A região dos Vales tem altos índices de sífilis e Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). A informação é do estudo Atitude, conduzido pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento, de Porto Alegre, e pelo Escritório de Projetos Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS).
Conforme a pesquisa, 0,91% dos residentes da região dos Vales têm HIV. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que quando o percentual passa de 1%, a transmissão já está na população em geral, e não apenas em grupos específicos, o que caracteriza epidemia generalizada. Esse é o caso da região metropolitana de Porto Alegre, que atingiu o índice de 1,6%.
Nos postos de saúde do Vale
Na região, profissionais da saúde alertam para o problema do diagnóstico tardio, quando o paciente já está com Aids. A doença é desenvolvida a partir do contágio do vírus HIV, e não tem cura. A infecção atinge o sistema imunológico e, dessa forma, o paciente fica mais vulnerável a doenças oportunistas como tuberculose e meningite.
Entre as cidades integrantes da 16ª Coordenadoria Regional da Saúde (CRS), que tem sede em Lajeado, de 2018 a 2022, foram registrados 82 óbitos pela doença. Quando o HIV é identificado em tempo, é possível evitar o desenvolvimento da Aids e seguir com tratamento adequado – a terapia antirretroviral, distribuída no Brasil de forma gratuita.
“O problema é que muitos pacientes chegam já com um quadro clínico agravado. Nosso objetivo é diagnosticar quando a pessoa é apenas portadora do vírus, para que se consiga manejar de forma mais tranquila a doença, com a medicação adequada”, explica a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Lajeado, Juliana Demarchi.
Um paciente pode conviver com HIV por anos, sem apresentar sintomas. Segundo Juliana, o município mantém, há cinco anos, a média de 45 novos casos anuais do vírus. Como prevenção, é disponibilizado na cidade as testagens gratuitas, palestras nas escolas sobre doenças sexualmente transmissíveis e campanhas de conscientização durante o ano.
Alerta para sífilis
Não é apenas o HIV que preocupa. Os dados divulgados pelo Atitude alertam que 4,5% da população em geral da região dos Vales tem sífilis ativa. A especialista em saúde e psicóloga da 16ª CRS, Aline Marie Dabdab Abichequer, destaca que a adesão ao uso de preservativos tem sido baixa, o que aumenta o risco de formação de redes de transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
A preocupação com o assunto mobiliza profissionais da área. Dia 7 de julho, em parceria com a Vigilância Epidemiológica e o Serviço de Assistência Especializada em DST/Aids (SAE) de Lajeado, a 16ª CRS promove um encontro sobre a doença para profissionais de saúde. “Os casos de sífilis aumentaram muito mais que os de HIV, necessitando qualificar o trabalho de diagnóstico, tratamento e seguimento destes casos”, afirma Aline.
Pouco conhecimento da população
Coordenadora do estudo Atitude, a epidemiologista Eliana Wendland chama atenção para o pouco conhecimento da população sobre as ISTs. Somente 50% dos respondentes sabem que a sífilis tem cura. O tratamento é disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). “Essas são doenças negligenciadas e invisibilizadas. Nós não conversamos muito sobre elas”, comenta.
Sobre o estudo
Para o estudo, foram entrevistadas 8 mil pessoas em 56 municípios gaúchos. Eliana explica que a mostra foi feita de maneira que essas cidades sorteadas para pesquisa representam a região que pertencem como um todo. “Por isso é melhor olharmos para os dados de forma regional e pensar que todas as cidades dessa região têm essas prevalências”.
Para que os dados pudessem representar a população do RS, os pesquisadores contaram com uma amostra aleatória de municípios, de casas e, por fim, de indivíduos. O processo é similar ao que ocorre para as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os indivíduos sorteados eram convidados a participar, assinavam um termo de consentimento livre e depois respondiam uma entrevista, com coleta de material biológico.