“Em cima do palco eu posso ser quem eu quiser”, afirma Sofia da Veiga, de 12 anos, que participa pela primeira vez de uma peça teatral. A jovem atriz destaca que desde o início dos ensaios, no mês de agosto, seu desenvolvimento, perda de timidez e vergonha e melhora na fala são notáveis. E é consenso entre os atores e o professor de teatro, Sérgio Pereira, que a atuação gera esses benefícios.
A peça “A Missão de Alice”, inspirada no roteiro de Berenice Gehlen Adams e Marina Strachman, conta a história de uma aluna das séries iniciais que tem a missão de fazer um trabalho escolar sobre o meio ambiente. Enquanto pesquisa sobre o assunto, adormece e sonha com personagens relacionados ao ecossistema.
Em devaneios imaginários, os personagens ganham vida e desafiam Alice com a missão de ajudar o Sr. Meio Ambiente, que está muito doente. Ao acordar, a pequena aluna coloca em prática os aprendizados que teve durante os sonhos. No decurso de três meses, além de aprender técnicas de atuação, os atores também estudaram sobre ecologia, compartilharam ideias e montaram as caracterizações.
Muito além de contar histórias e subir ao palco, o professor de teatro reforça a arte como uma representação da realidade. “O teatro é a ação artística mais antiga da história. Os pré-históricos faziam mímicas nas fogueiras na frente das cavernas. Hoje se desdobra com as representações trágicas e cômicas”, ressalta Pereira.
O ator também reforça que participar de grupos e oficinas fortalece as conexões humanas, postura e relacionamentos. “O teatro desinibe, faz a pessoa falar melhor e se expressar assertivamente. Ensina a pessoa a lidar e manifestar seus sentimentos”, conclui. Como forma de estimular estes pontos, os alunos ensaiam de forma semanal.
Os trajes para apresentação da peça foram pensados por todos e montados pela atriz Aline Sek, a maioria com materiais recicláveis. A personagem “Reciclagem”, por exemplo, teve sua roupa feita de jornais, enquanto o “Lixo” tem, literalmente, uma capa de saco de lixo, com moscas e luvas de borracha. Já o “Sr. Consumismo”, vilão da peça, possui três relógios – pois não pode perder tempo -, celular e passa o tempo com charuto na boca.
“Todos participaram ativamente de tudo, todos conversaram para entender cada papel e como poderíamos representar as características.
Queríamos chamar a atenção por isso também”, explica Aline. Com atores desde os 7 anos, o objetivo é que a oficina atraia cada vez mais crianças. A atividade é oferecida por meio da Casa de Cultura da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer (Setcel).
“Os pequenos hoje em dia estão muito focados em mídias. Então o teatro é uma maneira de colocar elas em contato com a vida, com a realidade. Teatro se faz para fora, tem que falar, dialogar, conviver”, explica Pereira. A peça, que dura em torno de 30 minutos, conta com falas de todos os participantes.
“No palco, eu sou outra pessoa”
O sentimento de liberdade relatado por Sofia, que interpreta a “Reciclagem”, permite que ela explore atitudes que não fazem parte de sua rotina habitual. Ela conta que não é uma pessoa que costuma gritar ou xingar. No entanto, no palco, ela se permite experimentar essas expressões.
“Eu faço isso de uma forma muito divertida. Eu sei que ali eu não sou a Sofia. Teve um dia que aconteceu de eu chorar no ensaio, mas sou uma pessoa que não chora com frequência. Naquele momento eu percebi que eu consigo entrar no personagem e atuar”, relata a jovem atriz.
Também no palco pela primeira vez Pietra da Veiga, a vilã “Poluição”, afirma que todo o grupo evoluiu desde o primeiro ensaio. Durante os primeiros encontros, a turma se reunia para ler e decorar as falas dos personagens, até que chegaram ao primeiro ensaio. Todos muito tímidos, conforme a atriz de 14 anos.
“Depois de algumas atuações, todos foram se soltando falando melhor, melhorou bastante ao longo dos meses”, destaca Pietra. A peça traz assuntos atuais como consumo em excesso, bem como exagero no trabalho. A “Poluição” trabalha 24 horas a mando do “Sr. Consumismo” e é obrigada a escutar frases como “estava na fila do Sine e pedindo Bolsa Família ou Auxílio Brasil”, que faz o personagem repensar suas atitudes em relação às suas atitudes.
A peça conta com 11 atores, desde os 7 até os 65 anos. Até o dia 16 de novembro, a peça circula nas escolas de Estrela e, além de disseminar a importância do teatro e da atuação, também leva a conscientização sobre o meio ambiente, consumo sustentável e a relevância da reciclagem.
Confira os personagens:
- Alice (Isabela): Menina que vive sonhando de olhos abertos. Muito interessada e estudiosa.
- Ambiente (Aline): Um velhinho cansado, doente, às vezes tem que gritar tanto para que alguém o escute que acaba por ficar afônico. Parece que não se interessam mais por este senhor.
- Ecologia (Natália): É uma senhora bonita, cheia de altos e baixos, por vezes, está muito feliz, cheia de vida, risonha e alegre, contando sobre toda a sua história, mas de repente, seu humor muda e fica extremamente depressiva, pronta para “morrer a qualquer instante”.
- Preservação (Rafaela): É a melhor amiga da Ecologia e do Ambiente e defende seus ideais com unhas e dentes.
- Reciclagem (Sofia): Uma jovem artista, cheia de ideias. Vive remexendo no lixo de tudo e de todos, de onde retira a matéria prima para seus trabalhos. Ela reaproveita quase tudo.
- Consumismo (Sérgio): Tem um império em fábricas, lojas, carros, iates, jato particular, e quer sempre mais, mais, mais…
- Poluição (Pietra): Braço direito do Sr. Consumismo, onde um está, o outro está também; o que um tem o outro tem também; não tem a mínima personalidade e seu maior divertimento é fazer o trabalho sujo do patrão.
- Lixo (Eduardo): Um garoto triste, quando consegue uma coisa mais interessante, vem logo alguém e tira dele.
- Respeito (Arthur), Tolerância (Davi), Amor (Daniel): São trigêmeos, sábios, alegres, otimistas e muito pacientes. Procuram sempre compreender a realidade que os cerca.
Confira as próximas apresentações:
- Terça-feira, dia 29 – 15h: Emef Escola Leo Joas
- Quinta-feira, dia 1° – 09h15min: Emei Paulo Freire
- Sexta-feira, dia 16 – Duas apresentações no Parque Princesa do Vale, no Recital da Casa de Cultura