Entre as mais de cinco mil inscrições recebidas para o Prêmio Trajetórias Culturais – Mestra Sirley Amaro, três bom-retirenses se destacaram: o músico Orlando de Oliveira, a professora Dalva Rocha de Souza e a professora de danças Patrícia Gasperin. Eles foram homenageados em cerimônia na Prefeitura de Bom Retiro do Sul, na última semana. Cada um recebeu da Secretaria da Cultura do Estado R$ 8 mil, mas mais que isso: a certeza de que suas histórias vão inspirar a realização de muitas outras caminhadas.
A secretária municipal de Educação e Cultura, Martinha Dullius, ressalta a importância do resgate das histórias de quem construiu e constrói a identidade do povo bom-retirense. “A cultura é a alma gêmea da educação. Resgatar estas histórias é resgatar nossa própria história. É entender que cada trajetória é única e muito rica”, ressalta. Ela ainda afirmou que o município está elaborando seu projeto Trajetórias Culturais de Bom Retiro do Sul, envolvendo apenas bom-retirenses. “Precisamos valorizar os atores da nossa sociedade. Àqueles que construíram e constroem nossa identidade”, explica.
Os homenageados
– Orlando de Oliveira: amor pela música
Ele recebeu a maior pontuação na região, na categoria música. Aliás, a música, para seu Nézio, como é conhecido, é uma filosofia de vida. Com seis anos, ele já tocava em parques e circos. “A música ascendeu na minha vida, num momento muito doloroso. Quando perdi minha esposa, nos poucos momentos de folga que eu tinha, reunia meus filhos, dava um violão de três cordas para um, uma lata para outro, balde, colher, eles tocavam e eu cantava. No fim, todos são músicos e amam música”, relata.
Morando em Bom Retiro do Sul, seu Nézio convidou alguns amigos e juntos desciam a Rua Pinheiro Machado tocando alguns instrumentos. No início do que poderia se chamar de bloco de Carnaval, eram 20 pessoas. “Chegando aqui embaixo já eram mais de 100 pessoas cantando e pulando com a gente”, lembra.
– Dalva Rocha de Souza: inclusão social
A trajetória cultural da professora Dalva Rocha de Souza iniciou em 1958, quando cursou Magistério na Escola Estadual Pereira Coruja, em Taquari, e ingressou no coral. Depois disso, a já professora, na Escola de Subúrbios Otávio Augusto de Farias, em Bom Retiro do Sul, criou um coral para os alunos. “Ele era composto por crianças em situação de vulnerabilidade social. Criei como uma forma de incluí-los socialmente”, conta. Quando ocupou cargos na Secretaria de Educação, Dalva procurou criar alternativas de inclusão, através da educação e da cultura.
– Patrícia Gasperin: paixão pela dança
“Eu apenas queria dançar e em Bom Retiro do Sul não tinha local. As “profes” de fora que vinham logo desistiam por não ser rentável.” A afirmação é da professora de dança, Patrícia Gasperin, que cursou Educação Física, e seguiu fazendo aulas e oficinas de todos os tipos de danças. Depois de formada, voltou a Bom Retiro do Sul e continuou procurando espaços para dançar. “Não me achava competente a ponto de dar aulas de dança. Eu não procurei a dança. A dança me procurou.” Patrícia conta que utilizava os métodos de Paulo Freire: problematização, tema gerador e construção coletiva. As técnicas usadas dependiam do perfil de cada grupo e da proposta temática escolhida para ser dançada. O figurino era sempre de baixo custo e muita customização e reaproveitamento. “Essa trajetória não é só minha, mas nossa.”
Quem foi Sirley Amaro
O Prêmio presta homenagem à mestra griô Sirley Amaro, pelotense, nascida em 1935 e falecida em 2020. Ela contribuiu, significativamente, com os saberes tradicionais, com a cultura popular e com o programa Cultura Viva, do extinto Ministério da Cultura. Sirley disseminou e protegeu os conhecimentos ancestrais do povo negro do RS durante anos. Ficou conhecida em outros estados por sua atuação na conservação e perpetuação do conhecimento da cultura negra.