Mais de 50 mortos. Ainda há seis pessoas desaparecidas. Pelo menos duas mil edificações danificadas. Milhares de famílias desabrigadas. Milhões de reais em prejuízos. Ameaça ao emprego e à renda dos trabalhadores em pelo menos oito cidades.
O saldo da inundação dos dias 4 e 5 de setembro ainda é contabilizado. Em cima disso, há duas certezas: a região precisará de mais tempo para retornar à normalidade; a outra, é a resposta às enchentes.
Conhecimento técnico na busca de evidências sobre o comportamento da bacia hidrográfica Taquari/Antas está na base das melhorias nas estratégias de ação.
Essa é a tarefa do seminário Pensar o Vale Pós-Enchente. A programação ocorre hoje, no auditório do prédio 7 da Univates. A entrada é gratuita. Especialistas da região, do estado e do país estão confirmados.
Será um dia inteiro de painéis com diferentes abordagens em face às enchentes recorrentes na região. Entre os destaques estão palestras com autoridades de Blumenau (SC) e de Piracicaba (SP). Duas cidades que sofrem com episódios de inundação.
As experiências, destaca o diretor executivo do Grupo A Hora, Adair Weiss, têm o propósito de contribuir com a formação de um documento do Vale. “Vamos conhecer detalhes do que foi feito nestas localidades e avaliar de que maneira podem ser incorporados na nossa região.”
O coordenador do Fórum Gaúcho de Comitês de Bacias Hidrográficas, Júlio Salecker, ressalta a importância do evento para criar uma consciência social sobre os episódios climáticos extremos. Para ele, é fundamental uma abordagem profissional.
Neste sentido, tanto obras específicas de infraestrutura para reduzir a velocidade das enchentes, planos de ação junto às comunidades ribeiras e, até mesmo, a revisão dos planos diretores dos municípios diante das cotas de inundação. “Temos de olhar para toda a bacia. Podemos ter um dia de sol aqui na parte baixa e sofrer uma enchente devido à chuva nas cabeceiras.”
O Seminário Pensar o Vale Pós-Enchente é idealizado pelo Grupo A Hora e conta com a realização da Univates, Amvat, Amat, Avat, Amturvales, CIC-VT, Codevat e Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari/Antas. O patrocínio é da Caixa, do Governo Federal e da Corsan, com apoio do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE).
Despreparo estrutural
Os investimentos públicos em prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação de localidades atingidas por catástrofes climáticas minguaram ao longo dos últimos governos.
A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) foi instituída em 10 de abril de 2012. O propósito foi de integrar aos planos de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos e demais políticas setoriais.
Com base na iniciativa “Contas Abertas”, os investimentos foram mais significativos até 2017. Nos primeiros anos da PNP, a União orçou R$ 3 bilhões. Nos períodos seguintes, o montante começou a ser reduzido, mas seguiu em patamares próximos aos R$ 2 bilhões por ano.
Em 2021 houve a maior redução de investimento. O governo federal cortou em 43% os recursos destinados à Defesa Civil na comparação com os 12 meses anteriores. Naquele ano, foram investidos R$ 918,6 milhões para preparar áreas suscetíveis a tragédias climáticas.
A diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Alice Castilho, informa que o orçamento previsto à bacia hidrográfica Taquari/Antas por ano se aproxima dos R$ 50 mil.
Esse recurso é destinado para manutenção e instalação de equipamentos voltados às leituras pluviométricas e do nível dos mananciais. Além desta verba, também há encaminhamentos por parte de convênios, como com a Agência Nacional das Águas (ANA).
Para o próximo ano, foi aprovado um incremento nestes investimentos. Inclusive com instalação de mais aparelhos de monitoramento ao longo da bacia. Serão R$ 200 mil para os Vales do Taquari e do Caí.
Carta do Vale do Taquari
Como efeito prático do seminário, o encerramento será marcado pelo documento regional, com uma análise dos sistemas de proteção, de monitoramento e alerta e, a partir disso, ideias e projetos para tornar a região mais segura.
A chamada “Carta do Vale do Taquari”, funcionaria como um guia às ações futuras de gestores públicos, entidades e forças sociais. Neste material constarão os próximos passos e ações concretas para enfrentar os desastres naturais na bacia do Taquari/Antas, com a assinatura de representantes do setor produtivo, especialistas e autoridades públicas.
Questões como quem lidera cada iniciativa, os prazos e como fiscalizar estão no resumo dos objetivos.
SERVIÇO
Seminário Pensar o Vale Pós-enchente
Tema: As ações e decisões necessárias após a maior tragédia natural do Rio Grande do Sul – O Vale unido por um plano.
Quando: 14 de novembro
Onde: Auditório do prédio 7 da Univates
Horário: a partir das 8h
Entrada gratuita