Um vídeo publicado na página da Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Casa da Criança Estrelense gerou grande repercussão em uma rede social no começo do mês de junho. Com mais de 503 mil reações e 65 mil comentários, a gravação foi reproduzida mais de 10 milhões de vezes.
Nele, uma turma de alunos com média de dois anos de idade atende ao chamado da monitora Larissa Oliveira Santos. Os meninos e meninas reconhecem e pegam as suas próprias garrafinhas de água em uma prateleira, além de ajudarem e incentivarem os colegas mais tímidos a fazerem o mesmo.
Larissa ficou impressionada com a repercussão positiva do conteúdo. Os comentários, via de regra, parabenizam o desenvolvimento dos pequenos retratados. “Eu fico muito feliz em perceber o interesse das pessoas nesse tipo de conteúdo, mostra o quanto é importante a educação infantil.” Para ela, em uma realidade onde muitas vezes as notícias envolvendo crianças não são boas, mostrar o carinho e cuidado com a primeira infância traz bons sentimentos a quem assiste.
Luana Martens é mãe de Aurora Martens Teixeira, de 1 ano e 10 meses, e percebeu a diferença nesse desde que a filha vai à Casa da Criança, há cerca de um ano. Com o estímulo a ela e aos coleguinhas, todos aprendem juntos. “Ela passou a fazer mais coisas sozinha. Come sozinha, guarda os brinquedos e desenvolveu a motricidade, porque adora pintar e desenhar. A criança na idade dela aprende com a imitação, vendo as outras fazendo”, acredita.
Mudanças conceituais
A diretora da Emei, Cláudia Ohweiler, aponta que a cena é consequência de uma mudança na educação infantil nos últimos anos. O compromisso, segundo ela, é para com um ensino que os conceda independência sem deixar de lado a construção coletiva nas brincadeiras e no uso do material da escola. “Fazemos isso com muito respeito, e acreditamos que isso é necessário. Não adianta alfabetizar antes dos seis anos sem que esse ser humano tenha autonomia”, explica.
Cláudia declara também que o material produzido para a internet tem duas funções. Além de explicar para o público externo, de forma didática, o que é proposto aos pequenos, os vídeos também são uma forma de troca de conhecimento entre os profissionais da Casa da Criança. “Muitas vezes acontece de uma pessoa fazer um vídeo, a gente aprovar e publicar na página, e depois outras colegas perceberem que fazem as coisas de formas diferentes. Às vezes o que você faz parece trivial, mas tem algum detalhe diferente que pode ser aplicado por outras pessoas”, diz.
A vice-diretora, Alessandra Garcia, diz que, hoje, não se considera mais que a escola começa no Ensino Fundamental. “Aqui a criança aprende a ter noção de espaço, a entender que tem suas coisas mas que outras são de todos. Então eles partilham, mas têm responsabilidade. Eu vejo os nossos alunos aqui levantando e dobrando o próprio cobertor. Em outra época, quantos não sairiam daqui sem saber fazer isso?”, questiona.
ENTREVISTA
Camila Mendes Vieira da Silva – Psicóloga Clínica do Hospital Estrela, especialista em neuropsicologia
Jornal Nova Geração: Quais os efeitos positivos para o desenvolvimento dos pequenos com a socialização com outras crianças na Educação Infantil?
Camila Mendes Vieira da Silva: As brincadeiras com outras crianças são o início da socialização que perpassa o ambiente familiar de uma criança. O que possibilita a aprendizagem do compartilhamento, da reciprocidade e da expressão das emoções; o estabelecimento de limites sobre aptidões sociais como a colaboração e cooperação; contribuindo para o estabelecimento de relações saudáveis ou mesmo, do enfrentamento de situações que auxiliam na capacidade de tolerância à frustrações e entendimento das diferenças.
NG: Qual o papel desses ensinamentos no desenvolvimento da primeira infância?
Camila: Neste período do desenvolvimento infantil são desenvolvidas habilidades cognitivas fundamentais para um crescimento saudável como o raciocínio, a memória, a capacidade de autorregulação, habilidades linguísticas, a formação e compreensão de conceitos, percepção e funções executivas.