Jornal Nova Geração

CRISE NA LANGUIRU

Diretoria busca apoio de associados para aprovar negócio com chineses

Gestores da Languiru afirmam durante reuniões que continuidade das atividades depende de acerto com investidores estrangeiros. Enquanto isso, Judiciário mantém liminar e exige que qualquer decisão tenha aprovação do quadro social

Duas reuniões ocorreram ontem na sede da Associação dos Funcionários da Languiru. Hoje será com produtores de leite. Encontros antecedem Assembleia Geral desta quinta-feira. Crédito: Jhon Willian Tedeschi

Associados dos segmentos de leite, frangos e suínos foram chamados pela diretoria da Languiru para reuniões prévias à Assembleia Geral, marcada para esta quinta-feira. Os encontros de ontem, na sede da Associação dos Funcionários, ocorreram em dois turnos e tiveram por objetivo esclarecer os movimentos adotados pelo plano de reestruturação da cooperativa. Hoje está marcada a reunião com o segmento de lácteos.

Na ocasião, a presidência da cooperativa sustentou que a alternativa para evitar a falência está em confirmar a sociedade com o grupo chinês nos segmentos de proteína animal. A reunião foi fechada, mais uma vez apenas com a participação dos titulares do quadro social.

A equipe técnica apresentou os números sobre a situação fiscal. Conforme os dados, os compromissos com os bancos credores alcançam R$ 780 mil. Com terceirizados, fornecedores, transportadores e outros, as dívidas somam R$ 1,1 bilhão. “Nos apresentaram os números e disseram que a única forma de evitar a falência é fazer o negócio com os chineses”, diz um produtor de frango que pediu para não ser identificado.

De acordo com ele, também foram abordados temas sobre a continuidade dos trabalhos. “O setor de frango vai parar nos próximos dias. Venderam as matrizes, os ovos férteis, pintos. Nos disseram que o alojamento vai parar.”

Conforme o produtor, muitos participantes fizeram questionamentos à diretoria. Parte das respostas vinham do próprio presidente, Dirceu Bayer, afirma. “Ele falou que tem que vender. Disse que havia muitas ‘fake news’ na imprensa para prejudicar a Languiru.”

Para ele, há um indicativo claro de que a sociedade com o grupo estrangeiro será aprovada na Assembleia Geral desta quinta-feira, 30. “Vai passar. Há muita pressão. Inclusive foi dito que os produtores que saírem agora terão de arcar com o prejuízo.” A Languiru afirma que o segmento aves e suínos nos últimos tiveram prejuízo de R$ 274 milhões no últimos dois anos. Pelos argumentos da diretoria, outros fatores se somaram a estes para criar instabilidade, como o aumento nos custos de produção, a queda nos preços pagos na exportação, aumento nos estoques e redução no preço no mercado interno.

Segredo de Justiça

Dois processos contra a Languiru ingressaram em segredo de Justiça. Ambos com decisões liminares e da 2ª Vara Judicial da Comarca de Teutônia. O primeiro determina a apreensão de bens a fim de cobrir empréstimo com a Passo Fundo RS Fundo em Investimentos, com sede em São Paulo.

A cooperativa contratou financiamento no valor de R$ 10 milhões em novembro de 2022, sendo estabelecido um fluxo de pagamento mensal. Como garantia, cooperativa e o fundo elaboraram contrato de penhora mercantil, onde foram oferecidos produtos industrializados de suínos e aves no valor estimado em R$ 20 milhões. Houve um acordo entre as partes e o judiciário determinou o segredo.

A outra determinação foi movida por associados para impedir a venda de ativos da Languiru sem Assembleia Geral. Os cinco primeiros requerentes do processo sobre a exigência de decisão por assembleia retiraram o nome do processo. Foram substituídos por outros produtores na manhã de ontem e a decisão foi mantida.

Direção emite nota

Em comunicado oficial, a Languiru afirma que mantém o curso do projeto de reestruturação. A direção alega que “muitas informações distorcidas, opiniões mentirosas e caluniosas, vêm denegrindo a imagem da Cooperativa Languiru, da sua diretoria e de seu presidente, constantemente.”

Na terça-feira da semana passada, 21, grupo de cerca de 150 pessoas protestou em frente à sede da Languiru e pediram
mais transparência sobre atos da gestão. Crédito: Felipe Neitzke/Arquivo

No documento, também diz: “Todas as mentiras e calúnias surgidas em movimentos e ações judiciais com liminares, movidas por ASSOCIADOS, NÃO ASSOCIADOS OU EX-ASSOCIADOS, serão devidamente averiguadas e seus autores responsabilizados.”

Por meio da nota (disponível em languiru.com.br/comunicado-oficial/), a direção diz que as “medidas adotadas são urgentes e objetivam manter a renda dos associados e ao mesmo tempo a continuidade da Cooperativa, que envolve mais de 40 mil pessoas, direta e indiretamente. A manutenção do patrimônio e das atividades do quadro social dependem de importantes decisões a serem discutidas e formalizadas com a participação do associado.”


Detalhes dos negócios

• A carta de intenções entre direção da Languiru e representantes da ITG Group foi assinada na quarta-feira da semana passada, 22. Caso a negociação se confirme, o grupo estrangeiro passará a ter o controle das unidades de aves (68%), suínos (51%), bovinos (80%) e fábrica de rações (51%);

• Com atuação em cinco segmentos, a ITG Group pertence ao governo da China e conta com escritórios em pelo menos dez países. Se efetivado, esse será o primeiro negócio da empresa no Brasil;

• O segmento de lacticínios foi repassado à multinacional Lactalis. O convênio com duração de cinco anos foi anunciado em 13 de março. O acordo estabelece que a cooperativa vai fornecer todo o leite in natura dos associados à empresa francesa;

• Também fica sob responsabilidade da Lactalis o pagamento aos agricultores e dos transportadores. No ano passado, a Languiru captou cerca de 149 milhões de litros de leite. Em resultados, o lucro líquido no segmento chegou a R$ 49 milhões.

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