Jornal Nova Geração

VALE DO TAQUARI

Estiagem preocupa agricultores e compromete produção

Milho é a cultura que mais sofre os impactos da seca e soja depende da chuva dos próximos dias

A estiagem na região já gera perdas na casa dos 50%. A cultura mais afetada é o milho e a soja depende das próximas chuvas para brotar e se desenvolver. Os acumulados de novembro, 38 milímetros, e dezembro, 21 milímetros previstos, não são suficientes para desenvolver as plantas. As regiões mais altas, que costumeiramente sofrem com a falta do recurso, preparam-se para meses difíceis. O problema do leite se agrava ainda mais este ano, pois a produção vem de uma sequência de três anos de escassez de silagem e com a qualidade baixa.

O engenheiro agrônomo e assistente técnico regional de organização econômica da Emater, Alano Thiago Tonin expõe um cenário preocupante. Em Estrela as perdas na cultura do milho já chegam a 50%, com algumas situações mais pontuais apresentando perdas maiores que esse percentual. “Em Fazenda Vilanova as perdas também estão na casa dos 50%, tendo em vista que a área onde se tem a maior parte da cultura faz divisa com Teutônia e Estrela”, explica Tonin.

Em Bom Retiro do Sul a situação não é diferente, ficando em 50%. Já em Colinas, as perdas são estimadas em 60% com milho e de 15 a 20% na soja. Imigrante apresenta situação um pouco melhor. “Por enquanto as perdas na cultura do milho estão em mais ou menos 15%. Caso não chova na semana do Natal, a situação também se agravará muito.”

O engenheiro agrônomo frisa que há situações pontuais em todos estes municípios. Algumas áreas estão melhores, talvez pela época de semeadura em período um pouco diferente, ou alguma característica de solo e manejo de solo que esteja influenciando positivamente. Assim como áreas com perdas acima da média. Áreas essas que geralmente são utilizadas mais intensamente, e que por consequência apresentam condições de solo menos favoráveis, compactação, pouca cobertura vegetal”, aponta.

Cenário deve afetar produção de leite

A produção de leite deve ter quebra pelo terceiro ano consecutivo. Nesse período houve escassez de silagem, e ainda assim com qualidade baixa. “A silagem é o alimento que dá a segurança para a propriedade, principalmente nesse momento em que o custo de produção está elevado e o preço do leite não acompanhou esta alta”, declara Tonin.

Outro impacto é que, com a falta de brota nas pastagens, a perda de qualidade é inevitável. Elas estão secando, ficando praticamente só fibra. “Se o agricultor manter os animais em cima dessa pastagem, ela vai acabar morrendo, então está bem complicada a parte das pastagens também.”

O prognóstico é de que o produtor tenha que buscar outras alternativas, comprando outros alimentos para o gado, eventualmente disponíveis na região. Os produtores terão de comprar silagem de quem tem pra vender. Quem comercializa, porém, também está produzindo menos, e de menor qualidade. “Silagem com pouco grão, e consequentemente com pouca energia. Ou seja, mais silagem terá de ser fornecida ao gado, ou ser complementada com mais ração, o que acabará encarecendo o custo da alimentação desses animais”.

O agricultor Dorival Herthal fica sem produzir aves de dezembro a março (Fotos: Carlos Eduardo Schneider)

Falta d’água preocupa

O verão coloca em alerta os produtores de aves do município. Nas localidades mais altas, como linha Rex e Boa Vista 37, a água chega com pouca vazão. Nas situações de maior emergência o recurso é levado por um caminhão-pipa.

Morador de Boa Vista 37, o agricultor Dorival Erthal, 53 anos, possui dois aviários. Cada criadouro comporta até cinco lotes por ano, totalizando 200 mil aves. Há alguns anos, porém, ele não arrisca produzir entre os meses de dezembro e março. “O consumo de água chega a 15 mil litros diariamente, nos meses mais quentes. Não posso arriscar perder a produção, então fico sem trabalhar”, explica Erthal, que recebeu água de caminhão, e até dos bombeiros.

Luciano Carminatti não relata problemas com o abastecimento de água. O poço, porém, está localizado em linha Imhoff, localidade bem abaixo de Boa Vista 37. “A vazão é pouca e o custo está no bombeamento da água até aqui em cima”, disse Carminatti, que cria gado para o abate. “Se eu criasse frango, não teria como manter a produção”, conclui.

O secretário da Agricultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Gilnei Dahmer, disse que o problema é antigo. “Temos a previsão de perfurar dois poços lá em cima, para que este problema seja resolvido de uma vez por todas”, declarou. A previsão é de que os trabalhos iniciem em janeiro de 2022. “Enquanto isso, a prefeitura permanece assistindo os produtores de caminhão”, conclui Dahmer.

Luciano Carminatti arca com o custo de bombear água das localidades

R$ 1 mil por hectare, que não será recuperado

A situação em linha Geraldo, Estrela, é preocupante. Júlio Cézar Schneider, de 30 anos, cultiva com o pai, Bonifácio, 62 anos, 50 hectares. Dessa área, 10 hectares servem para o cultivo de milho e os outros 40, para o plantio de soja. “Somente em adubação, investimos R$ 100 mil. Ainda há investimentos em herbicida e todo o preparo do solo. Calculamos R$ 1 mil por hectare, que este ano não vamos recuperar”, lamenta Júlio Cézar.

A quebra do milho já representa 40% da produção. O milho tardio, plantado de outubro em diante, sofreu 70% de quebra. Percorrendo a propriedade é fácil perceber o estrago que a seca vem deixando. Os pés de milho estão secos. As espigas, quando completas, são pequenas. Mas a maioria está mal formada.

No lado da soja, O agricultor mostra os grãos que sequer germinaram. “Nas áreas mais baixas da propriedade, alguma umidade ajudou a desenvolver a cultura. Dependemos da chuva nos próximos dias para saber o que será da soja”, disse.

Municípios contabilizam prejuízos e planejam busca por recursos

Em Estrela, a Secretaria da Agricultura contabiliza as perdas. O Secretário Douglas Sulzbach enviará ofício, via Associação dos Secretários da Agricultura do Vale do Taquari, cientificando o Governo do Estado sobre a situação das lavouras do município. Sulzbach reuniu Defesa Civil e Emater, nessa terça-feira, dia 21, para decidir os encaminhamentos. A decisão, porém, será debatida em reunião na próxima semana, com o prefeito Elmar Schneider.

Em Fazenda Vilanova, o secretário da Agricultura, Marcos Adriano Lerner relata que há falta de água para os animais, mas que o recurso está sendo fornecido por meio de caminhões. A chuva é insuficiente para irrigar a plantação. “Estamos fazendo os levantamentos para termos um número exato das perdas. Podemos adiantar que o prejuízo no setor primário será significativo”, declarou Lerner.

Coordenador de Meio Ambiente da Prefeitura de Colinas, Marco Rohr declarou que o município irá buscar recursos junto ao Estado. “Não temos ainda a estimativa de perdas do setor leiteiro. A pastagem terá quebra de 80%”, disse.

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