No século XIX e início do XX, uma significativa onda migratória transformou o cenário demográfico e cultural das Américas. Cerca de 50 milhões de pessoas cruzaram o Atlântico durante esse período, e aproximadamente 10% delas escolheram o Brasil como destino. Entre esses imigrantes, 5% eram de origem alemã, totalizando cerca de 250 mil indivíduos que chegaram ao país em busca de melhores condições de vida e oportunidades.
Conforme o professor de História, Joel Mallmann, a decisão dos alemães de migrar foi impulsionada por condições precárias na Alemanha, marcada pelo superpovoamento e dificuldades econômicas. Ao mesmo tempo, o Brasil, recém-liberto de Portugal, necessitava urgentemente de colonizadores para ocupar e desenvolver as vastas áreas ainda pouco habitadas, especialmente no sul do país.
“O primeiro ciclo de imigração alemã começou entre 1824 e 1830, com aproximadamente 5,5 mil imigrantes se estabelecendo na região dos Sinos, em São Leopoldo. Esses pioneiros receberam terras que, inicialmente, eram consideradas inabitáveis. O segundo ciclo, a partir de 1850, trouxe não apenas novos imigrantes, mas também o deslocamento dos filhos dos primeiros colonos, que começaram a se espalhar por outras regiões, como o Vale do Taquari”.
Os alemães trouxeram consigo uma rica herança cultural, que se misturou com as tradições locais e deu origem a uma cultura colonial única. “A integração entre a cultura germânica e o ambiente brasileiro gerou manifestações culturais que ainda são visíveis hoje, as festas tradicionais, como o Kerb, as cervejarias artesanais e as práticas comunitárias são apenas alguns exemplos do legado deixado pelos imigrantes alemães”.
Já no campo educacional, Mallmann destaca que a contribuição dos alemães foi notável. “Em 1872, o Rio Grande do Sul enfrentava uma alta taxa de analfabetismo, com 78% da população nessa condição. No entanto, a partir da década de 1920, a situação começou a mudar. Em cidades como Estrela, Lajeado e São Leopoldo, as taxas de analfabetismo eram significativamente menores, comparadas à média do estado. Isso se deve, em parte, às escolas criadas pelos imigrantes e ao trabalho das irmãs Franciscanas, que fundaram educandários em várias regiões, como o Colégio Santo Antônio em Estrela, criado em 1898”.
Essas instituições educacionais foram fundamentais na formação da mão de obra qualificada necessária para a industrialização do Brasil, especialmente durante o governo Vargas, na década de 1930. “A educação oferecida pelos imigrantes e suas instituições teve um impacto duradouro na redução do analfabetismo e na melhoria das condições sociais e econômicas da região”.
Mallmann finaliza sua participação no programa O Vale em Pauta desta quinta-feira, 25, nos 200 anos da Imigração Alemã, reforçando a importância de reconhecer e valorizar o legado dos imigrantes alemães no Brasil. Seu esforço para se integrar e prosperar, enfrentando dificuldades e contribuindo para a construção de uma nova sociedade, é um exemplo de solidariedade e resiliência. “Ensinar e lembrar essas histórias ajuda a entender melhor o presente e a reconhecer a importância das contribuições culturais e sociais dos que ajudaram a moldar a nação brasileira, nos inspirando a reconhecer e celebrar as diversas influências que contribuíram para a formação da identidade brasileira atual”.