A queda da inflação, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a valorização do real no mercado global. Indicadores hoje melhores do que estavam no mesmo período do ano passado. Tais condições trazem perspectivas otimistas à economia nacional no próximo ano.
Ainda assim, existem dúvidas quanto às políticas econômicas do governo eleito, em especial pela chance de ultrapassar o teto de gastos, podem fazer esse bom humor durar pouco. Esse fator político inclusive gera dúvidas entre empresários. Alguns inclusive adotam posturas mais conservadoras para os próximos meses.
Para o economista e consultor, Fernando Röhsig, apesar das incertezas com relação aos rumos da economia nacional, os indicadores mudaram pouco desde o resultado das eleições. Há inclusive, ponderações otimistas quanto ao desempenho do país no próximo ano. A tendência, diz, é de crescimento maior ao registrado em 2022.
Também economista e consultor, Eloni Salvi, parte de uma análise similar. O diferencial para o empreendedor local, está na atitude. “Na economia, a principal variável é a expectativa. Se temos uma visão negativa, deixamos de comprar, de investir, de realizar operações. O momento é positivo, quem parar agora corre o risco de ser ultrapassado ou de outro tomar o seu lugar. ”
Para ele, muito do desempenho nacional passa pelo agronegócio. Como a perspectiva é de uma safra recorde, os outros segmentos produtivos são puxados pelos commodities. “Manter a inflação controlada, acompanhada de queda de preços no mercado internacional, significa estabilização do juros e mais possibilidade de investimentos.”
Junto com esses movimentos, destaca a importância de otimismo por parte do empresariado. “As variáveis econômicas são favoráveis. Agora os empreendedores precisam confiar nelas. Aí teremos um 2023 melhor. Para tanto, é preciso ir para o jogo. Se não entrar em campo, se não trabalhar, não tem como ganhar.”
Com relação ao mercado global, Salvi argumenta: “o mercado internacional está mais calmo. A economia americana contratando mais. A China, ao que tudo indica, não terá tantos lockdowns. Sair do cenário restritivo indica chance de mais equilíbrio na economia.”
Quando o assunto é política econômica, o consultor destaca a necessidade de ficar atento aos movimentos das bolsas, pois se trata de um mercado especulativo. “Há muitas variáveis. Como se trata de negociações rápidas, o humor dos investidores depende daquilo que ele vê. Como não sabemos ainda quem será o ministro da Economia, podemos ver muitas variações nos próximos dias.”
Após quedas constantes, ontem o dólar comercial voltou a fechar com alta de 2,22% (R$ 5,17). O dólar futuro para dezembro avançava 2,01%, a R$ 5,1855, por volta das 17h30min. Já o Ibovespa encerrou em queda de 2,38%.
“O horizonte não está claro”
Representante das empresas da região, o presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), Ivandro Rosa, considera muito cedo para avaliar o comportamento da economia no próximo ano. “Sem dúvida há melhores indicadores. O Brasil avançou mais do que outros países no pós-pandemia. Conseguiu blindar a falta de fertilizantes. Houve aumento nos custos de produção, mas não tanto quanto se esperava.”
Na análise dele, as condições melhores estão na macroeconomia. “Quando olhamos para a microeconomia, temos muitos setores com dificuldades. As agroindústrias não conseguem competir, com baixa rentabilidade no leite e nas carnes. O horizonte não está claro.”
Na análise de Rosa, as principais dúvidas estão no formato da política do próximo governo federal. “Precisamos saber mais. Empresas da nossa região estão com investimentos engatilhados e sabem o que esperar do governo estadual. Por outro lado, o Planalto define taxa de juros, câmbio, linhas de crédito. Por enquanto, não sabemos nada sobre isso.”
Outras ameaças na virada do ano estão ligadas ao ICMS do Estado, com chance de aumento da alíquota nas telecomunicações e nos combustíveis. “São decisões que vão interferir no setor produtivo.”
Ambiente de desenvolvimento econômico
Representante da Federasul, Renato Lauri Scheffler, verifica que há oportunidades às empresas da região. Pela análise do setor de economia da entidade, a menor inflação abre margens para redução do juros. “Não será muito acentuada, mas acreditamos que fique entre meio até um ponto percentual.”
Nestas condições, há chance de manter uma alta empregabilidade no Vale do Taquari. “O trabalho é a principal alavanca de crescimento. Vejo emprego sobrando na região. Diversos empregadores clamando por gente e com dificuldade em fechar as vagas.”
Na análise dele, a principal preocupação em termos de política está nos gastos do governo federal. “Como o presidente eleito vai se comprometer com o que falou até agora sem estourar o teto de gastos?”, questiona.
“As projeções para 2023 são melhores do que foram para 2022”
À Rádio A Hora apresentou indicadores econômicos e expectativas do mercado com o novo governo. Ele destaca importantes movimentos como a queda da inflação, valorização da Bolsa de Valores, estabilização da taxa de juros e recuo na cotação do dólar. A partir desses números mostra um cenário ideal para o crescimento do país desde que sejam indicados pessoas técnicas para ministérios como o da Economia.
A Hora – Qual é a avaliação a ser feita a partir do resultado da eleição para presidente?
Fernando Röhsig – O novo governo precisa indicar um nome para comandar o Ministério da Economia. Afinal, o mercado se move pela confiança. Conforme for a qualificação dessa pessoa pode ter tendência mais voltada ao mercado, ao social ou à privatização. O fato é que precisamos dessa indicação. Já surgiram algumas possibilidades, entre elas, Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin. São bons currículos.
O que é possível projetar para a economia em 2023?
Röhsig – Se Meirelles for o escolhido, me parece alguém que transmite confiança ao mercado. Recordo que no primeiro mandato de Lula ele teve de escrever uma carta para tranquilizar investidores. Agora, ele tem pela frente o desafio do ajuste fiscal, pois a despesa é maior que a receita. Por outro lado, uma boa notícia foi divulgada pelo Banco Mundial.
Não temos 33 milhões de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza. Pelos dados atuais são cerca de 4 milhões. O nosso país teve um dos melhores desempenhos de combate à fome durante a pandemia e não há como retroceder na política social. Dessa forma, podemos dizer que 2023 vai começar muito mais favorável do que este ano. Estamos com a inflação em queda, valorização da bolsa, crescimento do PIB em 0,7% e redução do dólar.
No ano passado, em dezembro, as projeções indicavam um cenário pior do que se mostra para 2022. Estamos em uma condição parecida ou melhor para 2023?
Röhsig – É uma condição melhor, há otimismo. É preciso considerar também que estamos no terceiro ano da pandemia e quase não se fala mais dela. A mobilização da economia para conseguir alcançar esse resultado teve um preço que ainda vai aparecer. O candidato eleito terá de manter o auxílio emergencial, precisa fazer o país crescer e segurar a inflação. Em meio a isso tudo, outro ponto importante é que o Banco Central atua de forma independente e isso é imprescindível para a queda da taxa de juros e manutenção da política macroeconômica do país.
Com o resultado nas urnas há receio e desconfiança por parte de empresários na decisão por investimentos. Qual a orientação aos empreendedores?
Röhsig – Algumas decisões foram proteladas por conta das eleições. Isso faz parte do pós-eleição. No caso do Vale do Taquari, temos uma atuação muito voltada ao agronegócio e ao setor logístico. Esses segmentos demonstraram maior apoio a Bolsonaro no Sul e Centro-Oeste do país. Mesmo assim, no aspecto do empresariado não podemos entrar nesse discurso. O Brasil fica independente de muitas situações ruins do resto do mundo. Temos um indicativo de safra recorde com 310 milhões de toneladas e o preço só não está melhor por conta da alta de custos.
Você acredita que o governo Lula, com uma tendência maior ao assistencialismo, possa ameaçar o estímulo ao empreendedorismo?
Röhsig – Algumas notícias deixam o mercado preocupado, ainda mais se a escolha de ministros for ideológica e não técnica. Por outro lado, é preciso considerar que o próximo governo terá uma oposição que não abre margem para “fazer rolo”. Bolsonaro também teve alguns momentos onde passou do ponto, o que vale para um, vale para o outro. As coisas precisam acontecer de forma decente.