Um sonho de infância transformado em hobby. Jorge Roberto Matias cresceu com a vontade de se tornar piloto de avião e servir à aeronáutica. Embora o sonho tenha se mantido vivo, a vida seguiu por outras ocupações. Há cerca de cinco anos, ele transformou a vontade antiga em arte e decidiu praticar o aeromodelismo. Aos 54 anos, ele monta todos os modelos que possui de forma artesanal e hoje voa sem tirar os pés do chão.
O aeromodelismo é um esporte que consiste em planejar, construir e manobrar as miniaturas de aeronaves. A prática faz parte da vida de Beto, como o soldador é conhecido, desde 2017. No entanto, a atividade surgiu em 1871, quando um francês impedido de seguir a carreira militar criou o primeiro aeromodelo. Desde então, a prática é disseminada pelo mundo e se tornou hobby na vida de muitas pessoas.
Por ser um esporte de alto custo, Beto conta que iniciou no esporte quando os materiais necessários passaram a ser de fácil acesso. “Os materiais são importados, então antes era mais caro. A madeira que eu uso, a balsa, é do Peru. Papel para envelopar também é comprado fora do país. Também é necessário ter um local específico para praticar”, explica.
A produção de cada avião pode durar meses. O soldador explica que o primeiro passo é escolher a aeronave e procurar a planta com escala reduzida. O desenho é idêntico ao modelo original, porém com medidas reduzidas. O esboço para construção contém o passo a passo de como trabalhar cada peça, bem como encaixá-las. Para ele, a pior parte foi lidar com os cálculos e se acostumar com o inglês.
O trabalho de Beto é totalmente manual, desde moldar a balsa com estilete até a instalação da parte eletrônica, que garante o voo do aeromodelo. Os aviões do aeromodelista são controlados por receptores de rádio. Com um transmissor na mão, ele coloca as peças nas alturas. “Enquanto der pra enxergar a aeronave, sigo subindo”, afirma.
Primeiro voo
A primeira aeronave construída por Matias foi de isopor. Ele explica que as primeiras tentativas de voo são frustradas, por isso, os modelos caem no chão e podem estragar. Quando ainda estava aprendendo, ele conta que esqueceu de ajustar alguns itens da parte eletrônica, fazendo o avião cair de bico no solo. Naquele dia, ele se dedicou a consertar as peças.
Apesar da frustração momentânea, ele lembra da primeira vez que viu o avião feito por suas mãos voar. “É muito legal ver algo que passamos meses trabalhando, algo feito pelas nossas mãos no céu. Não é fácil interpretar a planta, os cálculos, aprender sobre sustentação. Foi uma realização, foi um sonho que realizei com as minhas mãos”, relata. Beto levou cerca de dois meses para montar o primeiro aeromodelo.
Diferentes modelos
Ele começou a montar as réplicas na garagem de casa. A “hangaragem do Beto”, como gostava de chamar, foi abrigo dos primeiros modelos construídos. Hoje ele possui cerca de 10 aeromodelos num espaço criado especialmente para a prática. O investimento em cada modelo varia de acordo com o tamanho e as peças utilizadas, podendo chegar a R$ 3 mil. Atualmente o soldador trabalha em um modelo de aeronave da Segunda Guerra Mundial. Segundo ele, o avião era utilizado para ensinar jovens soldados a pilotar. O objetivo é finalizar a montagem em pelo menos seis meses. Ele também possui réplicas de aeronaves da Força Aérea Brasileira. Cada modelo pode pesar cerca de 10 quilos.
Na prática
O soldador faz parte de um clube de aeromodelistas, chamado Aerovoos, localizado na linha Wink, interior de Estrela. Beto conta que um amigo, dono da propriedade, decidiu adaptar o espaço para que ele e os amigos pudessem colocar as réplicas no ar. Desde então eles se reúnem para praticar o aeromodelismo e conversar sobre a vida.