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ALERTA

Líderes regionais avaliam como destravar a economia

A revisão na política de preços da Petrobras traz mais controle sobre fretes e inflação. Por outro lado, analistas e empresários criticam a falta de políticas de incentivos aos negócios

Setor de proteína animal sofre com oscilações do mercado faz mais de dois anos e custos de produção ocasionam prejuízos. Crédito: Divulgação

Os rumos da economia nacional estão no centro dos debates entre representantes do setor produtivo, analistas e empresários. Como aspecto positivo nesses cinco meses de governo Lula está a nova política de preços da Petrobras, pois traz efeito sobre o frete e nos preços aos consumidores. De negativo, a falta de clareza sobre políticas públicas voltadas ao desenvolvimento dos negócios, como linhas de crédito, incentivos para ampliar mercados e formação profissional.

Houve uma mudança na forma de pensar a gestão pública, diz o consultor de empresas e economista, Eloni Salvi. “Vínhamos de um governo liberal. Agora há uma presença de um estado mais regulatório e estatizante. Ao mesmo tempo, com um discurso de que os negócios precisam ter condições de destravar a economia. Para o setor empresarial, não mudou muito”, avalia.

A professora da Univates e também economista, Fernanda Sindelar, acrescenta que muitas das medidas anunciadas têm pouca repercussão no cenário econômico/produtivo. “Falam que os bancos públicos vão financiar investimentos. Mas, por enquanto, o governo Lula está mais preocupado em cumprir a agenda da campanha. Em pagar a renda básica dos R$ 600 do Bolsa Família.”

Para o consultor empresarial, integrante do conselho da Federasul, Ardêmio Heineck, é preciso mais clareza sobre os rumos das políticas econômicas. “Minha esperança era ter um programa de governo. Até agora, isso não existiu. Na prática, vemos o comércio vazio e as indústrias com o freio de mão puxado.”

Em pronunciamento nessa quinta-feira, 18, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou a revisão do governo sobre o Produto Interno Bruto (PIB). A perspectiva era de um crescimento de 1,6%. Pelo novo cálculo, ficará em quase 2%, com inflação de 5,6% no ano. Pelo último Relatório Focus, produzido por mais de cem economistas do mercado financeiro, a projeção de inflação para 2023 é de 6,02% e o PIB era de 1%.

Alerta na produção de carnes

No Vale do Taquari, a desregulação do mercado internacional de suprimentos à produção agrícola, em especial nas commodities soja e milho, cria temor sobre a cadeia de proteína animal.

Agroindústrias registram prejuízos históricos. O presidente executivo da Dália Alimentos, Carlos Alberto Freitas, reconhece ser um problema em todo o mundo. Porém, os danos são mais incisivos no Brasil, no RS e, especialmente, na região. “Aqui, pela perda de renda da população, as agroindústrias não podem repassar esse custo ao consumidor.”

Junto com os custos dos insumos, a taxa de juros elevada provocam insegurança ao setor. “Assim como nos dois anos anteriores, 2023 também está sendo difícil. Diante desse quadro, não há perspectiva de investimentos e novos produtos para o segundo semestre.”

De acordo com ele, a Dália reduziu a produção para diminuir a necessidade de capital de giro. Perto de completar 76 anos, a Dália tem 2,7 mil associados. A produção se concentra nas linhas de suínos, leite, aves e ração. No ano passado, o faturamento superou R$ 2 bilhões.

Sugestões para reduzir danos

Dentro da Federasul, foi criado um Grupo de Trabalho para debater formas de atenuar as dificuldades.

Conforme o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Teutônia e vice-presidente da Federasul no Vale do Taquari, Renato Scheffler, apesar da diversificação dos negócios, a situação ameaça a base econômica regional.

As dificuldades não se restringem ao produtor e à indústria, mas também há efeitos a fornecedores de insumos, comércio e serviços.

Como formas de mitigar as dificuldades, há medidas tanto em nível estadual quanto federal, sugere. Na política gaúcha, a revisão de questões tributárias ligadas ao Fator de Ajuste de Fruição (FAF). A norma estabeleceu um percentual sobre créditos presumidos concedidos nas compras de matéria-prima e insumos.

Para ter acesso, a empresa teria de direcionar a busca por insumos apenas no mercado estadual. Como não há produção interna suficiente, a política pensada para ajudar trouxe mais dificuldades. Em termos de país, a Federasul solicita créditos a juros subsidiados de longo prazo para empresas do setor de proteína animal.

Otimismo encoraja investimento

Consolidada no ramo de bebidas, a Fruki projeta inaugurar a fábrica em Paverama, em um investimento de R$ 174 milhões. A unidade permitirá um salto na produção, dos atuais 420 milhões para 620 milhões de litros por ano, um incremento de 48%.

Conforme a direção da empresa, a expansão produtiva abre possibilidades de chegar em mais mercados, bem como prestar serviços de industrialização para terceiros.

O objetivo é iniciar a produção em novembro deste ano, para atender as demandas de mercado do próximo verão. “Um grande marco da empresa, que se prepara para festejar 100 anos em 2024”, considera a CEO, Aline Eggers Bagatini.

A Reinigend também tem perspectiva de investir para ampliar negócios. A empresa voltada à produtos de higienização à indústria obteve licença para construir novo prédio para aumentar a capacidade produtiva e de armazenamento, no distrito industrial de Teutônia. A primeira parte do projeto, que envolve escritório e depósito, está orçado em cerca de R$ 4 milhões. A expectativa é incrementar em cerca de 20% a produção.

Fábrica de Lajeado investe em nova unidade e almeja crescer 48% em produtividade. Crédito; Filipe Faleiro

Momento de espera no setor ervateiro

O vice-presidente do Sindicato da Indústria do Mate do RS (Sindimate) e diretor da ervateira Elacy, Gilberto Luiz Heck, revela que o setor tende a segurar projetos e investimentos. “Estamos preocupados com a condição de inflação, o descontrole e a descoordenação desse governo que ainda não tomou as rédeas nem da economia e nem da política”, critica Heck.

Frente a contrato assinado ainda em 2022, há uma projeção de aumentar o faturamento em até 40% neste segundo semestre. “Não abrimos novos projetos, mas conseguimos ampliar mercado a partir de um novo cliente, em negócio no ano passado.”

A Elacy tem sede em Venâncio Aires, conta com 73 funcionários e uma média diária de industrialização de 15/18 toneladas de erva-mate. Atualmente, a marca chega a todos os municípios gaúchos, com exceção do litoral, e exporta para Uruguai, Argentina, Chile e Síria.


O que o Vale pode esperar da política econômica nacional?

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