Jornal Nova Geração

ESTRELA

Necessidade de retomada desafia núcleo comercial no centro

Empreendimentos na rua Coronel Mussnich, caracterizada pelas lojas de departamento, instituições financeiras e negócios menores, trabalham para recuperar fôlego e manter as atividades

Supermercado reabriu as portas em tempo recorde, menos de uma semana após enchente histórica. Crédito: Jhon Willian Tedeschi

A área comercial mais afetada pela enchente da primeira semana de setembro começa a apresentar sinais de recuperação. A maioria dos estabelecimentos da rua Coronel Mussnich, na entrada do centro de Estrela, mantém as portas abertas, ainda que com algumas limitações. O intuito é afirmar o potencial da região, em franca evolução nas últimas duas décadas.

Pela percepção de quem consegue recomeçar, muito além de absorver o susto, o momento serve para uma demonstração de força. Ainda que alguns tenham encerrado atividades ou mudado de endereço, os empreendedores acreditam em um reequilíbrio, com a chegada de novos negócios ou um reinício, mesmo mais demorado.

A reportagem circulou pela rua nos trechos mais afetados, desde pouco abaixo da ponte baixa até a esquina com a Venâncio Aires, e da Borges de Medeiros à rótula com a Bruno Schwertner. Cerca de 10 estabelecimentos não voltaram a funcionar, seguem em processo de reestruturação ou projetam reabertura para períodos mais adiante.

Retomada em tempo recorde

O sócio da Casa Santo Nono, Gustavo Degasperi, cita a palavra resiliência como a chave para a retomada. O estabelecimento, localizado na esquina da Mussnich com a rua Chachá Pereira, chama a atenção pela velocidade que conseguiu voltar com as atividades – na segunda-feira seguinte à enchente, a loja já atendia ao público. “O que todo mundo pergunta, ‘como vocês reabriram tão rápido?’. Nosso pensamento é ter que voltar a funcionar o quanto antes.”

Não que o processo tenha sido fácil. O empreendedor cita uma força-tarefa com a maior parte dos 50 colaboradores para atuar na limpeza e remontagem da estrutura. “A água chegou a 1,8 metro. Salvamos o que era mais importante na parte de baixo, como computadores e balanças. Tentamos segurar as gôndolas, mas começou a virar balcão, a virar prateleira. Na verdade isso não ia resolver, só perdemos tempo”, lembra.

O prejuízo estimado por Degasperi chega a R$ 1 milhão e ele aponta como desafio ao recomeço o fluxo de caixa comprometido pelo período fechado. Foram os primeiros seis dias sem abertura ao público e mais uma semana apenas com oferta de hortifrutigranjeiros, sem padaria e açougue. “Não estava preparado para uma semana sem vender. Cai a venda no fim do mês, a folha de pagamento vai ser a mesma, os boletos estavam ali, não tinha uma reserva.”

Uma das lições que o empresário tira da situação é lidar melhor com as situações de enchentes, uma vez que o estoque da loja fica em área vulnerável. “Sempre tento ver o lado positivo das coisas, em tudo que eu faço. Penso em mudar coisas que fazia errado, repensar algumas situações, recomeçar de outras formas, para não cometer os mesmos erros de antes, mas a água vir é natural. O que pode fazer é se preparar melhor”, conclui.

Trabalho noite e dia

A poucos metros dali, em frente a rua Joaquim Xavier, que se tornou uma extensão do Arroio Estrela, um núcleo com quatro lojas foi afetado. Em determinados momentos, no auge do nível da água, mercadorias saíram pelas portas dos estabelecimentos e se perderam na correnteza. Entre os empreendimentos, a loja de móveis A Mobília, gerenciada há 14 anos por Elaine Gehrard.

O trabalho para retomada ocorre literalmente dia e noite. “Precisamos estar aqui, mesmo com a loja mais vazia, para auxiliar pessoas com problemas de pagamentos ou que perderam boletos.” E a reestruturação dos próprios clientes faz parte do momento mais difícil, com a procura maior por mobiliário e colchões, conforme a gerente.

Elaine relata que não foi feito um levantamento das perdas, mas que o fato da loja não contar com um estoque minimizou o prejuízo e facilitou o trabalho de retirada durante a cheia. “Até agora não está 100%, estamos retomando aos poucos”, diz. Durante a conversa com a reportagem, uma equipe de montadores trabalhava para deixar alguns móveis disponíveis aos clientes. “Temos uma demanda grande e falta de mão de obra, mas vamos reverter”, conclui.

Primeira loja vai continuar

Um dos primeiros estabelecimentos comerciais no trecho da Coronel Mussnich foi um dos mais atingidos. A Loja Princesa, que trabalha com venda de calçados, está no mesmo local há quase 47 anos. A proprietária Ângela Kessler Birck herdou o empreendimento do pai e com mais um desafio pela frente promete manter o negócio.

Ela lembra situações como as interrupções na ponte alta, entre o fim dos anos 1990 e o início dos 2000, e a pandemia como maiores entraves na trajetória, e que a enchente não será o que vai barrar a sequência. A estimativa de perdas fica entre R$ 150 mil e R$ 200 mil, nos cálculos da dona. “Temos que seguir em frente, é nossa vida que está aqui”, afirma.

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