Jornal Nova Geração

VALE DO TAQUARI

Inundações prejudicam safra de verão e colocam produtividade em xeque

Agricultores das margens do Rio Taquari são os mais afetados pelas cheias de setembro e novembro, e ainda calculam prejuízos para tentar um recomeço. Poder público apresenta alternativas para minimizar as despesas dos produtores, que correm contra o tempo

O casal Armindo e Louvani Buhl fez duas tentativas de plantio, ambas destruídas pelas inundações, e se organiza para a terceira semeadura. Crédito: Jhon Willian Tedeschi

As enchentes de setembro e novembro na região são mais um capítulo das dificuldades encontradas pelo meio rural na microrregião, em especial nos municípios de Bom Retiro do Sul, Colinas e Estrela. Os eventos extremos ocorreram em meio ao plantio e desenvolvimento das safras de verão e, com muitas propriedades próximas ao Rio Taquari, novas perdas foram registradas.

O boletim de conjuntura da Emater-RS/Ascar, publicado em 23 de novembro, indicava que havia atraso na semeadura das culturas da época e a necessidade de replantio, sobretudo em áreas nas margens do manancial. Ainda conforme o comunicado, o excesso de chuvas prejudica o pastoreio, mesmo que em alguns pontos a pastagem esteja em desenvolvimento.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Estrela, Rogério Hemann, aponta a dificuldade dos produtores poderem retomar as culturas. “Encontramos muitas dificuldades, em especial nas várzeas, onde há muita umidade. Com as enchentes veio muito lodo, muita sujeira e muita areia”, relata.

As despesas extras desafiam os agricultores, que precisam financiar as recuperações de solo para poderem fazer novo plantio, sobretudo do milho para silagem, voltado à alimentação dos animais. Quem cultiva o trigo, também encontrou dificuldades. “O que foi colhido em outubro, devido a enchente, já veio sem qualidade”, diz Hemann. E o preparo a outras culturas fica prejudicado, com a sequência de chuvas. “Quando o solo está mais ou menos bom para poder entrar com o maquinário, já chove de novo.”

A preocupação com a safra de verão não se ameniza, mesmo com um cenário favorável nas partes mais altas. Ele ainda menciona que a região ainda tenta se recuperar de três estiagens consecutivas. “Tem lavouras de milho plantadas cedo que estão bonitas e com desenvolvimento bem tranquilo, mas é um ano bem complicado para o meio rural”, acrescenta Hemann.

Tentativas frustradas

Os produtores mais prejudicados vivem às margens do Taquari. É o caso do casal Armindo e Louvani Buhl, da Linha Chá da Índia, em Estrela, que tem como principal fonte de renda o gado leiteiro. O cultivo de milho serve para financiar parte da produção e alimentar os animais. Foram duas tentativas de plantio para a safra de verão.

Eles não calcularam os prejuízos após a enchente mais recente. Da primeira, estimam uma perda de R$ 15 mil, apenas com os insumos para a implementação. Foram seis hectares perdidos em setembro e outros três em novembro. E relatam que na vizinhança o cenário é parecido. “Um produtor perdeu 50 mil frangos”, conta Louvani.

O fator retrabalho não entra no levantamento financeiro, mas atrasa a retomada das atividades, uma vez que o solo molhado impedia as ações para recuperação. Outra medida projetada pelos produtores, o plantio de soja, ficou inviabilizado pelas condições do tempo. “A melhor época é a segunda quinzena de novembro e o início de dezembro, mas não conseguimos”, lamenta Buhl.

Uma parte da área cultivável, arrendada de uma família vizinha, foi deixada de lado na segunda tentativa de semear e, mesmo assim, teve danos relevantes. Várias crateras se formaram no espaço com cerca de dois hectares, e tornam mais difícil o manejo. Restaram as marcas do maquinário que preparou o terreno e quase nenhuma vegetação.

Os Buhl planejam fazer novo plantio nas próximas semanas, na área que ficou mais preservada, mesmo sem safrinha para silagem. A meta é garantir a alimentação do gado. “Ficamos ago niados, sem saber se vamos poder colher, mas nossa ideia não é desistir. Tudo que é ruim passa”, conclui Louvani.

Outro produtor procurado pela reportagem, que não quis se identificar, realça que a situação está muito difícil com a produções perdidas e as chuvas em sequência. “Nem posso ouvir falar em enchente. Do jeito que está, vamos ter que encontrar outra coisa para trabalhar”, desabafa.

Correção do solo

Uma das necessidades para retomar o plantio é a recuperação da terra após as enchentes. A Secretaria de Agricultura de Estrela estabeleceu uma parceria com o governo do Estado, para viabilizar o processo. Ao todo, serão destinados cerca de R$ 700 mil para a compra de fertilizantes, e o cadastro dos agricultores deve ser feito até a próxima segunda-feira, 11.

Conforme o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar do município, Álvaro Trierweiler, a correção do solo é um processo importante para que o plantio das próximas safras seja feito. “Em algumas localidades, o solo praticamente foi lavado pelas enchentes. Todos os nutrientes e propriedades necessárias ao cultivo acabaram saindo”, frisa.

A compra dos fertilizantes será feita pela administração, que irá licitar os produtos e distribuir aos agricultores diretamente. “Será uma ação em benefício das nossas famílias, para minimizar os impactos da enchente na agricultura”, pontua o secretário municipal de Agricultura, Avalício José Wille.

Cenário gaúcho

Em nível estadual, a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) divulgou no fim de novembro um relatório elaborado pela Emater-RS/Ascar, com as perdas no campo, devido aos eventos climáticos de novembro. No segmento de grãos, houve prejuízos nas safras de inverno e verão. Os dados são oriundos do sistema Sisperdas, abastecido com informações de todos os escritórios regionais e municipais da instituição.

As principais culturas de grãos afetadas no Rio Grande do Sul foram trigo, soja, milho, milho silagem e arroz. Os prejuízos nas áreas de produção atingiram 120,6 mil hectares, com uma estimativa de perda de mais de 205 mil toneladas. As perdas nas lavouras de soja foram reportadas por 4.006 produtores, e afetaram 83,5 mil hectares. Nas lavouras de milho, foram perdidas 131,6 mil toneladas, em 67,4 mil hectares, com prejuízo a 10.302 agricultores.

Também há registro de perdas nas lavouras de aveia (825 toneladas), cevada (12,5 mil toneladas), canola (3,2 mil toneladas), linho (1,2 mil toneladas), feijão 1ª safra (307 toneladas), milho silagem (377,8 mil toneladas) e aveia branca (223,5 mil toneladas). O total de produtores com prejuízos no setor de grãos chegou a 19.711.

Prejuízos no agro

A administração de Estrela fez levantamentos das perdas na inundação de setembro, no entanto ainda não concluiu a coleta de dados do evento de novembro. Os prejuízos ocorreram em 14 localidades: Aeródromo, Alto da Bronze, Arroio do Ouro, Chá da Índia, Chacrinha, Costão, Delfina, Figueira, Geraldo Baixa, Lenz, Lenz Fundos, Novo Paraíso, Roncador e São José. O valor somado ultrapassa os R$ 9,2 milhões, mas considera danos estruturais em estradas e residências.

Bom Retiro do Sul também divulgou dados da cheia de setembro. Ao considerar agricultura e pecuária, a cidade teve R$ 5,5 milhões em prejuízos. Já Colinas fez uma estimativa da enchente de novembro e das chuvas de granizo que atingiram o município, e aponta uma perda superior a R$ 1 milhão.

Detalhes em Estrela

R$ 1,68 milhão em 403 hectares de milho e trigo

R$ 1,1 milhão em perdas com insumos, equipamentos, entre outros

R$ 627 mil em 210 hectares de solo a recuperar

R$ 533,4 mil em 1,4 tonelada de silagem

R$ 451,3 mil em 30,6 mil animais perdidos

R$ 318,6 mil em 160 hectares de pastagem

R$ 252,1 mil em perdas na horticultura

R$ 165 mil em 11 toneladas de peixe

R$ 127,6 mil em 6,3 quilômetros de cercas

R$ 88,1 mil em 41,9 mil litros de leite

R$ 55 mil em perdas na apicultura

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