Associados dos segmentos de leite, frangos e suínos foram chamados pela diretoria da Languiru para reuniões prévias à Assembleia Geral, marcada para esta quinta-feira. Os encontros de ontem, na sede da Associação dos Funcionários, ocorreram em dois turnos e tiveram por objetivo esclarecer os movimentos adotados pelo plano de reestruturação da cooperativa. Hoje está marcada a reunião com o segmento de lácteos.
Na ocasião, a presidência da cooperativa sustentou que a alternativa para evitar a falência está em confirmar a sociedade com o grupo chinês nos segmentos de proteína animal. A reunião foi fechada, mais uma vez apenas com a participação dos titulares do quadro social.
A equipe técnica apresentou os números sobre a situação fiscal. Conforme os dados, os compromissos com os bancos credores alcançam R$ 780 mil. Com terceirizados, fornecedores, transportadores e outros, as dívidas somam R$ 1,1 bilhão. “Nos apresentaram os números e disseram que a única forma de evitar a falência é fazer o negócio com os chineses”, diz um produtor de frango que pediu para não ser identificado.
De acordo com ele, também foram abordados temas sobre a continuidade dos trabalhos. “O setor de frango vai parar nos próximos dias. Venderam as matrizes, os ovos férteis, pintos. Nos disseram que o alojamento vai parar.”
Conforme o produtor, muitos participantes fizeram questionamentos à diretoria. Parte das respostas vinham do próprio presidente, Dirceu Bayer, afirma. “Ele falou que tem que vender. Disse que havia muitas ‘fake news’ na imprensa para prejudicar a Languiru.”
Para ele, há um indicativo claro de que a sociedade com o grupo estrangeiro será aprovada na Assembleia Geral desta quinta-feira, 30. “Vai passar. Há muita pressão. Inclusive foi dito que os produtores que saírem agora terão de arcar com o prejuízo.” A Languiru afirma que o segmento aves e suínos nos últimos tiveram prejuízo de R$ 274 milhões no últimos dois anos. Pelos argumentos da diretoria, outros fatores se somaram a estes para criar instabilidade, como o aumento nos custos de produção, a queda nos preços pagos na exportação, aumento nos estoques e redução no preço no mercado interno.
Segredo de Justiça
Dois processos contra a Languiru ingressaram em segredo de Justiça. Ambos com decisões liminares e da 2ª Vara Judicial da Comarca de Teutônia. O primeiro determina a apreensão de bens a fim de cobrir empréstimo com a Passo Fundo RS Fundo em Investimentos, com sede em São Paulo.
A cooperativa contratou financiamento no valor de R$ 10 milhões em novembro de 2022, sendo estabelecido um fluxo de pagamento mensal. Como garantia, cooperativa e o fundo elaboraram contrato de penhora mercantil, onde foram oferecidos produtos industrializados de suínos e aves no valor estimado em R$ 20 milhões. Houve um acordo entre as partes e o judiciário determinou o segredo.
A outra determinação foi movida por associados para impedir a venda de ativos da Languiru sem Assembleia Geral. Os cinco primeiros requerentes do processo sobre a exigência de decisão por assembleia retiraram o nome do processo. Foram substituídos por outros produtores na manhã de ontem e a decisão foi mantida.
Direção emite nota
Em comunicado oficial, a Languiru afirma que mantém o curso do projeto de reestruturação. A direção alega que “muitas informações distorcidas, opiniões mentirosas e caluniosas, vêm denegrindo a imagem da Cooperativa Languiru, da sua diretoria e de seu presidente, constantemente.”
No documento, também diz: “Todas as mentiras e calúnias surgidas em movimentos e ações judiciais com liminares, movidas por ASSOCIADOS, NÃO ASSOCIADOS OU EX-ASSOCIADOS, serão devidamente averiguadas e seus autores responsabilizados.”
Por meio da nota (disponível em languiru.com.br/comunicado-oficial/), a direção diz que as “medidas adotadas são urgentes e objetivam manter a renda dos associados e ao mesmo tempo a continuidade da Cooperativa, que envolve mais de 40 mil pessoas, direta e indiretamente. A manutenção do patrimônio e das atividades do quadro social dependem de importantes decisões a serem discutidas e formalizadas com a participação do associado.”
Detalhes dos negócios
• A carta de intenções entre direção da Languiru e representantes da ITG Group foi assinada na quarta-feira da semana passada, 22. Caso a negociação se confirme, o grupo estrangeiro passará a ter o controle das unidades de aves (68%), suínos (51%), bovinos (80%) e fábrica de rações (51%);
• Com atuação em cinco segmentos, a ITG Group pertence ao governo da China e conta com escritórios em pelo menos dez países. Se efetivado, esse será o primeiro negócio da empresa no Brasil;
• O segmento de lacticínios foi repassado à multinacional Lactalis. O convênio com duração de cinco anos foi anunciado em 13 de março. O acordo estabelece que a cooperativa vai fornecer todo o leite in natura dos associados à empresa francesa;
• Também fica sob responsabilidade da Lactalis o pagamento aos agricultores e dos transportadores. No ano passado, a Languiru captou cerca de 149 milhões de litros de leite. Em resultados, o lucro líquido no segmento chegou a R$ 49 milhões.