“A questão do cheiro incomoda muito”. Moradora da rua Augusto Frederico Markus há 24 anos, Renata Paola Castanho reside a cerca de 300 metros do Porto de Estrela, no bairro das Indústrias, onde mais de 100 mil metros cúbicos de entulho das enchentes estão depositados desde o início de setembro.
O forte odor não é o único problema. A moradora também tem medo das doenças que podem surgir com a presença de vetores. Com a promessa do Estado de recolher o lixo e enviar para o aterro sanitário de Minas do Leão, a vizinhança, assim como o governo municipal, acreditava que os resíduos seriam retirados em poucos dias.
Passados dois meses e meio, o problema continua. “Com a nova enchente, a gente achou que viria parar na nossa casa. Ficamos com medo das doenças, porque ouvimos muito a questão de ter restos de animais da outra cheia ali no meio”, destaca Renata.
Ela diz acompanhar a situação e acredita que outros entulhos, que não foram da enchente, também possam estar sendo depositados no local, já que percebeu grande movimentação de caminhões despejando resíduos, mesmo um mês e meio depois da cheia.
Menos lixo, mais lodo
Secretário de Infraestrutura, Osmar Müller destaca que o município ainda estava fazendo a limpeza das vias, quase finalizada, quando a enchente do dia 18 ocorreu. Com a previsão de uma nova cheia que pudesse atingir os resíduos no Porto, as equipes compactaram os entulhos para evitar que se espalhassem.
Em relação à cheia do fim de semana, o secretário percebe que a cidade está mais limpa. Segundo ele, há lodo, mas poucos resíduos. A previsão é recolherem menos da metade do que foi recolhido durante setembro e outubro. De acordo com Müller, o governo já havia investido R$ 4 milhões em limpeza.
À espera
Diretora do Departamento de Meio Ambiente de Estrela, Tanara Schmidt diz que o município vive uma situação semelhante a outras cidades do Vale, que ainda aguardam o recolhimento do lixo por parte do Estado.
“Nós fizemos a limpeza na cidade, colocamos na área pontuada, uma área pública do município que é o que tínhamos como solução emergencial no momento da catástrofe”, reforça. Ela destaca que o local também foi escolhido por ser próximo à BR-386 e de fácil acesso para transportar o material.
Tanara ainda comenta que a retirada dos entulhos deveria ter sido feita entre 40 e 50 dias. “A orientação do Estado foi essa, que nos auxiliariam com a destinação para Minas do Leão. Entraram em contato conosco, estão tentando agilizar, mas tem a questão da burocracia”, ressalta a diretora.
De acordo com ela, após a retirada dos entulhos, serão feitas análises dos solo para verificar a necessidade de remoção por contaminação. “Estamos em decreto de calamidade pública, segunda enchente, estamos muito preocupados e fazendo o possível, entrando em contato direto com o Estado e aguardando um retorno.”
Em vídeo publicado nas redes sociais do governo, o prefeito Elmar Schneider diz que esta é uma questão de meio ambiente e saúde pública, e o município pede o destino correto. “O problema vai além do mau cheiro. Nós exigimos a retirada dos entulhos, não aguentamos mais”, diz na gravação.
Resposta do Estado
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) ficou encarregada de auxiliar os municípios na destinação dos entulhos das enchentes. As equipes da pasta e da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) fizeram o levantamento dos resíduos nos nove municípios que manifestaram interesse em receber a ajuda.
De acordo com a assessoria de imprensa, a solicitação dos recursos federais foi feita pela Sema ao Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. O valor total de R$ 26,9 milhões foi liberado pelo governo federal no fim de outubro. A pasta agora trabalha nos procedimentos administrativos para a contratação do serviço de recolhimento, transporte e destinação dos entulhos. O recurso não será repassado diretamente aos municípios.