A cooperativa Languiru, que atravessa uma grave crise financeira, tem como principal objetivo, segundo o presidente liquidante Paulo Birck, reestruturar suas operações e equilibrar suas finanças, que apresentam um passivo de aproximadamente R$ 1 bilhão. Esse montante, segundo ele, supera o patrimônio da cooperativa, o que tem gerado desafios significativos na negociação com os credores.
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Birck explica que a cooperativa está em processo de liquidação extrajudicial, que, de maneira similar a uma recuperação judicial de empresas privadas, busca definir como serão quitadas suas dívidas. Atualmente, a Languiru tem cerca de 2,9 mil credores, incluindo grandes instituições financeiras como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banrisul e BRDE, que detêm a maior parte das dívidas, somando R$ 750 milhões. Já os fornecedores são responsáveis por cerca de R$ 300 milhões.
A proposta da liquidação extrajudicial é estabelecer uma negociação uniforme entre todos os credores, sem distinções entre associados e não associados. “O processo é voluntário. Os credores têm liberdade para aderir ou não às condições oferecidas”, ressalta. Para ele, os associados precisam compreender que a aceitação de uma parcela menor das dívidas, agora, pode ser a melhor alternativa para garantir a sobrevivência da cooperativa no futuro.
Suspensão das notificações aos associados
Em uma recente decisão judicial, a Languiru foi obrigada a suspender as notificações extrajudiciais aos associados da cooperativa. Birck observa que, para equilibrar as finanças da cooperativa, é fundamental que os associados permaneçam, garantindo maior volume de leite e produção, fundamentais para a continuidade dos negócios. No entanto, a demissão é um direito do associado, e a cooperativa não pode impor que ele permaneça.
“Precisamos dos associados para manter a cooperativa forte. As movimentações financeiras são essenciais, como a captação de grãos e a parceria com a Lactalis, que podem ajudar a Languiru a superar a crise”.
Desafios legais e transparência nos processos
O assessor jurídico da Languiru, Luis Otávio de Lohmann destaca que a legislação vigente, datada de 1971, apresenta lacunas que dificultam a adaptação das cooperativas à realidade econômica atual. Embora a Lei de Cooperativas determine que as notificações aos falecidos sejam feitas no prazo de 12 meses, a situação jurídica da Languiru exige uma revisão de algumas dessas obrigações. “Estamos cumprindo a decisão judicial, que suspendeu os prazos, e buscamos dar transparência às ações, garantindo que os processos ocorram de forma clara e eficaz”, afirma.
Pagamentos e rescisões
Quanto aos pagamentos, Birck revela que, apesar da complexidade da situação, a cooperativa vem avançando nas negociações com os credores. Em outubro de 2023, foi realizada uma rodada de pagamentos, e outra ocorreu recentemente. Até o momento, 300 credores, dos 2,9 mil, aderiram ao processo de liquidação e começaram a receber os pagamentos de suas dívidas.
A cooperativa também tem se esforçado para quitar rescisões de ex-associados, com R$ 29 milhões pagos em 2023, faltando ainda R$ 2 milhões para completar os compromissos. Birck observa que muitos ex-associados que pediram desligamento da cooperativa deixaram dívidas pendentes, como o pagamento de ração e insumos, o que agrava a situação financeira.
O papel dos associados na recuperação da cooperativa
O presidente enfatiza que, para a cooperativa seguir existindo e superando a crise, é fundamental que os associados compreendam seu papel nesse processo. “A cooperativa só existe se os associados estiverem conosco. São os associados que garantem a nossa força”.
Para Birck, a gestão passada não protegeu adequadamente os interesses dos associados, o que contribuiu para o cenário atual. Ele destaca que, mesmo diante dos desafios, a cooperativa precisa continuar ativa para proteger seus membros, e ele próprio, como associado, se compromete a mostrar seu exemplo ao confiar na recuperação da Languiru.
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