Jornal Nova Geração

OPINIÃO

Estrela e o germanismo

"Nesse caso, não é a nacionalidade que é colocada em pauta, e sim o fato de serem todos “novos” em um “novo mundo”

Minha pesquisa acadêmica relacionada a Estrela é dividida em 2 etapas: uma que se inicia em 1794 e se estende a 1856 e a segunda, de 1856 a 1922. A primeira etapa se fundamenta no período em que Estrela estava no que chamo de período de gestação, ou seja, de ocupação e formação. Já a segunda etapa é o período de colonização, pois neste ano Estrela recebe seus primeiros imigrantes para colonização. Nos documentos pesquisados por mim no AHRS (arquivo histórico do do Rio Grande do Sul) tive acesso a lista das primeiras 45 famílias que chegaram em Estrela no ano de 1856. São diferentes nacionalidades europeias, predominando os imigrantes de origem Prussiana, mas também de origem francesa, dinamarquesa, bem como imigrantes que já haviam se instalado anteriormente em São Leopoldo, berço da imigração germânica no estado do Rio Grande do Sul que teve início em 1824.

A noção de que os imigrantes/migrantes pertenciam a uma mesma comunidade, fosse a partir dos laços de amizade ou familiares levou os colonos a promoverem o surgimento de várias associações, o que também ocorreu em Estrela, cujo objetivo, em princípio, foi a manutenção de uma herança cultural, o que se deu, principalmente, a partir das construções das igrejas, e em seguida, de instituições vinculadas à cultura, como clubes de tiro, corais, grupos de danças folclóricas, entre outros aspectos perceptíveis até os dias atuais.

Isso ficou mais uma vez evidente durante as festividades que pautam o aniversário do município de Estrela anualmente ao longo do mês de maio, através do Germanismo presente nos eventos como os jogos germânicos e o tradicional festival do Chucrute. Além dos eventos, também está presente essa identidade germânica em monumentos celebrativos que cabem citar o pórtico de entrada, o monumento Chuc e Ruth as margens da BR-386, no comércio, com nomes mantendo a língua germânica, bem como nos dialetos presentes nas localidades interioranas de Estrela, na qual cabe citar a historiadora Giralda Seyferth que discute em suas pesquisas a questão do germanismo: “é possível observar que houve uma reinvenção da germanidade no território colonizado, que incorpora a mudança cultural ocasionada pela conversão do emigrante em imigrante”. Nesse caso, não é a nacionalidade que é colocada em pauta, e sim o fato de serem todos “novos” em um “novo mundo”. Porém, a dificuldade existente de se libertar do “velho” tendo em vista a opção por uma nova Heimat (Pátria), acaba levando à manutenção do Deutschtum (germanismo).

Porém, é necessário compreender que ao longo do tempo diversas origens étnicas contribuíram para a formação da atual composição social estrelense, na qual podemos citar os povos indígenas, lusitanos, africanos, italianos, entre outras. Isso também ocorre em alinhamento com outros municípios relacionados à colonização germânica no Vale do Taquari, que igualmente buscam a revalorização de uma identidade étnica preponderando sobre outras através de diferentes monumentos e festividades, alinhados a uma mercantilização do turismo.

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