Jornal Nova Geração

Um ano de perdas para a Covid-19

Texto: Ana Caroline Kautzmann

VALE DO TAQUARI – No dia 21 de março de 2020, Estrela confirmava o primeiro caso de Covid-19 no município. É neste “aniversário” sem comemoração, que a pandemia vive seu pior momento. Ao longo deste período, 37 vidas foram perdidas em Estrela, com histórias interrompidas e familiares que precisaram superar a dor. Em Bom Retiro do Sul, foram 16 mortes. Imigrante registra três óbitos, Fazenda Vilanova cinco e Colinas um.

Pai e filho lado a lado na UTI

Tiago Pedroso, de 33 anos, viu o vírus atingir toda a família, em Bom Retiro do Sul. “Meu pai de 64 anos, minha mãe de 53 anos, minha irmã de 22 e eu. Mas foi mais forte em mim e no meu pai, que acabou falecendo”, conta.
Tiago começou a sentir sintomas no dia 11 de fevereiro. Menos de uma semana depois, uma tomografia revelou que já estava com 40% do pulmão comprometido. “Baixei no hospital de Bom Retiro já com oxigênio. Fui piorando e começou a luta por uma UTI, porque meu quadro se agravava muito rápido e não tinha leito. No dia 19 de fevereiro, estava com 70% do pulmão comprometido”, conta.

No dia 20 de fevereiro, Tiago Pedroso internou na mesma instituição que dias depois o pai faleceria, no Hospital da Brigada Militar em Porto Alegre. “Fui chorando na ambulância, eu me perguntava se ia voltar para casa.” No dia 23, quando ainda estava na UTI e apresentando melhora, ele viu chegar o pai Luís Fernando Borges Pedroso. “Eu achei que ele estava melhorando. Eles fecharam minha cortina, porque não queriam que eu enfraquecesse. Ele ficou 15 dias entubado e cada dia piorava, porque já tinha um problema na circulação de sangue”, conta.

A contrário do pai, Tiago não precisou ser entubado e depois de sete dias na UTI, recebeu alta para o quarto. “Minha mãe cuidou da minha irmã, e colocou meu pai e eu no hospital. Quando eu voltei para Bom Retiro, ela estava baixada por causa do vírus. Foi muito difícil sair e estar com os dois (pai e mãe) internados.”

O pai de Tiago faleceu no dia 12 de março. Ele completou 64 anos dentro da UTI, no dia 27 de fevereiro. “Meu pai é meu herói, meu ídolo. Foi um grande policial aqui no município. Foram 30 e poucos anos de serviço e uma carreira linda. Me faltam palavras para dizer tudo que ele significou para mim e na profissão. Recebeu medalhas da Polícia Civil, de cidadão bom-retirense”, conta, emocionado. Tiago agradece a todos os profissionais da saúde que atenderam sua família nos dois hospitais.

Tiago com a mãe Aline, irmã Maitê e o pai Luís, que faleceu

 

Milton Fernandes: um amante da vida

Poucos casos eram registrados no município quando o radialista Milton Fernandes faleceu, no dia 18 de junho, após 12 dias de luta no Hospital Estrela. Ele foi um dos primeiros óbitos confirmados para a doença no município. “Não foi feito velório, pois o protocolo não permitia. Na cerimônia de cremação eram permitidas apenas dez pessoas. A dor da perda é difícil em qualquer situação, mas com a pandemia faltou o abraço dos familiares e amigos, que teria ajudado a confortar naquele momento. As mensagens pelas redes sociais foram o apoio necessário para, aos poucos, ir aceitando o ocorrido”, conta a esposa Néli Ferrari Weizenmamn.

Ela ainda reside em Estrela, na mesma casa. Conta que no início foi muito difícil voltar do trabalho e não estar sendo aguardada pelo esposo com um chimarrão. “Mas como o tempo ameniza quase todas as dores, a saudade também vai ficando mais suportável. Manter a mente ocupada com diversos afazeres ajuda muito. No meu caso, o falecimento coincidiu com as provas na faculdade e precisei fazer um grande esforço para cumprir com o que eu já tinha como objetivo, que era passar o semestre”, comenta.

Néli reforça que Milton era apaixonado pela vida, um pai maravilhoso e presente na vida dos filhos e netos, que eram sua grande paixão. “Ele amava viajar, estava sempre planejando a próxima viagem, tanto que algumas ficaram pendentes como a ida ao Chile, que foi interrompida pela chegada da pandemia, e o grande projeto dele que era fazer o caminho de Santiago de Compostela. Além da família, pode-se dizer que o Milton era apaixonado pelo rádio e pelo Inter. Também sempre tinha uma piada com o selo do tio Miltão, que animava os encontros com a família ou amigos.”

Néli e Milton Weizenmann: última viagem em março de 2020

 

Levados pela Covid-19

Secretário municipal de Estrela, Verno Arend morreu em decorrência da Covid-19 na manhã do dia 13 de março de 2021. Estava internado no Hospital Bruno Born, de Lajeado. Arend comandava a pasta de Desenvolvimento, Inovação e Sustentabilidade e era diretor da Longevitá. A esposa Ironi Arend também havia falecido no fim de fevereiro. Ambos partiram vítimas da Covid-19.

“Eu já havia feito a primeira dose da vacina e, logo em seguida, começou nossa triste e cruel trajetória. Fiquei uma semana dentro da ala de Covid-19 do HBB, correndo com o pai e a mãe. Enquanto segurava a mão do meu pai na maca indo para UTI, afagava os cabelos de minha mãe, sendo internada no quarto ao lado. Vi coisas e passei por situações que eu não desejo para ninguém”, contou a filha Andrea Arend Knijnik, numa rede social.

Ela destaca que não perde as esperanças e enfatiza a importância da vacina. “Fiquei em isolamento, trancada em hotel, longe da minha família. Sofri duplamente. Fiz todos os testes. Repeti inúmeras vezes até ter certeza que estava saudável. A vacina me ajudou. É nossa cura, ela funciona sim. Vamos todos superar esta crise juntos, temos que nos manter fortes!”

Verno e Ironi Arend

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