A chuva sobre todo o Estado entre abril e maio deste ano foi mais volumosa e intensa do que a de 1941. É o que conclui estudo do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da Universidade Federal do RS (Ufrgs).
Conforme nota técnica assinada pelos pesquisadores Walter Collischonn, Anderson Ruhoff, Rafael Cabeleira Filho, Rodrigo Paiva, Fernando Fan e Thais Possa, as medições nos dois períodos históricos verificaram os pluviômetros instalados.
“Em 1941, ainda que fossem menos aparelhos, haviam pluviômetros operacionais. Isso deu condições para que pudéssemos fazer a comparação”, relata o doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Walter Collischonn.
De acordo com ele, entre o fim de abril e o início de maio, houve volume intenso de chuva em todo o RS, mas, em especial na bacia hidrográfica do Taquari/Antas. Pelo relatório, o Rio Guaporé teve mais de 900 milímetros de chuva.
Conforme Collischonn, nos oito dias antes do pico na bacia do Guaíba, em Porto Alegre, a chuva acumulada aumentou de 209 para 652 milímetros. Esse número representa um incremento de 444 mm. “No período do dia 28 de abril até 5 de maio foi registrado o maior volume de chuva da história. Em 1941, os oito dias antes do pico, o acréscimo foi de 297 mm.”
Em todo o período analisado pelos pesquisadores (chuvas de 35 dias, do início de abril até o pico da inundação nos dois períodos), o volume de chuva na inundação deste ano superou os 900 milímetros, resultado dez vezes maior do que a precipitação histórica média para o mês.
“O Jacuí faz a base e o Taquari o pico da inundação”
O relatório tem como prioridade explicar como o fenômeno das chuvas interferiram sobre a inundação na bacia do Guaíba, em Porto Alegre. “O estudo é fundamental para termos um diagnóstico correto da cheia. É como fazer um exame em um paciente antes de decidir o tratamento”, explica Collischonn.
Segundo o pesquisador, só com uma análise completa, da interferência de cada ponto de chuva no nível dos rios. Pela característica da bacia do Taquari/Antas, tem um impacto direto nos alagamentos da capital.
“O Rio Taquari tem uma resposta rápida e intensa. As maiores vazões de água, de todo o sistema até o Guaíba, vem da região”, diz Collischonn. Na parte do Rio Jacuí, a elevação é mais lenta. Tudo por conta da variação da latitude.
“A nascente do Antas e do Taquari está a mais de mil metros de altura. Os valores perto de zero são em Lajeado. A declividade favorece a velocidade da água”. Em cima disso, os episódios de inundação no Vale do Taquari são decisivos para as outras cidades.
“Se fosse só pelo Jacuí, a cheia não traria todo o transtorno visto em Porto Alegre. Vamos dizer assim, o Jacuí faz a base e o Taquari o pico da inundação.”
Polêmica da dragagem
Na avaliação de Walter Collischonn, há diversas formas de mitigar as enchentes. “Esse é um tema complexo e que precisa de uma análise pontual. Cada localidade vai precisar de algo específico.”
Entre as possíveis, a dragagem dos rios. “Essa é uma forma de reduzir as enchentes. Mas não é só retirar os materiais do leito. É preciso ter uma avaliação econômica e investir em pontos onde terá soluções. O que me garante se eu tirar do trecho em Muçum vai ser efetivo?”
No início do mês, os pesquisadores do IPH emitiram um relatório sobre os prós e contra para dragagem dos mananciais no RS. De acordo com eles, há um custo muito elevado nestas operações, em especial em grandes cursos d’ água, onde não é possível ver onde o acúmulo de materiais reduz a vazão da água.”
Carta sobre o desassoreamento
Os 12 cientistas do IPH/UFRGS emitiram uma nota técnica. No documento, alertam que a dragagem de grandes rios custaria centenas de milhões de reais com efeito mínimo sobre prevenção às enchentes.
Segundo os pesquisadores, os rios modificam o leito de maneira periódica, o que poderia trazer de novo assoreamento.