Personificação de sentimentos como amor, desejo, felicidade, solidão e desprezo por meio de demonstrações faciais, movimentos marcantes das mãos e dos pés. A dança flamenca traz consigo os costumes de manifestar dores e alegrias da vida. É uma arte que se comunica pelas expressões corporais.
O flamenco surgiu por volta do século XV na região de Andaluzia, sul da Espanha, e abrange canto, música e dança. Se originou da miscigenação cultural de povos imigrantes, que ali circulavam, e suas influências, como ciganos, árabes e judeus.
No entanto, as relações do país com as manifestações flamencas nem sempre foram boas. Durante muitos anos, os espanhóis associaram a dança aos grupos marginalizados e consideraram as performances vulgares. Devido a difícil trajetória, as expressões são carregadas de emoção, como forma de demonstrar suas origens e seu orgulho.
A cultura passou a se disseminar pela Europa por volta do século XIX. As primeiras escolas de dança e música também começaram a se apresentar em óperas e balés. Desde então, o flamenco foi utilizado como ferramenta para fomentar o turismo espanhol.
Hoje, a dança é conhecida pelo mundo. Em 2010, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou o flamenco como uma das Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Há mais de 200 anos, a Espanha é considerada pátria desta manifestação cultural.
Utilização de acessórios característicos como abanico (leque), mantón (xale com franjas), bata de cola (vestido ou saia de cauda de babados), bastón, castanholas e sombrero fortalecem as exibições dos bailaores, como são chamados os dançarinos, pelos tablados.
Segundo a professora do Arsa Flamenco, Angélica Pott, a dança também traz benefícios aos praticantes, como equilíbrio, melhora na postura, reforço muscular, coordenação motora, além de ampliar o conhecimento cultural.
“As danças em todos os seus estilos fazem bem. Mas o flamenco traz à tona sentimentos que têm o poder de melhorar o emocional e autoconhecimento”, comenta Angélica. “O interesse pelo assunto leva ao conhecimento da história, arte, gastronomia, arquitetura, sobretudo, da região de Andaluzia”.
A professora tem como objetivo difundir a cultura flamenca no Vale do Taquari, até então pouco conhecida pela região. Em 2019, ela passou a dar aulas do ritmo em uma escola de dança em Lajeado, e desde então, atraiu alunas que se apaixonaram pelo universo flamenco.
A secretária Leonize Marques, 55, sempre foi uma exploradora dos ritmos de dança, como dança do ventre. Ela vê na atividade uma oportunidade de exercitar o corpo e interagir com mais pessoas. No entanto, há 3 anos, a Nize, como é conhecida pelas colegas, se identifica com o flamenco. “Fiz uma aula experimental e me apaixonei. Me desafia também, pois é uma dança bem difícil. Exige concentração, treino e parceria e persistência”, conta.
A professora destaca que o foco na percepção das ritmo é indispensável, pois a dança é interligada à música. “É fundamental que quem a execute esteja atento ao aspecto musical o tempo todo”, aponta Angélica.
Ela iniciou seus estudos no ensino flamenco em 2007, no Tablado Andaluz de Caxias de Sul. Desde então participou de grandes espetáculos, cursos, shows e feiras. Hoje, ela compartilha seu conhecimento sobre a dança e cultura na sua escola, em Colinas.
Alunas de várias cidades do Vale do Taquari vão até o pequeno município para encenar os movimentos e bater os pés no tablado. Ao chegar lá, trocam suas roupas habituais pelas saias longas e praticam o sapateado com movimentos de braço e corpo.
Flamencoterapia
A psicóloga Aline Richter, 42, pratica a dança há menos de um ano, embora conhecesse o flamenco antes. Ela destaca que quando descobriu as aulas na região, tratou de logo iniciar. Hoje, Aline define a atividade como “um exercício para o corpo e para a mente”.
A busca começou por um exercício que a desse prazer. De acordo com ela, o flamenco tem o poder de elevar a autoestima e manifestar as emoções pela expressão corporal.
As aulas também são definidas pela Aline Mallmann, 28, como “flamencoterapia”. Ela encontrou o flamenco há 3 anos. Além da dança, as rodas de conversa sobre a cultura flamenca e espanhola são partes integrantes das aulas as fazem se interessar mais pelos costumes.
Aline já subiu aos palcos de Colinas e Lajeado para apresentar a dança em festivais. “A emoção de levar essa dança tão forte às outras pessoas é indescritível. Eu nunca tinha subido em um palco, foi uma grande emoção”, relata.
Retorno ao tablado
A vida fez com que a geóloga Thais Pozzoco se afastasse durante 15 anos da dança. Ela iniciou no flamenco em 2005, em Porto Alegre, que é considerada a capital do flamenco no Brasil. Ela começou em outros ritmos e descobriu na cultura flamenca uma forma de expressar os sentimentos.
Ao encontrar a escola em Colinas, pôde voltar ao tablado e praticar a dança pela qual é apaixonada. “É uma dança forte. Eu aproveito ela. Me desestressa”, afirma ela.
A professora Angélica ressalta que tem projetos para disseminar a dança e a cultura flamenca na região, através de apresentações, participação em eventos e realização de cursos e workshops com artistas do meio. Uma forma da cultura ser vista e apreciada no Vale do Taquari.
Benefícios da dança flamenca
- Ajuda no equilíbrio, postura e reforço muscular
- Melhora a coordenação motora
- Eleva a autoestima
- Trabalha a percepção musical
- Amplia horizontes culturais