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CONEXÃO

“Me encantei no momento em que abri a tampa do piano pela primeira vez”

Arthur Sulzbach tem afeição além da música pelo instrumento. Ele iniciou a prática aos 11 anos. Hoje é um dos 80 profissionais capacitados para restaurar pianos no Brasil e o único no Vale do Taquari.

Arthur toca o instrumento há 11 anos (Foto: Karine Pinheiro)

A sorte de quem une o hobby e a profissão e “trabalha com o que ama”. Arthur Sulzbach, aos 22 anos, diz que é um privilégio viver essa oportunidade. Empresário de manutenções de piano, começou essa jornada aos 11 anos, quando adquiriu seu próprio instrumento.

Ele conta que desde criança tinha o desejo de aprender a tocar. Iniciou nas aulas de teclado e logo passou aos ensinamentos do piano. Comprou seu primeiro aparelho de teclas, corda e madeira ao juntar o dinheiro que ganhava. Na época, custou cerca de R$ 1,8 mil.

A mãe de Arthur, Vivian Sulzbach, relata que não havia profissionais na região que fossem capacitados para fazer a manutenção. Era necessário que alguém de Porto Alegre ou outros estados fizessem isso. Ela afirma que o filho observava todo o manuseio de forma atenta.

O empreendedor explica que grande parte dos pianistas não sabem abrir a tampa do piano. Tampouco, sabem afinar o instrumento, e por isso, existe um profissional designado a essa função. No Brasil, hoje, existem cerca de 80 pessoas especializadas na manutenção de pianos. Destes, somente três atendem no RS. Não existem cursos desta especialidade na América Latina.

O encanto de Arthur pelo instrumento foi além da música quando abriu o piano pela primeira vez. Desde então, passou afinar pianos de conhecidos da região. Quando morou em Minas Gerais por motivos de estudo, ofertou os serviços, pois tinha uma boa demanda. Naquela época, compreendeu que queria empreender no ramo.

Retornou a Estrela em 2018 e montou a loja na garagem de casa. Hoje, tem a Sulzbach Pianos & HomeComfort com mais de 200 clientes pelo RS. Para ele, é um privilégio trabalhar com o que ama.

Dos acústicos aos digitais

O piano é um instrumento tricentenário criado por Bartolomeu Cristofori, por volta de 1700. Hoje existem mais de 3 mil marcas. Digitais, verticais e com caudas são as variedades de modelos. Entre as diferenças, os digitais não necessitam de manutenções, mas precisam estar conectados à rede elétrica. No entanto, embora não precise de energia, é imprescindível que os instrumentos acústicos recebam ajustes todos os anos.

O primeiro instrumento de Arthur é um piano vertical, dos anos 80 e de Curitiba. Neste aparelho ele aprendeu a tocar e a mexer no interior. Devido a isso, tem afeto e mantém o piano na loja. No local também é possível encontrar instrumentos com mais de 100 anos e originais e também mais novos, de 2015. Os valores variam de R$ 11 mil a R$ 35 mil. Os pianos de cauda ultrapassam os R$ 60 mil.

Ele destaca que o serviço é todo manual e feito de forma artesanal. “Esse piano de meia cauda é de 1910. Estou fazendo a restauração da parte mecânica para deixar ele novo. Estamos a 1 ano e meio nele”, relata.

Como são feitas as manutenções?

Existem duas formas: afinação e restauração. A afinação deve ser feita de forma anual. Arthur define a revisão como a “sobrevivência do piano”.
A restauração é um serviço mais trabalhoso. É feito quando o piano está há tempo sem qualquer tipo de manutenção ou com grandes avarias. Nestes casos, há troca de acabamento, pintura do móvel, reparo da parte mecânica e substituição de peças como cordas, abafadores e teclas.

De acordo o pianista, cerca de 80% desses problemas são causados com cupins. Outra causa é a variação de temperaturas. “É ruim quando o piano passa o dia em um ambiente quente e quando a pessoa chega em casa, liga o ar condicionado no frio”, explica.

Ele destaca que restaurar é um investimento e que é necessário estar atento aos cuidados necessários para não causar a condenação do piano.

Cantinho de afeto

O espaço HomeComfort foi criado com a finalidade de receber visitantes que queiram conhecer o universo dos pianos. Vivian destaca que a música traz coisas boas, e que ali, é possível mexer, tomar um café e descobrir como funciona a dinâmica dos instrumentos. “Eu não toco, mas se o Arthur estiver, ele pode tocar”, afirma.

Projeto que conecta

Um piano centenário, colocado em locais que as pessoas possam utilizar sem qualquer custo. Essa é a essência do projeto “Piano: Conexão e Afeto”, que objetiva democratizar o uso do instrumento. O piano fica disponível por 30 dias nas entidades parceiras.

O pianista conta que a ideia surgiu ao pensar sobre o papel social de uma empresa. Ele destaca que, por vezes, praticar piano é considerado elitizado e criou o projeto como forma de facilitar o acesso. “Se eu tenho o piano em boas condições que não está à venda, por que não disponibilizar para um projeto social?”, afirma.

Segundo Arthur, muitas crianças têm curiosidade de tocar no instrumento e até mesmo descobrir o som que faz. O propósito é mostrar que todas as pessoas podem e devem manusear o piano.

Até o fim do mês, o piano fica disponível para uso no Sonora Artesanal, localizado no Distrito de Costão. Para Adriano Prediger, proprietário do pub, a curiosidade das pessoas acerca do instrumento chama a atenção. “Elas chegam perto e olham, algumas até tocaram”, relata. Ele acredita que nos próximos dias, os frequentadores se aventurem mais pelas teclas.

Primeira loja, montada na garagem, em 2018 (Foto: Arquivo Pessoal)
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