Na localidade de Arroio do Ouro, em Estrela, Silvio Gregory, 57, passou duas noites e dois dias em cima do telhado da casa, à espera de um resgate. “Eu estava sintonizado na Rádio A Hora o tempo todo, porque o sinal de telefone e internet tava muito fraco aqui”, relata.
Morador próximo do rio, acompanhou o movimento das águas o dia inteiro. “Eu já estava ilhado na minha casa e parecia que iria estabilizar.
Mas então escutei no rádio um depoimento de um homem de Santa Tereza, dizendo que a água chegaria com muita força por aqui. Nesse momento, soube que teria de me preparar. Separei roupas, mantimentos e fui para o telhado”, conta.
Isso foi na quarta-feira à tarde, 1o. O resgate de Gregory só foi feito na sexta-feira, 3, no fim da manhã. “Foram os piores momentos da minha vida, em especial, à noite.”
“Eu sabia que a água não alcançaria o telhado, me criei por aqui, conheço o Taquari. Mas meu medo era de que a casa não fosse aguentar. Quando vi a garagem quebrando pela força da correnteza, tive medo”, relembra.
Choveu o tempo todo durante a primeira noite, a única luz eram os relâmpagos. “Quando chegou quinta-feira de tarde e eu percebi que teria que passar outra noite assim, foi muito difícil. Naquele momento, a água já tinha infi ltrado a capa de chuva e a única coisa que me aquecia era uma garrafa de cachaça”, lembra.
Na manhã de sexta-feira, ele conseguiu um resquício de sinal e enviou mais um pedido de socorro ao filho.
A casa de Gregory ficava circundada por uma área verde, o que dificultava que os helicópteros avistassem ele. O barulho do rio tornava os gritos por socorro inaudíveis. “Quando chegou sexta-feira, o rio estava baixando. Ali eu sabia que não ia mais morrer, mas não sei como teria sido se tivesse que esperar mais tempo por resgate.”