Pela terceira vez em menos de um ano, Roseli Antunes do Nascimento Alves enfrenta o drama de estar abrigada em decorrência das cheias que atingiram a região. “Em setembro e em novembro pegou enchente na minha casa, mas conseguimos voltar. Em maio a residência foi levada pelas águas”, lamenta. Faz três meses que ela, as duas filhas e mais 80 famílias seguem em abrigos do município.
A casa da família ficava localizada do Loteamento Marmitt, um dos bairros mais afetados pela enchente de maio. Durante os 90 dias no ginásio Ito Snel, ela destaca que a convivência coletiva está mais tranquila, porém sente falta de ter a própria casa. “É difícil se sentir à vontade, pois não estou na minha residência. Essa situação afeta muito a saúde mental e às vezes me sinto vulnerável por não saber pra onde voltar”, relata.
A rotina de Roseli consiste em permanecer no espaço adaptado com as divisórias. Devido a um acidente que sofreu durante a cheia de setembro, ela ficou impedida de trabalhar. Com isso, surge a dificuldade de encontrar residência com valor acessível para locação. “Espero que logo tenha casas disponíveis”, comenta.
Convivência coletiva
Três ginásios ainda abrigam pessoas, cerca de 25 núcleos familiares em cada: Ito Snel, Boa União e Centro Comunitário Cristo Rei. Com objetivo de melhorar a convivência coletiva, os abrigos organizaram regras que devem ser cumpridas pelos abrigados. As determinações foram definidas em conjunto com os moradores.
A rotina criada ao longo das semanas inicia por volta das 7h, quando a equipe faz a entrega do café da manhã. Refeições como almoço, lanche da tarde e jantar também são garantidos aos abrigados. Durante o dia, as crianças vão para a escola, os idosos que ficam no local e parte dos adultos continuam com as obrigações profissionais.
Os educadores sociais Letícia Mariano e Kainã Fontanive explicam as regras foram montadas com base na rotina dos espaços. “Quando chegamos no Ito Snel, buscamos compreender as necessidades de cada um e a partir disso definir os deveres. Muitas pessoas saem para trabalhar e montamos escalas de limpeza e utilização de máquinas de lavar quem fica”, destaca Letícia.
A educadora social explica que cada família possui necessidades diferentes. “Existem muitos conflitos, mas as pessoas se adaptaram à coletividade. Neste sentido, buscamos acolher cada um e incentivar a autonomia. Muitos núcleos ainda sentem dificuldade em recomeçar, pois passaram por muita coisa, mas estamos aqui para auxiliar neste processo”, afirma.
A busca por alternativas
Com a busca de famílias por locações de casas e o avanço nas tratativas para construção de residências, a expectativa é fechar pelo menos um dos ginásios. De acordo com a secretária de Desenvolvimento Social e Habitação (Sedeh), Renata Cherini, foram autorizados cerca 550 alugueis sociais desde maio.
Para Renata, os benefícios liberados representam a autonomia das famílias em recomeçar. Além disso, há incentivo para que núcleos familiares voltem para as residências que não foram condenadas pela Defesa Civil. “Muitas pessoas ainda estão em abrigos porque não têm como limpar as casas. O auxílio de voluntários ainda é muito importante para esse processo”, destaca.
O município também segue em tratativas com o governo estadual para instalação de módulos provisórios. As casas são cedidas pelo Estado pelo período de 12 meses. Cada residência será equipada com itens de cozinha, quarto, sala e banheiro. A expectativa é que 45 unidades sejam colocadas no bairro Imigrantes.