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Mulheres puxam a bandeira do tradicionalismo e ocupam cargos de liderança

Melhorias na gestão, prêmios em rodeios e ambiente de aprendizado. Protagonismo feminino nas entidades tradicionalistas cresce a cada ano, quebra tabus e evidencia a competência das mulheres no comando das organizações

Foto: Karine Pinheiro

“Encontrei resistência ao assumir a patronagem. Me falaram que lugar de mulher era na cozinha”. Aline Possamai vivencia o tradicionalismo gaúcho desde a infância. Quando criança, participou da invernada artística do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Raça Gaudéria. No entanto, faz cerca de 7 anos que ela passou a viver essa cultura de forma mais intensa.

A patroa do CTG Estrela do Rio Grande participa dos rodeios há pelo menos 5 anos. Além de carregar o nome do centro de tradições pelo estado, traz a Estrela diversos prêmios como laçadora. Devido ao trabalho realizado no CTG, Aline recebeu incentivo do ex-patrão, Jorge Werle, para assumir o posto de comando, embora tenha enfrentado algumas adversidades.

“Teve uma resistência do público masculino. Encarei alguns preconceitos e até pessoas falando que eu não poderia ser patroa”, relata. Quando Werle informou que ela seria anunciada para o cargo, mostrou sua coragem e nessa quarta, 14, carregou a Chama Crioula até o Parque Princesa do Vale, para dar início aos festejos farroupilhas em Estrela.

Para Aline, o tradicionalismo é algo que se vivencia no ano inteiro. “A cultura gaúcha tá no meu sangue. Eu fico emocionada de poder vivenciar momentos como esse”, afirma. Quem compartilha do mesmo pensamento, é Kauane Junqueira, vice-patroa do CTG Raça Gaudéria.

Ela ressalta que a preparação para participar dos momentos de festividade acarreta em uma rotina intensa. Segundo ela, ensaios de danças, encontros para disseminar a cultura e integração, além dos eventos de rodeio, exigem muita disciplina. No entanto, para estar no comando das atividades, é necessário manter uma postura em que as pessoas respeitem.

“Nunca enfrentei preconceitos diretos. Mas sempre deixei claro que tenho condições de estar nessa posição”, afirma Kaune. Ela acredita no centro de tradições como um espaço onde as pessoas aprendem a ter disciplina e respeito pelo pŕoximo, além de aperfeiçoar a comunicação e as relações sociais.

A vice-patroa passou a participar das atividades por conta própria em 2016. De acordo com ela, não existe um dia em que a equipe fique sem trabalhar em cima do tradicionalismo, bem como, uma é uma oportunidade de mostrar que as melhores podem fazer um trabalho bem feito à frente de um centro de tradições.

“Lugar de mulher é onde ela quiser”

A patroa do Estrela do Rio Grande afirma que em diversos momentos ficou triste com algumas colocações preconceituosas. No entanto, afirma que hoje recebe muitos elogios pela sua gestão. “Assim que assumi, procurei unir os associados, coloquei metas, como reformar o salão”.

Aline conta que já participou de rodeios em que pode laçar com mais de 90 prendas. Em desses rodeios, ela escutou do locutor que “lugar de mulher é onde ela quiser”. Hoje, é uma frase que ela carrega e mostra o potencial em fazer uma boa gestão.

Espaço de aprendizado

O CTG Estrela do Rio Grande possui projetos para divulgar a cultura gaúcha nas escolas. Aline destaca que o espaço proporciona disciplina, além do aprendizado pela história do RS. O CTG Querência da Amizade, de Bom Retiro do Sul, também destaca o local como preza pelo aprendizado no local. Maria Delci Klunck, ex-patroa do Centro de Tradições Gaúchas, afirma que a cultura muda a vida dos participantes.

Segundo ela, o conhecimento transcende os aspectos culturais. “Além das modalidades artísticas, aprendemos sobre declamação, disciplina, concentração e atenção. Delci também relata que dentro do Querência da Amizade é trabalhado um resgate histórico da cidade, como canções que falam da história da navegação e da Barragem Eclusa.

O atual patrão do CTG, Marco Mattes, afirma se espelhar muito em Delci para dar continuidade aos trabalhos. Segundo ele, é possível perceber o ambiente de aprendizagem por parte de quem participa. “O CTG completou 64 anos em 12 de setembro. É uma história que se confunde com a de Bom Retiro, que também completará essa idade. Então temos muito a abordar”, comenta.

A ex-patroa tem um vasto caminho na tradição. Entre os feitos, Delci levou a invernada artística para um tour na Alemanha. Ao buscar projetos e aporte financeiro, além de venderem produtos para ampliar o orçamento, a filial de uma empresa na cidade, mas como sede no país alemão, auxiliou no processo da viagem. Delci afirma que também é uma forma de demonstrar que a cultura muda vidas.

Bocha das mulheres

Esporte gaúcho geralmente praticado pelo público masculino, a bocha ganhou novas jogadoras na cidade. A primeira edição do esporte que consiste em lançar bochas e situá-las o mais perto possível de uma bola pequena previamente lançada voltada para as mulheres reuniu diversas prendas na programação bom retirense.

Para Delci, é uma forma de inovar o universo da cultura gaúcha. “Temos que expandir a tradição, hoje todo mundo pode ocupar todos os postos. Seja nos esportes gaúchos ou na gestão”, destaca.

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