ESTRELA – Dos 56 pacientes que faleceram no Hospital Estrela em 2021, dez tinham alguma comorbidade ligada ao coração, seja cardiopatia, doença cardiovascular crônica ou insuficiência cardíaca (leia quadro). O médico especialista em Cardiologia, Imagem Cardíaca e Medicina Interna da Rede de Saúde Divina Providência, Marcos Annes Henriques, explica que os pacientes que já possuem doenças crônicas de coração apresentam maior risco de desenvolver formas graves da Covid-19, entrar em insuficiência respiratória, necessitar de atendimento na UTI, respirar por aparelhos e de não sobreviver.
É o caso de 17,8% dos pacientes que faleceram na instituição este ano. Mas o médico acrescenta outra estatística. “Sabe-se, por dados internacionais, que cerca de 40% dos casos que necessitam de internação hospitalar por Covid-19 já apresentam alguma doença cardíaca concomitante no passado, como insuficiência cardíaca, arritmias e infarto”, comenta.
Como a Covid-19 afeta o coração
O médico explica que o vírus causa uma inflamação geral no corpo, incluindo o coração, que pode ser muito intensa e resultar em uma doença chamada miocardite, com risco de que o coração perca força de bombeamento sanguíneo, condição potencialmente grave chamada de insuficiência cardíaca. “Pode ocorrer também a pericardite – inflamação da membrana que funciona como uma capa do coração, que pode resultar em dores no peito. A inflamação do músculo cardíaco pode resultar também em distúrbios do ritmo cardíaco – as arritmias. Outra forma de acometimento do coração e do sistema vascular é a obstrução das artérias que ocorre por dois motivos: a ruptura de placas de gordura inflamadas e amolecidas pela Covid-19 e outro é devido à forte tendência do sangue coagular dentro dos vasos sanguíneos, efeito bem conhecido do coronavírus.”
Previna-se
Não há diferença nenhuma de como prevenir a Covid-19 entre as pessoas com e sem doença cardíaca – isolamento, distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel são os cuidados. “Porém, é muito importante que as pessoas não deixem de consultar com o seu médico cardiologista e mantenham o uso de todos os remédios sem interrupção, tanto para manter a saúde cardíaca adequada, quanto para reduzir o risco de desenvolver as formas graves da doença, no caso de serem infectadas pelo coronavírus”, destaca Henriques.
E depois do vírus?
Além dos pacientes que sofrem formas mais graves da doença por situações prévias, há aqueles que desenvolvem problemas cardíacos após contraírem o vírus. “Os pacientes chamados “pós-covid”, ou seja, que já se recuperaram da doença aguda, ainda poderão apresentar problemas muito sérios na saúde do coração e vascular, como insuficiência cardíaca, arritmias e até mesmo risco de infarto, acidente vascular cerebral, trombose nas pernas e embolia pulmonar”, alerta o médico.
Dos dez pacientes:
– Duas eram mulheres e oito eram homens;
– A maioria foi a óbito em menos de dez dias de internação;
– A idade média é de 78 anos.