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CONEXÃO

Criar e preservar: a história e a cultura por meio das peças de madeira

Sérgio Gandini, conhecido como Tita, dedica seu tempo na criação de móveis e imóveis de madeira. Ele construiu sua própria casa da árvore e elabora um projeto de histórias lúdicas

Desde 2001, Tita nutre sua paixão pela marcenaria (Foto: Karine Pinheiro)

De uma casa do alto do interior de Daltro Filho, com uma ampla vista para a natureza, Sérgio Gandini, de 48 anos, passa seus dias trabalhando as mais diversas peças de madeiras. As atividades de Tita, como é conhecido pela comunidade, consistem no reaproveitamento de materiais como árvores antigas e caídas, peças deixadas pelos imigrantes e reparação de espaços históricos. Para ele, essa é uma forma de preservar e ressignificar a história e a cultura.

A trajetória na marcenaria começou aos 11 anos. “Estava brincando e um amigo me chamou para cuidar de umas madeiras. Ganhei um dinheiro, continuei fazendo isso outras vezes e aí começou minha paixão”, conta. No entanto, foi em 2001 que ele passou a trabalhar por conta própria.
O caminho de Tita com esta arte iniciou com o pedido de um velho amigo, que à época, foi o padre que celebrou seu casamento. Ele relata que o amigo pediu que ele construísse uma casa e que essa encomenda se originou de um sonho intuitivo. No entanto, Gandini explicou que não construía imóveis.

“Ele insistiu e não me cobrou bons resultados. Fiz um desenho, ele pagou a vista. Ele gostou tanto do resultado que pediu pra eu construir também o consultório dele”, ressalta Tita. Mais tarde, a pedido do amigo que virou pastor, montou a primeira igreja ortodoxa francesa do Brasil, em Boa Vista do Sul .

O marceneiro relata que a partir deste momento, passou a explorar sua criatividade e desenvolver obras que preservem o meio ambiente. Hoje, a maioria de seus móveis e imóveis são feitos com pedaços de eucalipto, árvores antigas que caíram e com o objetivo de reaproveitar o máximo possível. Ele acredita que é uma maneira de dar continuidade a peças que as pessoas pensam não ter mais funcionalidade. “As pessoas geralmente queimam. Eu vejo de que forma dá para trabalhar a madeira”.

A casa na árvore

Após anos na construção de casas pré-fabricadas, voltou a Imigrante com a finalidade de iniciar algo que fosse diferente. Em sua propriedade, além da paisagem natural que cerca o local, Tita construiu uma casa na árvore com troncos de eucalipto. A casa, totalmente funcional, onde passa os dias com sua família, foi feita a mão e levou cerca de 8 anos para ficar pronta.

Hoje, no terreno, além da casa, montou o galpão onde executa suas criações. O abrigo é tomado por tábuas de madeiras, ferramentas, peças históricas, troncos de árvores e móveis prontos. “Tem peças deixadas por descendentes italianos, outras podemos perceber que as pessoas faziam um trabalho manual pelas marcas”, comenta.

Para explorar melhor o espaço, planeja construir chalés ao mesmo estilo da residência. O objetivo é que as pessoas utilizem o local para estar em contato com a natureza. Ao encontro deste projeto, também prepara trilhas pela propriedade e atividades em que as pessoas possam utilizar as madeiras.

Tita construiu sua casa aos finais de semana, num total de 8 anos (Foto: Karine Pinheiro)

Projeto lúdico

Da necessidade de proporcionar atividades significativas aos filhos, ele e a esposa trabalham na construção de história lúdica onde os personagens são gnomos. O projeto deve ser lançado em outubro e contará com trilha, casas coloridas de madeira e personagens de pano. Todos os materiais são feitos de forma manual.

“É uma forma de mostrar esse trabalho e proporcionar aprendizado às crianças. Ao invés de criticar o excesso de tecnologia, resolvemos colaborar”, afirma. O projeto será aberto para visitação das escolas.

Hoje, sua produção está voltada a este projeto. Já são mais de cinco casinhas prontas para receber as crianças e contar a história dos gnomos.

Reaproveitar para preservar

“O que eu vejo, eu recolho e trago pro galpão”, afirma Gandini. O local é espaço para explorar a criatividade e experimentar a construção de novas peças. Além do novo, descobre nos mais variados pedaços de madeira, alguma história. Fã de antiguidades, encontra maneiras de ressignificar a peça.

“Não quero mexer na estética do que já está pronto, quero contribuir para que isso seja levado adiante”, garante. Entre os serrotes, as lixas, e as ferramentas necessárias. Tita ora cria seus móveis e imóveis, explora e cria, ora dedica seu tempo a preservar o que já existe. Sempre com o objetivo de preservar o meio ambiente.

Por onde passa, o marceneiro recolhe pedaços de madeira e leva ao galpão (Foto: Karine Pinheiro)
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