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Por trás do circo: trabalho e reinvenção de uma arte milenar

Desde a escolha do local até a divulgação pelas ruas, o trabalho de uma trupe circense passa por muitas fases que não aparecem na hora do espetáculo. Os bastidores do picadeiro revelam como ocorre o malabarismo que faz com que tudo corra bem a cada noite

Vestido como Homem-Aranha, Maxi demonstra suas habilidades e chama a atenção das crianças que conhecem os personagens (Foto: Marcelo Grisa)

O uruguaio Maximiliano Pacheco tem 34 anos e quase três décadas de circo. O trapezista é um dos responsáveis pelo Circo Bogany, que permanece até domingo, 5, no bairro das Indústrias, em Estrela. As apresentações ocorrem de quartas-feiras aos domingos, às 20h30min.

Para ele, apesar dos desafios, a vida no picadeiro é boa. “Gosto muito de morar no circo. É sempre diferente, tu está sempre viajando, sempre conhecendo gente nova”, afirma.

A trupe, com pouco mais de dez membros, é quase inteiramente composta por parentes de Pacheco. Mais do que isso, o Bogany é uma tradição da família. O patriarca, avô de Maximiliano, foi quem teve a ideia. Depois, se estabeleceu numa cidade, montou negócio fixo e os dois filhos foram tocando dois circos.

Maxi, como é conhecido, faz parte da terceira geração dos Pacheco na arte circense. “É complicado como qualquer trabalho, mas é bom estar com pessoas com quem a gente tem mais união. Esses não vão nos abandonar por qualquer coisa”, aponta.

Foto: Marcelo Grisa

Detalhes invisíveis

Maxi lembra que muitas pessoas não consideram os desafios que estão diretamente ligados ao circo como um negócio. “Não adianta gostar muito, como eu gosto, se não tiver como evoluir. A gente tem conseguido, e tem uma grande parte do trabalho que é invisível”, explica.

O trapezista fala que o processo para montar o circo em um município começa muito antes de chegar ao local. É preciso obter contatos de pessoas dispostas a alugar um terreno propício para a montagem. “Às vezes uma prefeitura cede um espaço, mas isso é raro. Os alugueis não são baratos, e muitas vezes precisamos preparar o terreno com brita. É nossa casa também, precisa estar bom para quem visita”, admite.

Depois disso, é necessário falar com empresas de fornecimento de energia e água para fazer as ligações no local antes do deslocamento ocorrer. Ao chegar na cidade onde serão feitas as novas apresentações, os representantes do Bogany ainda precisam garantir alvará de funcionamento, plano de proteção contra incêndio (PPCI), entre outros documentos. “É como se você abrisse uma empresa a cada cidade onde vai”, diz Maxi.

Entre as apresentações, os artistas aproveitam para visitar amigos e parentes na região, além de reporem materiais e fazerem a manutenção do espaço.

O circo exige dedicação aos treinos. No picadeiro, segundo os artistas, é a energia do público que torna tudo especial (Foto: Marcelo Grisa)

Pandemia e tecnologia

O período atual para os grupos circenses ainda é de recuperação. Após dois anos sem poderem se apresentar normalmente ao público, os circos voltaram em 2022. “Quando recomeçou, foi uma avalanche”, recorda Maxi. “Mas agora o movimento está um pouco abaixo do que era antes. Precisamos inovar para atrair o público.”

Durante a pandemia de covid-19, vários circos apostaram em apresentações virtuais ou no regime de drive-thru. Nesse meio tempo, os Pacheco resolveram parar e tentar a vida mais fixos enquanto os números do vírus estavam sendo controlados. Maxi, por exemplo, pegou trabalhos como eletricista, por sua experiência com a elétrica do Bogany. “Não faz sentido fazer isso sem o público. Eu até fico nervoso de subir e fazer meus números. A energia que vem do público me dá confiança para continuar”, assegura.

Com os trabalhos retomados no circo, a missão é fazer do picadeiro algo atraente em um mundo onde a tecnologia está cada vez mais na vida das pessoas. “Precisamos mostrar força na divulgação. As redes sociais ajudam bastante, mas temos que mostrar algo rico”, argumenta Maxi.

O marketing nas ruas de Estrela inclui uma camionete puxando uma réplica de um elefante – mesmo que animais não sejam mais permitidos nos estabelecimentos circenses. O outro carro que fala das atrações é um Camaro branco.

Durante os espetáculos, além de malabaristas, palhaços, ginastas e motociclistas no globo da morte, há também espaço para personagens da cultura pop, em especial os infantis. Peppa Pig, Bolo Fofo e Homem-Aranha chamam as crianças para tirarem fotos, e as famílias entram no picadeiro para registrarem o momento.

No globo da morte, o desafio é manter a velocidade para andar em 360º (Foto: Jhon Willian Tedeschi)

Alegria necessária

Camily Schwartzman trouxe as duas filhas para assistirem o espetáculo na quarta-feira, 1º. “Sempre que tem circo aqui na cidade a gente vai. Eu já ia quando criança”, lembra. O objetivo, segundo ela, é rir bastante. “Querendo ou não, a gente precisa. Todo mundo precisa ver algo diferente, se divertir. E as crianças gostam mais ainda, se maravilham junto”, sorri.

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