Jornal Nova Geração

ECONOMIA

Exportações do Vale crescem quase 15% e somam 392,6 milhões de dólares

Alta nos preços influencia o resultado das vendas ao mercado externo nos 11 meses de 2022 comparado ao mesmo período do ano passado. Crise no segmento de proteína animal e logística limitada estão entre os desafios das indústrias

Carne de frango é um dos principais produtos exportados. Dificuldades do setor pela alta nos custos de produção colocam indústrias em alerta . Crédito: Jonathan Campos/divulgaÇÃo

Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços revelam incremento de 14,8% nas receitas das exportações no comparativo com 2021. Neste período o valor chega a 392,6 milhões de dólares, cerca de R$ 2 bilhões. A apuração na modalidade FOB (Free On Board) não considera os custos de seguro e frete envolvidos após embarque no porto.

Carnes, doces, erva-mate e produtos de metal estão entre os principais itens vendidos pelo Vale ao mercado externo. A lista também inclui calçados, químicos e grãos. Por outro lado, a logística é apontada como um dos gargalos para ampliar a competitividade da indústria regional.

Frente aos números gerais do RS, que movimentou 19,1 bilhões de dólares neste ano, a participação do Vale do Taquari representa pouco mais de 2%. Contudo, a região ainda tem outro diferencial importante para o desenvolvimento sustentável. A maior parte dos valores se referem ao desempenho da indústria da transformação e não às commodities.

Enquanto alguns setores ganham força e são apostas para o próximo ano, como é o caso do segmento de doces, a proteína animal sofre com altos custos de produção e pode ter desempenho comprometido. Ainda assim, a região conta com investimentos significativos para manter o ritmo de expansão das empresas em outras áreas.

Diversidade em produtos

Entre as cidades com maior volume de vendas ao exterior está Lajeado. Só neste ano as exportações movimentaram 92,4 milhões de dólares, tendo como protagonista a proteína animal e doces. A receita supera os 84,6 milhões de dólares registrados no mesmo período do ano passado.

Pela avaliação do secretário da Fazenda de Lajeado, Rafael Spengler, um dos diferenciais da região é a diversidade de produtos. “Não dependemos das commodities como ocorre em outros locais do estado e com isso conseguimos manter um nível importante das exportações.”

Spengler ainda destaca outro fator, atrelado às oportunidades de trabalho geradas pelas companhias. “Temos a BRF com cerca de 5 mil funcionários. Ela também é a maior em valor adicionado fiscal.” O secretário e economista observa ainda um cenário no qual a guerra na Ucrânia trouxe reflexos ao mercado global. “O Brasil cresceu nas vendas internacionais, em especial, de alimentos.”

Potencial do mercado de doces

A reestruturação das empresas de balas e chocolates projeta um novo momento do setor na região. De acordo com o presidente da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), Ivandro Rosa, as indústrias promovem significativos investimentos para crescer entre 20% e 30% no próximo ano.

“Nossas marcas de doces ampliam estruturas e linhas de produção para dar conta desse mercado em franca expansão”, observa Rosa. Por outro lado, alerta para impactos no setor de proteína animal. “As agroindústrias de aves e suínos sofrem a pressão dos altos custos e reduzem a capacidade produtiva.”

Na perspectiva de Rosa, esse cenário deve persistir no próximo ano e impactar as vendas globais de carnes. Os desafios atrelados à região também estão relacionados à logística. Hoje, para chegar ao Porto de Rio Grande os produtos são escoados por um único modal, o rodoviário. A CIC-VT tem entre as metas avançar com debates para destravar projetos na área de ferrovia e hidrovia, mas reconhece ser um processo lento.

Já os impactos da pandemia na cadeia de suprimentos alteraram alguns padrões de consumo. Com menor volume nas importações de calçados, o segmento passou a atender mais o mercado interno. Outro setor no qual se projeta um desempenho positivo está a indústria de produtos de limpeza, que acompanha a tendência dos alimentos.

Argentina restringe importações de erva-mate

O Vale do Taquari é responsável por 60% da erva-mate cultivada no estado. Nas vendas internacionais, Argentina, Uruguai e Paraguai estão entre os principais clientes. Contudo, problemas de câmbio e crise interna fizeram com que o governo argentino restringisse a entrada do produto brasileiro.

Agora, as empresas ervateiras buscam alternativas para não perder esse importante mercado. De acordo com o vice-presidente do Sindicato da Indústria do Mate do Rio Grande do Sul (Sindimate/RS), Gilberto Heck, uma forma paliativa é vender ao consumidor final por meio de parceria com empresas locais da Argentina. “Sem dúvida a decisão do país vizinho vai impactar em nossas exportações.”

Heck reforça o crescimento das vendas internacionais desde o ano 2000. “Abrimos mercado nos EUA e Europa, mas o volume ainda é pequeno se comparado ao vendido nos países do Mercosul.”

Exportações representam faturamento

A Hassmann, com sede em Imigrante, produz fixadores para a indústria de máquinas agrícolas, caminhões e automóveis. As vendas, em especial aos Estados Unidos, já representam cerca de 15% do faturamento e devem crescer ainda mais no próximo ano.

Conforme o gerente comercial, Augusto Hassmann, as oportunidades no mercado externo incentivaram a abertura de filial em Tampa, na Flórida. “Os EUA representam 70% das nossas exportações. Fornecemos parafusos, porcas, pinos e outras peças para montadoras como a John Deere.”

Pela avaliação de Hassmann, o desempenho poderia ter sido ainda melhor se não fosse a escassez global de componentes e de contêineres. “O dólar acima de R$ 5 ajudou no resultado das vendas e ter nossa filial lá também evidencia um novo momento na empresa.”

Indústria da transformação

Influenciadas pelos preços dos produtos, cuja média aumentou 13% entre janeiro e novembro, as exportações da indústria de transformação do RS subiram 23,4% nos primeiros 11 meses de 2022. Um incremento de 2,97 bilhões de dólares em relação ao mesmo período de 2021.

Já na comparação mensal com novembro do ano passado (o total comercializado chegou a US$ 1,46 bilhão), a elevação foi de 13,8%, novamente influenciada pelo efeito preço. É a primeira alta após a breve queda registrada em outubro, de 3,84%.

“Apesar do resultado positivo nas exportações provocado pela alta nos preços, apenas 11 dos 23 setores da indústria de transformação gaúcha registraram aumento nas vendas externas até novembro”, afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry.

Mais uma vez, o setor que mais se destacou no estado, foi o de tabaco, tendo China e Bélgica como principais destinos. Quanto às exportações desse segmento, o efeito preço foi predominante, mais do que a quantidade exportada, na comparação de novembro de 2022 com igual mês de 2021.

Compartilhar conteúdo

PUBLICIDADE

Sugestão de pauta

Tem alguma informação que pode virar notícia no Jornal Nova Geração? Envie pra gente.

Leia mais: