Jornal Nova Geração

PREVISÃO DO TEMPO

Vale pode presenciar chuva preta nos próximos dias

Frente fria que chegar à região traz precipitação misturada com fuligem dos incêndios florestais no país. Especialistas recomendam cuidados com ar contaminado

A condição do sol com tons alaranjados se dá pela interação dos raios solares com a fumaça originada nas queimadas florestais que chegaram ao RS. Quanto maior a inclinação dos raios, mais forte é a tonalidade. (Crédito da imagem: GABRIEL SANTOS)

Frente fria avança pelo estado e deve chegar ao Vale do Taquari sob fumaça, céu escuro e chuva preta. O fenômeno já foi percebido em municípios do RS, e se forma a partir da fuligem das queimadas na região norte, centro-oeste e sudeste do país, que se misturam com a chuva. Com previsão de temporais isolados para esta quinta-feira, 12, região pode presenciar chuva com coloração escura a partir de hoje.

Segundo a MetSul, ainda será possível sentir o odor da fuligem em algumas áreas do estado. O céu também pode intensificar a coloração alaranjada. A frente fria segue na sexta-feira, 13, e nos próximos dias parte do estado terá uma das maiores concentrações de fumaça de toda a América do Sul.

Professor e pesquisador do tema na Univates, André Jasper cita o sistema de “rios voadores” que trazem umidade da região amazônica para o sudeste e sul do Brasil, como um sistema que, combinado a outros fatores, atuou de forma intensa no regime de chuvas extremas ocorrido recentemente no RS.

Esse sistema, segundo o especialista, continua atuando e tem influenciado de forma expressiva no clima no estado. Enquanto em abril e maio deslocou grande quantidade de água do norte à região sul, agora traz a fumaça e a fuligem das queimadas que afetam a região amazônica, o Pantanal e o sudeste do Brasil.

Fenômeno se forma a partir da fuligem das queimadas na região norte e sudeste do país, que se misturam com a chuva. (Crédito da imagem: GABRIEL SANTOS)

Impactos da chuva

Segundo Jasper, como a atmosfera está impregnada de fumaça e fuligem, no momento da chuva, as gotas arrastam essas partículas, fazendo com que elas se precipitem junto com a água. Assim, o processo acaba limpando a baixa atmosfera e jogando todo o material nos recursos hídricos. O pesquisador afirma que o impacto nos recursos hídricos é variável, dependendo da quantidade de material precipitado e da capacidade de auto recuperação de cada um dos sistemas.

Em casos extremos, essa chuva escurecida pode reduzir a capacidade de fotossíntese das plantas na agricultura, por exemplo. Em geral, esse tipo de efeito ocorre quando a quantidade e o tamanho de partículas na atmosfera é excessiva.

“Na história recente do planeta, esse tipo de efeito foi registrado de forma localizada e esteve associado a erupções vulcânicas. No momento, não há indicativos de que o evento atual gere algum impacto desse tipo na agricultura”, afirma. Jasper complementa, no entanto, que com a chuva, a precipitação das partículas sobre cultivos expostos pode gerar um acúmulo microscópico, o que exigirá alguma atenção quanto ao consumo.

Até quando?

A tendência é que, com a chegada da chuva, as partículas se precipitem e a baixa atmosfera fique mais limpa. “Com os incêndios na região norte e no Pantanal perdurando, no entanto, é apenas uma questão de tempo para que o sistema de ‘corredor de ventos’ norte-sul traga novamente a fumaça e a fuligem para o Sul”, afirma Jasper.

Segundo o pesquisador, assim que voltar a chover na região norte, a tendência é que os incêndios diminuam e a quantidade de fumaça e fuligem carregada para o Sul também será menor.

Alerta à saúde

Com a camada de fumaça que paira na região, a médica pneumologista e professora da Univates, Bárbara Fontes Macedo, destaca a qualidade ruim do ar, com a presença dióxido de carbono, monóxido de carbono, dióxido de enxofre, entre outras substâncias prejudiciais e tóxicas ao organismo.

De acordo com a médica, esses materiais entram no organismo por via inalatória e atingem principalmente as vias aéreas. “Podem piorar as doenças que os pacientes já tenham, como asma, bronquite, rinite e enfisema, além de ocasionar crises alérgicas. Pacientes que nunca tiveram nenhuma doença podem vir a desenvolver também”. Bárbara ainda ressalta o risco aumentado de doenças cardiovasculares.

Nos grupos de maior risco, segundo a pneumologista, estão pessoas que já tenham doenças pulmonares e cardiovasculares, crianças e idosos. Entre os sintomas, estão a tosse seca e a falta de ar. Pacientes também podem apresentar chiado no peito, coceira nos olhos e nariz. Se os sintomas persistirem, a recomendação é buscar auxílio médico.

Especialistas ainda recomendam evitar a exposição à fumaça e beber bastante água. “O paciente também pode usar soro fisiológico para fazer limpeza nasal”, afirma Bárbara.

Recomendações

  • Se tiver sintomas respiratórios, busque atendimento médico o mais rápido possível;
  • Beber mais água e líquidos para manter o aparelho respiratório úmido e mais protegido;
  • Se possível, ficar menos tempo em ambiente aberto, durante o dia ou à noite;
  • Manter portas e janelas fechadas, para diminuir a entrada da poluição externa no ambiente;
  • Evitar atividades em ambiente aberto enquanto durar o período crítico de contaminação do ar pela fumaça.

Para pessoas com problemas cardíacos, respiratórios e imunológicos

  • Manter ao alcance os medicamentos indicados pelo médico, para uso em crises agudas;
  • Buscar imediatamente atendimento médico se apresentar sinais ou sintomas de piora das condições de saúde após exposição à fumaça;
  • Consultar o médico sobre a necessidade de mudar o seu tratamento
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