centenas de pessoas envolvidas em garantir a continuidade das tradições germânicas por meio da dança, da música, da culinária e das decorações. Há 60 anos, os Grupos Folclóricos de Estrela se empenham em vivenciar e conservar a cultura alemã. Mais do que isso, no município foi criado o primeiro conjunto folclórico, considerado o pioneiro no país. De poucos casais precursores, atualmente o grupo conta com quase 500 dançarinos.
Oficializado em 1964, a criação dos grupos folclóricos contou com influência direta de alemães. Na década de 60, aos poucos as tradições germânicas eram deixadas de lado. No entanto, visitantes da Baviera, estado da Alemanha, sugeriram a criação de um conjunto de danças folclóricas e se comprometeram a enviar materiais direto do país de origem.
“Não existia nada parecido no Brasil. Os materiais chegaram depois de alguns meses, pois era um processo demorado. Discos e fitas com muitas músicas, materiais com partituras. A partir disso foram criados os Grupo de Danças Folclóricas Alemãs de Estrela”, relata Andréass Hamester, coordenador do conjunto.
Durante as seis décadas, o grupo cresceu exponencialmente e levou o folclore vivenciado em Estrela para o mundo. Instituiu um dos maiores festivais de tradição germânica no país e coleciona viagens para mais de 7 mil cidades, dez estados do Brasil e registra apresentação em mais de 15 países.
Grupos no Baile do Coro
Os primeiros seis casais do grupo dançavam sob o comando de Adolfo e Helga Ziebel. Com um bandoneón em mãos, Adolfo era o responsável pela música folclórica que embalava os dançarinos. Conforme os materiais chegavam da Alemanha, os integrantes se empenhavam em expandir o repertório e confeccionar os trajes típicos.
Com isso surgiu o Baile do Coro, evento promovido pela Comunidade Evangélica que atraia diversos corais da região. Festividade que dois anos depois se tornou o Baile do Chucrut, e posteriormente, o Festival do Chucrute, com gastronomia e decorações típicas alemãs. Hamester destaca que a criação dos grupos folclóricos está vinculada ao festival que atrai milhares de pessoas a Estrela. “Tudo era feito de forma manual, como ainda é hoje. Desde a preparação do baile até as pesquisas e estudos para coreografias e novos trajes”, conta o coordenador.
Com o crescimento dos grupos e da festividade, alguns casais integrantes ficaram incumbidos de dar vida ao festival, no entanto, também queriam fazer parte das danças. Organizadores do evento na década de 1970, Seli, 84, e Erno Feine, 88, foram os criadores da categoria Casais Coroas, que no início contou com cinco duplas.
“Os grupos eram uma novidade na comunidade. Como éramos os únicos, eram muitos convites para dançar por toda a região. Participamos de muitas iniciativas, como viagens, turnês, coordenação. E por um tempo, nossos filhos também participaram”, comenta Seli. Atualmente, o casal se faz presente nos eventos promovidos pelos grupos de danças.
Inclusive, o casal esteve presente na primeira turnê dos Grupos Folclóricos de Estrela pela Europa. “O primeiro país visitado foi a Alemanha. Além das tradicionais danças, levamos coreografias gauchescas, corais, entre outras modalidades que representam o Brasil. Ficamos hospedados em casa de parceiros. Fizemos muitas amizades. São memórias muito especiais”, conta Seli.
De Estrela para o mundo
Andréas Hamester integra os grupos folclóricos desde os três anos de idade. Dançou sob o comando de Adolfo e Helga, bem como de Beno Heumann. Em março de 1985, aos 22 anos, assumiu como instrutor do conjunto folclórico. “Nasci na cidade, no grupo e vivi a vida sendo um dançarino”, diz o coordenador.
Hamester lembra com detalhes da primeira vez que esteve no comando do grupo. “Era um sábado chuvoso e recordo de dar duas opções aos dançarinos: continuar sendo bailarinos espetaculares e continuar levando alegria pelo estado ou mudar o que fosse necessário e conhecer o mundo”, relata.
Ele destaca que o grupo trabalhou duro para atingir os planos até chegar à primeira turnê internacional. Foram anos de estudo em alemão gótico para compreender os documentos que detalham as principais ações relacionadas ao folclore. Além disso, cada vez mais os grupos recebiam materiais para modernizar as danças. Até 2024, os integrantes passaram por 15 países.
Anos de dedicação
A participação da família Gausmann Nunes nos Grupos Folclóricos de Estrela e na preparação do Festival do Chucrute ultrapassa gerações. Vanice, junto de seu esposo Adroaldo Nunes, formam um dos casais mais antigos no conjunto de danças, além de fazerem parte da primeira comenda, formada em 1983. A tradição foi repassada às três filhas e aos netos.
A mãe de Vanice foi uma das primeiras cozinheiras do festival. “Ela participou dos preparativos para o chucrute no primeiro baile. Ela não era a chefe da cozinha, mas auxiliou durante muito tempo nesse processo”, afirma. Devido ao crescimento do festival, as comendas passaram a ser responsáveis por fazer o evento acontecer.
A tradição que iniciou na mãe de Vanice e levou o casal às danças e à comenda, fez com que as três filhas participassem dos grupos de danças. “Todas as filhas foram rainhas e divulgaram o festival. Era uma alegria toda vez que chegavam em casa com trajes novos devido às trocas de categoria. É bom ver que isso não mudou e ainda ocorre em muitas famílias”, comenta Vanice.
Futuro do folclore em Estrela
As comemorações do Grupos Folclóricos de Estrela contavam com uma robusta programação festiva. Em razão das cheias, o calendário sofreu alterações. Entre os momentos mais aguardados pelos grupos, a turnê pela Europa. Em junho de 2025, os integrantes embarcam para espetáculos na Alemanha, Áustria e Eslovênia.
Além disso, está projetada a próxima edição do Festival do Chucrute. O casal integrante da Comenda, Aneli e Ernani Sehn, destaca que os bailes ocorrem em 17 e 24 de maio de 2025. “Já temos a banda La Montanara confirmada para o segundo baile”, afirma Aneli, também presidente da Comunidade Evangélica, mantenedora dos Grupos Folclóricos.
Além disso, Hamester aposta na projeção nacional do grupo. “Temos um grande reconhecimento, mas queremos avançar no Brasil. Levar esse folclore feito com muito amor e sempre em busca de modernização. Buscamos trazer toda a tradição do passado para nosso presente”, conclui o coordenador.
Pelo mundo
• Argentina
• Uruguai
• Paraguai
• Chile
• Portugal
• Espanha
• Bélgica
• Holanda
• Luxemburgo
• França
• Áustria
• Alemanha
• República Tcheca
• Hungria
• Itália
Próxima turnê Junho 2025
• Alemanha
• Áustria
• Eslovênia