Após seis meses da tragédia que atingiu o Vale do Taquari, a comunidade ainda vivencia os traumas e as dificuldades impostas pela cheia histórica dos dias 4 e 5 de setembro. Em homenagem às vítimas e às pessoas atingidas, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Leo Joas sediou um Ato Memorial.
A solenidade, organizada pelo governo de Estrela, ocorreu no bairro das Indústrias por ser uma das localidades mais afetadas pela violência das águas. O ato contou com um minuto de silêncio em respeito às duas vítimas de Estrela, apresentação de alunos da Emei Estrelinha, com a música “Espalhe Amor”, e o momento “Chama da Vida”, com queimada de notícias que retrataram a tragédia.
Durante a cerimônia ocorreram homenagens simbólicas. Uma delas aos familiares de Moacir Engster, morto na tragédia. Participaram também equipes da Defesa Civil, bombeiros, membros de comunidades, voluntários que auxiliaram no resgate de pessoas e que ainda atuam nas campanhas sociais e de reconstrução.
O prefeito Elmar Schneider enfatizou a importância da Defesa Civil e das equipes de administração municipal que atuaram desde as primeiras horas de elevação do Rio Taquari. “Tivemos uma força tarefa para salvar o maior número de pessoas.” Como um pedido por dias mais tranquilos, duas pombas brancas foram soltas durante o evento.
A escola Leo Joas foi escolhida para o ato por ter ficado submersa, além do telhado ter servido como último refúgio para algumas pessoas até o resgate. A avenida Augusto Frederico Markus foi escolhida por se tratar de via construída também com a finalidade de servir de rota de saída para os moradores atingidos por cheias nos bairros Moinhos e Marmitt.
Dificuldades presentes
Os pesquisadores Rafael Rodrigo Eckhardt e Sofia Moraes afirmam existir provas de que o nível da inundação superou em pelo menos 50 centímetros a cheia de 1941 – a pior até então. Pelo registro oficial, o nível da água alcançou 29,53 metros em Lajeado e 29,62 metros em Estrela. Na região foram confirmados 53 óbitos e ainda há pelo menos cinco pessoas desaparecidas.
Ao todo, dez cidades do Vale foram atingidas pela inundação. Conforme relatório da Universidade Federal do Rio Grande do SulS (Ufrgs), feito pela equipe técnica do Grupo de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (Gespla), pelo menos dez mil residências foram atingidas, das quais duas mil com registro acima dos três metros.
Das que não foram levadas pela força da água, houve imóveis com danos irreversíveis e estrutura comprometida. O estudo aponta que as construções atingidas representam 11,7% do número total em cinco municípios – Estrela, Roca Sales, Muçum, Encantado e Arroio do Meio.
Aos negócios
O setor produtivo regional também sofreu um baque com a tragédia. Duas linhas de crédito foram apresentadas. Uma destinada para empresas do Simples Nacional, com faturamento de até R$ 4,8 milhões por ano, localizadas em municípios com calamidade reconhecida.
As instituições autorizadas a fazer os contratos, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, encerraram o programa no fim do ano. Foram R$ 250 milhões, no entanto, líderes empresariais da região suspeitam que a maioria dos recursos chegaram para localidades que não foram atingidas, pois a Medida Provisória estipulava negócios em 92 cidades aptas a buscar o financiamento.
Grandes indústrias desassistidas
O segundo modelo de socorro aos negócios não atingiu o objetivo. Destinado para indústrias com faturamento de até R$ 300 milhões ao ano, o crédito disponível apresentou juros elevados e prazo de carência de no máximo 18 meses. A proposta foi refutada. Em fevereiro, uma comitiva de 11 empresários da região esteve na sede do BNDES para buscar alternativas.
As principais solicitações envolvem prazos de pagamento mais longos para empréstimos já contratados, criação de novas linhas de crédito com juros mais atrativos e carência estendida. Na ocasião, o BNDES detalhou as linhas de crédito existentes, mas não definiu amparo específico. A instituição se comprometeu a analisar cada caso e a retornar com possíveis alternativas de apoio.