Heranças e tradições passadas de pais para filhos, esse é um dos legados mais presentes na cultura alemã, e o Festival do Chucrute é um exemplo claro dessa continuidade. Leandro Neinas, 52, possui a coleção completa de canecas presentes em todas as edições do evento, o que representa não apenas o amor pelo festival, mas também a preservação de uma memória coletiva que atravessa gerações. A relação de Neinas com os grupos folclóricos iniciou na adolescência. Quando estudava no colégio Martin Luther, fez amizade com colegas que faziam parte dos grupos, e logo se juntou a eles na categoria oficial.
O início da coleção
Após algum tempo dançando, Leandro começou a frequentar os bailes do Festival do Chucrute, onde a cada edição, guardava as canecas como lembrança. No entanto, foi ao encontrar uma caneca antiga, pertencente ao seu pai, Arceno Neinas, já falecido, que a ideia de colecionar as canecas começou a tomar forma. “A partir daí, passei a anotar todas as que faltavam”, explicou. Para ele, aquele achado deu um novo significado às canecas, que até então eram apenas lembranças dos bailes. Com o passar do tempo, amigos, familiares e colegas de dança souberam do objetivo de completar a coleção. “As pessoas começaram a procurar canecas antigas para me doar ou indicar onde eu poderia encontrá-las. Isso foi muito marcante para mim. Embaixo das doações, tenho os nomes de quem me deu as canecas, pois essas pessoas também fazem parte dessa história”, contou Leandro.
Nos primeiros anos, as canecas do Festival de Chucrute eram produzidas de maneira simples, sem datas ou grandes diferenciações. “Elas eram feitas em larga escala e reaproveitadas para várias edições, então não tinham grandes identificações”, explicou Leandro. Somente a partir da 5ª edição do festival as canecas passaram a ser produzidas com o ano em questão.
Edições antigas
Foram necessários 15 anos para completar a coleção. Susana Neinas, 50, esposa do colecionador, sempre esteve junto na busca, percorrendo cidades e conversando com moradores da região. “Fomos até Santa Cruz, em lojas de antiguidades, mas não encontramos nada lá. As edições que faltavam estavam todas aqui na região, com pessoas que tiveram contato com o festival”, relatou Susana. “No início, eu não acreditava que conseguiríamos, mas ver a felicidade dele a cada caneca que encontrávamos me fazia sentir que valia a pena”, complementou a esposa.
Sabendo da raridade da coleção, o casal chegou a expor as canecas na prefeitura de Estrela. Entre as mais de 50 canecas, uma é especialmente significativa para Leandro, “Minha mãe, Maria Lory Neinas, sempre contava que no dia em que eu nasci, não conseguiu descansar por causa do barulho da festa. Quando encontrei a caneca da 7ª edição do baile, vi a data e tudo fez sentido, nasci em um dia de baile. Foi um momento muito especial”, contou Leandro. “Quero continuar colecionando até onde der. Essas canecas não são apenas objetos, elas representam a história do festival e da nossa comunidade”, finalizou o colecionador.
A 57ª edição do Festival do Chucrute foi cancelada devido à enchente de maio que afetou a região. As canecas, que já estavam prontas no momento do cancelamento, serão comercializadas na próxima edição do evento.
Preservação
Para manter as canecas em bom estado, a família Neinas criou um espaço dedicado à coleção. “Fizemos um lugar especial para elas, para que não fiquem expostas a variações de temperatura ou umidade. Em breve, vamos precisar aumentar esse espaço para comportar as próximas edições”, disse Leandro. Embora não seja necessário um cuidado excessivo, o expositor é vedado para evitar que a poeira e a umidade prejudiquem as peças.