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ECONOMIA

Empresas reorganizam produções para seguir no Vale

Negócios de médio e grande porte atingidos pelas inundações migram unidades dentro de cidades da região. Preocupação é manter proximidade com as comunidades e garantir empregos

Na mancha de inundação, existe o entendimento de que não é possível continuar. Com isso, cresce a procura por áreas mais seguras

A identidade das empresas se forma pelo histórico, vinculação cultural e relação com as comunidades. Perder qualquer um destes lastros interfere sobre a continuidade do negócio. Nestes argumentos, empresários da região atingidos pela inundação de maio repensam a continuidade da produção e sustentam o desejo em permanecer no Vale.

Ao longo das últimas semanas, marcas locais de médio e grande porte se reestruturam à volta das atividades. Na mancha de inundação, existe o entendimento de que não é possível continuar. Com isso, cresce a procura por áreas mais seguras. Essas análises se intensificaram depois do episódio de novembro do ano passado. Cidades como Teutônia, Estrela e Lajeado estão no foco das estratégias dos investidores.

O movimento começou com unidades instaladas na rua Bento Rosa, em Lajeado, com a STW, se transferindo para Estrela, e com a Lajeadense Vidros, com uma nova sede em construção próxima à BR-386, ainda em Lajeado.

Mais recente, nesta semana a Fontana S.A comunicou a reabertura de parte da operação, de sabonetes em barra, para Teutônia. A Vinagres Prinz negocia a compra de terreno, com tendência para se instalar em Estrela.

Recuperação

“A permanência das empresas na região é fundamental. São elas que vão contribuir com a retomada do Vale. Quanto mais rápido o trabalho voltar, melhor. Assim a nossa região vai conseguir superar as dificuldades”, acredita a economista, doutora em Desenvolvimento Regional, Cintia Agostini.

Muito desse movimento de continuar com vínculos locais, diz Cintia, se deve à característica dos negócios. “Se tivéssemos grandes corporações, menos comprometidas com o território e com as comunidades, talvez a história seria diferente.”

Conforme o contador e consultor empresarial, Valmor Kapler, a migração entre cidades do Vale desloca a arrecadação de um município para outro, mas a riqueza continua na região. “Esse deve ser o nosso propósito maior, o desenvolvimento regional”, frisa.

Nestes termos, realça que os municípios que dispõe de áreas para instalar as empresas serão favorecidas no aspecto econômico e social pelo deslocamento das pessoas em busca de oportunidades de trabalho. Junto com isso, orienta: “construir ou reconstruir as empresas fora das áreas de risco agrega valor e solidez aos negócios.”

Valor do trabalho

Para o diretor do Dale Carnegie Vale do Taquari, Gabriel Garcia, a identificação dos negócios com o público local está na cultura. “As pessoas da região valorizam muito o trabalho. A atuação profissional é algo que tem significado. Essa é a uma entrega que as empresas também precisam”, diz

Garcia complementa: “as empresas olham para a infraestrutura danificada, buscam outros locais, mas o capital humano está aqui. Seria mais difícil mudar de região e ter que treinar outras pessoas que talvez não compartilhem dos mesmos valores.”

Arranjo inevitável

Em pouco mais de oito meses, quatro grandes inundações. Os prejuízos são imensuráveis aos negócios, considera a professora e economista Fernanda Sindelar. “Muitas nem se recuperaram da primeira ainda. Essa sequência comprova uma mudança nos parâmetros locais e os empreendimentos não podem continuar onde a água chega.”

Para ela, esse arranjo se tornou inevitável e obriga as empresas a buscarem áreas seguras. “O empresário sabe que não vai poder permanecer onde pode perder tudo. Então, neste momento, é fundamental que se tenham políticas de acesso a crédito para reconstruir os negócios.”

Novo mapa empresarial

Ao longo das últimas duas semanas, empresas anunciam mudanças de sedes dentro da região.

  • Fontana em Teutônia

Empresa histórica de Encantado instala parte do setor de produção e de distribuição para o bairro Alesgut. As linhas de sabonete e logística ficarão em Teutônia. Na sede em Encantado, a direção trabalha para retomar a produção dos óleos químicos, produtos de limpeza e pasta base de sabonetes.

  • Vinagres Prinz em Estrela

Empresa com mais de 90 anos de história em Lajeado, está entre as mais prejudicadas pelas inundações desde setembro do ano passado. A direção negocia áreas para receber o novo parque fabril. Uma das possibilidades é ir para as proximidades da BR-386, em Estrela.

  • Lajeadense Vidros em novo endereço

A nova sede está em construção no bairro Imigrante, em Lajeado. Fica perto da BR-386. Algumas linhas de produção estão em pavilhão alugado em Estrela. O projeto é iniciar os trabalhos no novo prédio até o fim do ano.

  • WSA Turbinas em Teutônia

Depois dos prejuízos em Estrela, a WSA Turbinas Hidráulicas confirmou a mudança das operações para Teutônia.

  • STW em Estrela

Depois das duas enchentes de setembro e novembro do ano passado, a empresa de automação industrial se transferiu para as imediações da BR-386, em Estrela.

  • Carrer Alimentos em Teutônia

Empresa instala unidade no incubatório da Languiru, no bairro Alesgut, em Teutônia. Empresa com sede em Encantado, a Carrer se consolidou como uma das maiores em retorno de ICMS. Foram 20 anos de atuação no bairro Porto XV, um dos mais prejudicados pelas inundações.

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