Após um 2023 de dificuldades no setor primário e com o impacto de duas enchentes históricas, o saldo na criação de vagas de trabalho na microrregião ficou estável. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), referentes a dezembro, foram divulgados na terça-feira, 30, pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Nos seis municípios que compõem a abrangência do Jornal Nova Geração, foram abertos 15.257 postos de trabalho e fechados outros 15.256, o que resulta no saldo de apenas uma vaga criada. Estrela teve o melhor desempenho, com 402 novos empregos, enquanto Teutônia teve 479 encerramentos de vagas, boa parte deles causados pela crise na Cooperativa Languiru.
Fazenda Vilanova e Bom Retiro do Sul mantiveram a crescente já registrada em 2022, enquanto Colinas e Imigrante tiveram saldo negativo. O setor produtivo puxou a criação de vagas nos dois primeiros municípios, que somaram 120 novos postos de trabalho. As outras duas cidades não tiveram algum segmento em destaque nas perdas de empregos.
Dezembro foi o mês com o pior desempenho da microrregião, com 640 admissões e 1.120 desligamentos, um saldo negativo de 480 postos de trabalho. Todos os municípios tiveram perdas de vagas no último mês do ano, quando havia uma expectativa para ocupação de postos temporários, sobretudo devido à demanda no comércio.
A economista Cintia Agostini argumenta que o fechamento de vagas era uma consequência esperada, diante das dificuldades dos últimos meses, e defende aportes financeiros e maior qualificação. “A região é pujante, tem uma economia dinâmica. Mas esses negócios que sofreram mais precisam de condições para retomarem sua produção a pleno. Essa é a grande questão.”
O diretor-presidente do FGTAS, José Scorsatto, aponta para uma perspectiva de melhora no cenário da geração de empregos a partir de janeiro. As projeções, segundo ele, são de resultados positivos nos primeiros meses de 2024, com uma curva mais forte de crescimento.
Em nível regional, o saldo de 2023 foi negativo, com 387 fechamentos de vagas. O Rio Grande do Sul teve um resultado melhor, com 47.395 novos postos de trabalho criados, a maior parte deles no setor de serviços (91,8%). O cenário de crescimento também foi registrado em âmbito nacional, com mais de 1,4 milhão de empregos, 59,7% deles na área de serviços.
Setor calçadista ameniza prejuízo
A crise na Languiru foi uma das protagonistas dos impactos na economia microrregional em 2023. Teutônia foi o município mais atingido entre os seis que estão na análise, com o fechamento das atividades voltadas ao comércio e serviços, além de perdas no setor primário. A reportagem não considera Westfália e Poço das Antas, também afetadas pela redução das atividades da cooperativa e que, somadas, extinguiram mais de 1,3 mil postos de trabalho.
No entanto, as 479 vagas encerradas poderiam ser ainda mais, não fosse o bom desempenho do segmento calçadista. Ao longo do ano passado, foram criados 281 postos de trabalho nas empresas do ramo no município – entre as principais funções contempladas, estão 149 trabalhadores polivalentes da confecção de calçados, 62 acabadores e 51 preparadores de calçados.
De acordo com Roberto Müller, presidente do Siticalte, que representa trabalhadores do setor, alguns aspectos incentivam profissionais a atuarem na área. Um deles é o regime de trabalho, apenas durante a semana, que abre margem para outras atividades em paralelo ao emprego formal. “Muitas pessoas não querem se sujeitar a trabalhar em sábados ou domingos”, explica.
Müller pontua que muitos trabalhadores que se somaram aos ateliês ou fábricas de calçados, na verdade retornaram após perderem postos de trabalho no setor primário. “Cabe ao setor calçadista dar melhores condições para os profissionais trabalharem, o que já está sendo bem fomentado hoje em dia. O empregado precisa se sentir bem na empresa.”
Ele ressalta ainda que empresas começam a rever as políticas salariais, diante da qualificação da mão de obra e para manter as pessoas nas indústrias. “O que manda no mercado é o salário, as pessoas querem e precisam ganhar mais, e o setor calçadista não pode ser considerado o pior de todos.”
Transporte de carga puxa números
Em Estrela, o setor que mais emprega permanece o de transporte rodoviário de carga. Das 11.146 vagas ativas no município, 1.990 são no segmento, o equivalente a 17,9%. No ano passado, o número de vagas abertas evidenciou a força das empresas transportadoras. Foram 150 postos abertos na função de motorista de caminhão e outros 45 ajudantes de motorista.
Diretor executivo da Tomasi Logística, Diego Tomasi aponta a compra de novos caminhões pela maioria das transportadoras da cidade como um dos motivos para o aumento das vagas. “Estrela é um polo de grandes transportadores que rodam por todo Brasil e gera muitas oportunidades para motoristas”, pontua.
O empresário, que também atua como vice-presidente de transportes do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística (Setcergs), comenta que a entidade busca reduzir os custos de emissão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), junto ao Detran e ao governo do estado. “Isso deve gerar um maior número de motoristas no mercado”, justifica.
