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Gari Felicidade transforma trabalho em brincadeira e sorrisos pelas ruas

Trabalhador da coleta de lixo, Joeder Saldanha achou em meio à sua função uma forma de trazer alegria por onde passa

Foto: Marcelo Grisa

Muitos conhecem Joeder Saldanha, mesmo sem saberem o seu nome. Ele é o coletor de lixo mais peculiar de Estrela. O próprio Joeder se identifica como o Gari Felicidade, aquele que se veste com vestidos, sutiãs e perucas por cima do uniforme.

Além das roupas, Joeder (ou Felicidade) dança e rebola enquanto se segura na estrutura do veículo, por subidas e descidas, curvas e quebra-molas. Acena para quem está na rua, e com frequência tem respostas positivas ao estilo irreverente de trabalhar.

Débora Regiane Bento trabalha em uma padaria no centro de Estrela. Apesar de nunca ter falado com Joeder, ela admira a sua forma de estar nas ruas. “Acho interessante como ele passa essa alegria. Trabalhar com o lixo costuma deixar o pessoal sério, mas a felicidade dele transborda para o resto das pessoas em volta”, acredita.

Quem vive em outras cidades do Vale do Taquari pode já ter visto Joeder trabalhar com um sorriso no rosto. Nascido em Redentora, no Norte do estado, mora no Vale há mais de uma década e sempre atuou na limpeza pública. “A gente nem estranhou, porque ele já dançava e fazia uns vídeos lá em Teutônia. A novidade foi se fantasiar”, analisa o padrasto de Joeder, Marcelo Correa de Morais.

Missão de alegrar

Normalmente, é fácil ver caminhões passarem para fazer a coleta de lixo nas ruas da cidade. Não é preciso prestar atenção para ver o veículo. Entretanto, menos visíveis que eles são os coletores, os trabalhadores que pegam os sacos e sacolas de lixo e atiram na parte de trás do caminhão.

Joeder começou a contrariar a regra em meio ao trabalho. “Eu achei uma peruca enquanto eu recolhia o lixo. Aí me bateu uma ideia: e se eu trabalhasse com isso aqui pra divertir o povo por aí?”, lembra. Daí em frente ele pegou gosto pela brincadeira, e vai todos os dias trabalhar fantasiado.

Todas as outras peças de roupa, bem como uma segunda peruca, foram achados em meio ao que foi jogado fora. Em sua casa, no bairro Boa União, mantém as roupas em uma caixa, esperando montar os próximos conjuntos para usar no trabalho.

Ao acompanhar a rotina dos coletores, é possível perceber como atuar e dançar no ritmo que o trabalho exige não é fácil. É necessário força e equilíbrio para estar em cima do caminhão, que precisa trafegar rápido para cumprir seu itinerário. Joeder também lembra do perigo em potencial ao se mexer com vidro, por exemplo. “Eu já tomei corte na perna de fazer ponto. E olha que eu cuido, eu já tenho experiência”, diz.

Em sua casa, no bairro Boa União, o coletor reúne as roupas e perucas que recolhe do lixo para montar seu visual (Foto: Marcelo Grisa)

Potencial e apoios

Joeder não diz possuir grandes pretensões com suas performances nas ruas. “Se eu puder deixar as pessoas felizes e se o meu trabalho for bom, eu já estou satisfeito. Mas onde eu puder ir, eu vou”, afirma. Algumas pessoas já têm se movimentado para ajudar o coletor, que vive de forma simples com a mãe, o padrasto e outros parentes após uma separação.

As perucas do Gari Felicidade foram se deteriorando com o uso. Alice Sirlei Brito, também moradora do Boa União, viu Joeder com os cabelos artificiais e resolveu ajudar. “Eu mesma faço os meus apliques com cabelo natural. Peguei algo que tinha sobrando e costurei em um boné para facilitar”, explica.

A caminhoneira e influenciadora digital Cleusa Ximendes acredita que Joeder pode fazer ainda mais. “Quando eu conheci ele, vi como é um cara que só quer trazer alegria pros outros”, aponta. Após conversar com ele, conseguiu equipamento para que, em breve, “Felicidade” possa fazer seus próprios vídeos. “Acho que ele pode falar sobre reciclagem, no mínimo. Vou pedir uma bicicleta para que ele possa passar adiante esse conhecimento.”

Perucas foram afixadas em bonés para durarem mais tempo

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