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CULTURA E EDUCAÇÃO

Análise global aponta lacunas na educação do país

Entre 81 nações, Brasil ocupa a 66ª posição em ranking do Pisa. Professores e especialistas avaliam desempenho e apontam importância da sociedade adotar o ensino como prioridade verdadeira

Prova é aplicada para cerca de 690 mil alunos no mundo. Elaborada pela OCDE, é considerada uma das principais avaliações sobre qualidade do ensino pelo Ministério da Educação. (Foto: Filipe Faleiro)

Fraco na leitura, abaixo da média em matemática e desconexo dos conhecimentos da ciência. Esse é o resumo do desempenho de jovens brasileiros a partir dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, sigla em inglês).

Feito a cada três anos pela Organização à Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o diagnóstico considera as habilidades de alunos com 15 anos de 81 nações. Em comparação com 2018, houve queda nos três critérios de avaliação.

As notas dos estudantes caíram de 412,9 (em 2018) para 410,4 em Leitura (em 2022). Matemática foi de 383,6 para 378,7, e de 403,6 para 403 em Ciências. O levantamento é feito desde 2000 e dá notas de zero a 600 pontos.

Nas três áreas o país ficou abaixo da média estabelecida pela OCDE. Em termos gerais, o Brasil ficou na posição de número 66. Uma abaixo da Colômbia e uma acima da Argentina.

Os exames foram aplicados em 2022. Haviam sido cancelados devido a pandemia. O impacto da covid-19 no ambiente escolar esteve entre, na vivência dos alunos, assim como violência e bullying, estiveram entre os aspectos analisados.

Mesma prova. Realidades distintas

O Pisa é adotado como um dos principais indicadores de qualidade pelo Ministério da Educação. Apesar disso, a doutora em Letras, professora dos cursos de licenciatura da Univates, Kari Forneck, considera ser necessário avaliar as diferentes variáveis frente aos resultados.

“As necessidades de um jovem do Canadá são diferentes aqui. Temos de olhar esse resultado de forma específica. Quais competências não conseguimos desenvolver? Ficar no geral, criticar o ensino, o estudante, o professor, é muito raso, além de não resolver.”

Ela ressalta que essas avaliações oferecem uma visão geral do panorama educacional, mas insuficiente para compreender as peculiaridades pedagógicas de cada país.

Responsabilidades

Para Kari Forneck, existem papéis diferentes dentro da sociedade. “Os professores, gestores de escolas, precisam pormenorizar os resultados. O que chamamos de microdados. Em cima disso fazer ajustes pedagógicos. Não é possível que um aluno não tenha capacidade de dizer o que é um fato e o que é uma opinião. Um dos temas avaliados pelo Pisa.”

Na esfera da comunidade, destaca a necessidade de mais acompanhamento para temas macro. “As pessoas, os pais, a sociedade como um todo, precisa acompanhar o que está sendo investido na escola. Quais as condições oferecidas aos jovens e exigir uma escola pública de qualidade.”

Na avaliação dela, alguns assuntos tratados em âmbito social não fazem diferença à melhoria da educação. “Temos de parar com a busca por culpados. Dizer que é o professor, que ele tem que ensinar de outro jeito”, realça a doutora e complementa: “quando só olhamos o macro, o resultado em si, ficamos no senso comum. Isso é perigoso, pois ele é vazio. Discutimos isso, criticamos tudo e depois vai todo mundo para casa e não se resolve nada.”

Conhecimento como prioridade

Professora natural do estado da Paraíba, Maria Edileuza Porpino, está em Lajeado faz mais de dez anos. Leciona Geografia na rede pública estadual. Há diferentes leituras de mundo e de cultura regional que interferem sobre o ensino, diz. “Aqui no Vale, se dá muito valor ao trabalho. Sem dúvida, é importante. Agora, nossos alunos se confundem quando começam a trabalhar. Com isso, as aulas ficam secundárias. Eles deixam de fazer as atividades, faltam e, muitas vezes, desistem.”

Como resultado, afirma: “nossa principal preocupação é a evasão escolar. Precisamos fazer um grande esforço para manter esse jovem interessado e participativo dentro da sala de aula.”

A orientadora pedagógica, Silvana Battisti, concorda. De acordo com ela, essa ausência e distanciamento interferem no próprio autoconhecimento dos estudantes. “Por vezes, os alunos não conseguem saber quais são seus talentos, suas aptidões. Sem esse conhecimento, inclusive encontram dificuldades para escolher o próprio caminho quando chegam no mercado de trabalho.”

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