Famílias, idosos e crianças passados para trás numa viagem à fronteira com o Paraguai. Poderia ser a manchete de uma notícia séria, um crime. Mas é uma comédia encenada por estudantes do Colégio Martin Luther.
A peça “Vamos às compras!”, escrita pela professora Cristiane Schneider, é adaptada pelos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e das turmas de Ensino Médio do CML que compõem o (em)CENA, nome dado ao grupo de teatro da escola.
A estreia para a comunidade escolar ocorre na próxima terça-feira, 26, pouco antes da 44ª edição da Amostra de Teatro Estudantil da Rede Sinodal de Educação, a ATESE.
O evento reúne as instituições de ensino ligadas à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) em três das 50 escolas. Além do Martin Luther, o Colégio Evangélico Panambi e o Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul, recebem pessoas de todo o Brasil, em especial dos estados do Sul, entre os dias 27 a 29 de setembro.
Os cerca de 150 estudantes serão recepcionados não somente pela cidade, mas pela comunidade escolar de Estrela. O CML oferece refeições no local, e parte dos alunos de fora da cidade dormem em hotéis ou na casa de funcionários da escola.
Durante os três dias da amostra, que não é competitiva, todos os dez grupos participantes assistem às apresentações de outros aprendizes das artes cênicas. Ao final de cada peça, todos podem fazer contribuições, com o objetivo de melhorarem suas capacidades para o futuro. O evento é fechado. Isso ocorre também como uma forma de permitir não uma hierarquia ou julgamento entre as apresentações, mas o aprimoramento dos participantes.
Narrativa e expressão
A aluna Ana Carolina Weidlich Petter, do 3º ano do Ensino Médio, é a mais experiente do grupo. É o terceiro ano de teatro dela no CML, mas a primeira edição plena do evento em que ela participa. Depois de dois anos sem organizar a ATESE por conta da pandemia de covid-19, a Rede Sinodal fez uma edição virtual em 2022, e agora volta com a mostra presencial.
Ana Carolina sentiu que precisava fazer tudo que fosse possível no seu ano final de estudos. “Esse ano, eu pensei bastante se eu iria entrar, porque eu não tenho tempo. Mas mesmo assim integrei o grupo porque eu amo teatro. Aqui eu posso fazer o que eu quiser, ser quem eu quiser”, aponta.
Em “Vamos às compras!”, os alunos interpretam todo tipo de gente. Idosos, crianças, com sotaques e nacionalidades diferentes na viagem pela fronteira do país vizinho. Tudo com a direção da professora Aline Stefani Ritter, que é também coordenadora da 44ª ATESE em Estrela.
Para ela, acima de tudo, o teatro estimula a criatividade e imaginação para que os jovens consigam começar a atuar. “Em nossas aulas, procuramos oportunizar momentos individuais e coletivos de expressão e criação, valorizar as relações humanas, respeitar a individualidade e enaltecer o que cada um pode trazer”, enfatiza.
Desenvolvimento humano
As artes cênicas têm suas origens traçadas até a Grécia Antiga. Por volta do século VI antes de Cristo, os festivais eram em honra à Dionísio, divindade relacionada à fertilidade, vinho e diversão. Nestes rituais, credita-se ao grego Téspis a criação do teatro, ao interpretar o próprio deus e interpelar os participantes dos festejos.
Com a passagem dos séculos, o palco passou a ter um papel mais cultural. William Shakespeare, que revolucionou a narrativa literária ocidental, concebeu suas histórias como peças de teatro entre o final do século XVI e começo do século XVII.
Hoje, o teatro é usado também como uma possibilidade de educação e desenvolvimento humano.
O diretor do Colégio Martin Luther, Luciano Egewarth, explica que a aplicação do teatro no ambiente escolar e a integração pela ATESE são partes importantes dos princípios que norteiam a Rede Sinodal. “A gente valoriza muito a parte do desenvolvimento acadêmico, mas não deixa de lado a construção cidadã e humana. Tudo isso tem uma parcela extracurricular, para que os alunos possam aprimorar as competências e habilidades que eles queiram ou consigam desenvolver”, diz.