A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 7 milhões de mulheres sofrem com endometriose no Brasil. Em Estrela, Fazenda Vilanova e Imigrante, se tem registro de 22 pacientes diagnosticadas com a doença, entre 2021 e 2022. O atendimento hoje é feito no Hospital São José, de Arroio do Meio, e os casos mais complexos são encaminhados para Porto Alegre. Colinas e Bom Retiro do Sul não possuem dados específicos de portadoras.
A ginecologista do CliniMulher do Hospital Estrela (HE), Caroline Schroer, explica que a endometriose é uma doença ginecológica crônica, benigna e de natureza multifatorial. “Pode ser definida pela presença de tecido endometrial fora do útero, com predomínio na pelve. Acredita-se que a prevalência seja entre 5% e 10% da população feminina em idade reprodutiva”, pontua.
Diagnóstico e tratamento
Conforme a também ginecologista do CliniMulher, Muriel Mattos, a média estimada do tempo entre o início dos sintomas até o diagnóstico definitivo é de cerca de sete anos. O exame físico, em especial o toque vaginal, é fundamental para verificar a presença de suspeita de lesões profundas nessa região. “O ultrassom pélvico e transvaginal e/ou a ressonância magnética desempenham papel significativo na decisão”, afirma.
Segundo as médicas, o tratamento, no primeiro momento, é clínico, através de medicação hormonal. Isso ajuda no controle da dor pélvica. “A cirurgia de videolaparoscopia pode ser indicada em casos de infertilidade ou lesões volumosas, que causam complicações maiores”, completam.
Cirurgia
Natural de Teutônia, a coordenadora de polo educacional, Júlia Renata Dörr, 42, foi diagnosticada com endometriose grau 4, o mais severo, em dezembro de 2020, após passar por vários médicos. Um ano depois, fez cirurgia, pois a inflamação causou uma estenose (fechamento) quase total do reto, com apenas 20% de passagem de luz. “Procurei pelo SUS, onde fui encaminhada para o Hospital Conceição, em Porto legre. Fui atendida pela equipe ginecológica e de proctologia”, lembra.
Segundo ela, o procedimento atrasou em função da covid-19 e pela gravidade da situação da doença. “Usei bolsa de ileostomia, pois além de perder o reto, perdi parte do intestino grosso. Tive dificuldade de urinar sozinha, então precisei me sondar por algum tempo após a cirurgia. A reversão da bolsa foi no mês passado e correu tudo bem”, salienta.

“É a doença da mulher moderna”
Dores menstruais, na lombar e no nervo ciático, além do colo do útero fechado no exame do pré-câncer, progesterona baixa e ciclo menstrual curto. Para Julia, ao longo dos anos, os sintomas foram relativizados e não receberam a devida atenção. “Acredito que todos nós mulheres sabemos quando o nosso corpo não vai bem. Infelizmente não temos profissionais sensíveis e dispostos a buscar soluções conosco através do que sentimos”, observa.
A coordenadora ressalta a importância de conscientizar sobre os sintomas e divulgar o nome de médicos especialistas na área. “A endometriose é a doença da mulher moderna. Trabalhamos muito, descansamos pouco, cuidamos muitos dos outros e olhamos pouco para nós com o mesmo cuidado”, ressalta.
Registros
De acordo com a coordenadora de Saúde de Estrela, Regiane Möllmann, quase todas as unidades de saúde possuem atendimento ginecológico. Inclusive, contam com apoio da Univates, no Posto Central, com os professores e alunos. “Casos de endometriose são poucos, dois neste ano e cinco em 2021”, conta.
Em Imigrante, um ginecologista atua no posto de saúde 9h semanais. A secretária de Saúde, Jóice Cristina Horst, explica que há um auxílio para os exames complementares, além de transporte para as pacientes. “Dentro da ginecologia possuímos um levantamento, mas casos de endometriose específico não temos. Ano passado não lembramos de ter encaminhado. No entanto, neste ano tivemos três casos”, afirma.
Em Fazenda Vilanova, um ginecologista atende uma vez por semana na Unidade Básica de Saúde (UBS). No município, 11 paciente foram encaminhadas para atendimento em Arroio do Meio e uma para Porto Alegre.
Sem registros
Um ginecologista atua duas vezes por semana na unidade de saúde de Colinas. Conforme a secretária de Saúde, Assistência Social e Habitação, Angelita Herrmann, não há como precisar quantas pacientes tem endometriose porque normalmente os encaminhamentos atestam para o sangramento excessivo e anormal. “O diagnóstico é feito na referência, então isso não fica registrado em nossos relatórios”, aponta.
Até o fechamento desta edição, Bom Retiro do Sul não havia repassado os dados de pacientes para a reportagem.