As marcas da histórica enchente do início de setembro seguem evidentes em boa parte das cidades atingidas. Muito além das mortes, estragos e perdas, o processo de reestruturação de algumas localidades esbarra em aspectos burocráticos e a retomada de diversos setores da sociedade ainda depende de medidas mais definitivas.
Das cidades atingidas, Estrela é a que apresenta aspectos mais sensíveis a resolver. Um deles é realocar as 11 pessoas que se mantêm no abrigo instalado no ginásio municipal. Três delas vivem sozinhas. “A maior dificuldade das pessoas é irem em busca de outro lugar. Elas estão muito resistentes porque querem retornar para a comunidade de origem”, relata a secretária de Desenvolvimento Social e Habitação, Renata Cherini.
O governo disponibilizou 200 aluguéis sociais, em uma iniciativa onde subsidia R$ 700 por moradia pelo período de seis meses. Mais de 500 pessoas buscaram pelo benefício, de acordo com a gestora, mas algumas delas não cumpriam os requisitos cadastrais indicados pelas imobiliárias e critérios definidos pelo município.
Para simplificar o processo, o Executivo propôs uma alteração na lei, que permite à administração assinar o contrato de aluguel junto aos proprietários de imóveis e fazer o pagamento do auxílio de forma direta. “O repasse direto vai ser muito mais propositivo e vamos conseguir avançar bastante”, acrescenta a secretária.
Novas residências
A possibilidade da instalação de casas provisórias com contêineres em área cedida pela Associação dos Servidores Públicos Municipais de Estrela (Aspume) foi descartada. A expectativa do município é pela construção de casas provisórias feitas pelo Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon), em parceria com o governo do Estado. “Fizemos o encaminhamento da documentação há duas semanas e aguardamos o termo de cooperação para poder avançar”, comenta Renata.
Questionamentos da população
Nas últimas duas semanas, um grupo de moradores do Centro e dos bairros das Indústrias e Moinhos se mobilizou para definir a destinação dos valores arrecadados em uma conta Pix que pretendia auxiliar famílias atingidas pela cheia. Os vereadores aprovaram na segunda-feira, 30, um projeto que autoriza o repasse dos R$ 352,4 mil recebidos entre 3.042 núcleos familiares – cada grupo terá direito a R$ 115,84.
Uma das organizadoras da manifestação, Camila Nascimento afirma que o grupo comemorou a decisão de destinar o dinheiro para as famílias. No entanto, destaca que restam questionamentos acerca dos dados apresentados. “Queríamos o valor na mão da população e qualquer ajuda é bem-vinda. Mas ainda vamos buscar esclarecimentos sobre o número de famílias afetadas, pois não sabemos de onde saiu esse número”, comenta.
Equipamentos
O governo municipal viabiliza a compra dos equipamentos necessários à Defesa Civil com recursos próprios. Segundo o secretário de Administração e Segurança Pública, César Pereira da Silva, a pasta elabora o edital de licitação. Entre os itens de maior urgência, uma moto aquática, equipado para salvamentos, recursos tecnológicos de comunicação como antenas de internet por satélite, barco, rádios comunicadores e gerador de energia.
Prestação de contas
A administração de Bom Retiro do Sul apresentou algumas das ações desenvolvidas no período pós-enchente. O município recebeu R$ 382 mil da Defesa Civil nacional para compra de kits dormitório (lençóis, fronhas, etc.), kits de limpeza e higiene pessoal, cestas básicas e colchões. Em uma campanha virtual, foram arrecadados R$ 95 mil em uma conta Pix, destes R$ 88 mil doados pela empresa Atlas para compra de móveis.
A distribuição dos itens à população segue sob responsabilidade da secretaria de Agricultura e Meio Ambiente. Outras duas medidas em tramitação, junto ao governo federal, são o encaminhamento da construção de 15 residências pelo programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) Calamidade e o plano de um novo prédio à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Genny de Souza da Silva.